Por rafael.arantes

Rio - Atual campeã do Carnaval, a Vila Isabel vai com mudanças para o desfile deste ano. A escola trocou de carnavalesco, intérprete, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e de comando da bateria. Nos dois últimos anos, a Swingueira de Noel, como é conhecida a bateria da Azul e Branca, foi regida por dois mestres: Paulinho Botelho e Wallan Amaral. Em setembro do ano passado, foi oficializado o desligamento do veterano. A partir de então, o cargo passou a ser assumido somente por Wallan.

O maior desejo de Wallan é resgatar a identidade da bateria da Vila, que vive uma fase de transição. Em busca da nota máxima, fato que a Swingueira não consegue desde 2005 a bateria tem ensaiado às quartas-feiras e aos domingos e o mestre já vem conseguindo retomar este estilo. Além disso, a comunidade tem dado o apoio e o prestígio necessário para que o trabalho possa fluir do jeito almejado.

Mestre Wallan está pronto para sua estreia sozinho à frente da bateria da Unidos de Vila IsabelPawel Loj / Divulgação

"O meu grande sonho é colocar a bateria da Vila para tocar e ser reconhecida. A comunidade tem nos abraçado. Tenho recebido muito apoio e aprovação. Recebi uma carta de um senhor de idade, morador do bairro, que me desejava boa sorte e que dizia que há muito tempo não escutava a bateria tocando com tanta alegria. Antes de chegar na Sapucaí e mostrar para os jurados, eu quero primeiro mostrar para o bairro, para a escola, para os segmentos. Quando vejo as pessoas me tratando de uma maneira diferente é porque achei o tom. Graças a Deus consegui conquistar e envolver as pessoas com o ritmo da nossa bateria, que sempre foi reconhecida por tocar e não somente por fazer paradinhas. Os instrumentos juntos já são a atração", disse Wallan, que analisou o processo de transição de seus ritmistas.

"Hoje a escola olha o ritmista de uma forma mais respeitosa. A Vila Isabel tinha uma postura muito crítica para a bateria. Os ritmistas vinham sem camisa, a hora que quisesse. Agora não tem mais isso. Todos têm a responsabilidade de chegar no horário e uniformizado. Hoje temos uma sala, temos instrumentos novos e de qualidade", acrescentou.

A trajetória azul e branca do mestre

Wallan nasceu, foi criado e ainda vive no bairro de Noel Rosa, e pertence à família Amaral, apaixonada pela Unidos de Vila Isabel. Desde pequeno o samba o envolveu. Por causa de sua mãe Nancy (que foi passista e diretora das alas das crianças) e de seu tio, o mestre Mug, um dos maiores ícones da história da escola, que comandou a bateria de 1988 (ano do inesquecível “Kizomba, a Festa da Raça”) a 2009, se interessou por um segmento essencial nas escolas de samba.

“Comecei a pegar paixão pela bateria porque é o batuque que chama a atenção das pessoas. A bateria é sempre a princesinha. Em 1994, fiz meu primeiro desfile oficial como ritmista. Foi assim que comecei na Vila Isabel”, revelou.

Mestres Mug e Atila são as maiores inspirações para Wallan: 'Servem como exemplo para mim'Arte O Dia

Entretanto, o novo comandante nunca almejou o posto que exerce atualmente. Mug o convidou para trabalhar com ele em 2007 e já no ano seguinte o colocou como diretor. Para Wallan, seu tio seria eterno à frente da Swingueira, mas em 2009 teve que ser submetido a um cateterismo e saiu. Foi substituído pelo mestre Atila, que quis a presença de Wallan. Assim, a cria da Vila teve uma nova concepção de conduzir uma bateria.

“O Atila me ensinou a ter liderança, organização, concentração, responsabilidade e atenção com os ritmistas na hora do desfile. Para mim, foi um curso. O Mug e o Atila servem como exemplo. São dois monstros sagrados que tive a oportunidade de trabalhar. Passo tudo que aprendi com eles para a minha bateria”, exaltou.

Ao fim do carnaval de 2011, Atila foi dispensado. Wallan, por sua identificação com a escola, assumiu o cargo. Recebeu a companhia do veterano Paulinho, que teve importantes passagens por outras agremiações. A dupla permaneceu por dois carnavais e não teve o entrosamento esperado. Curiosamente, a bateria teve média 29,8 em 2012 e em 2013, quando foi campeã. Ou seja, não obteve notas máximas. Mesmo assim, Wallan ressaltou a importância da parceria.

Rainha Sabrina Sato e Mestre Wallan vão trabalhar juntos pelo terceiro ano seguido à frente da bateriaDivulgação

“Eles (a diretoria) viram que eu passei por dois mestres (Mug e Atila) antes de chegar ao posto. Por segurança, trouxeram o Paulinho, que é um grande nome. Sou fã dele por tudo que fez no carnaval. As nossas diferenças eram naturais, mas chegávamos a um consenso. A parte rítmica, de certa forma, não tinha grandes diferenças. Eu trabalho hoje do mesmo jeito que trabalhei com ele.”, comentou.

Preparação para o desfile de 2014

A diretoria decidiu pela saída de Paulinho e deixou somente Wallan para reger os 275 ritmistas. Aos 34 anos, o sambista sabe da responsabilidade de comandar a Swingueira. Mesmo com a grande responsabilidade ele afirma estar preparado para o desfile e explicou as origens do lema da Swingueira, implementado para o Carnaval de 2012: Uma Bateria, Um Som. 

“Estou preparado, seguro. Os ritmistas me mostraram que não tenho o que temer. Eles estão comigo e com a escola. Quando criei essa nossa filosofia, pensei: se todos tocarem de uma maneira responsável, vai funcionar. Eles abraçaram a ideia e fomos trabalhando da melhor forma possível. Todos sabem o que fazer em equipe e hoje temos uma bateria familiar. Queremos cumprir com lucidez nossa missão na Avenida. Além disso ainda temos um grande samba e um intérprete sensacional, que é o Gilsinho. Ele é muito bom. Um grande músico, que sabe e entende sobre tudo, até no andamento ele nos ajuda muito”, declarou Wallan.

O mestre convidou para trabalhar com ele pessoas que assimilaram bem a forma como tem guiado a bateria da Vila. Ele fez questão de exaltar sua equipe, que foi renovada para o Carnaval deste ano.

“Além dos ritmistas, conto com Marcos Peçanha, Cleber Pastor, Claudio e Thiago Medina, o famoso Gegê, na administração; com Alan e Marcão, na afinação; Macaco Branco, Rafael, Mangueirinha, Alex, Maninho e Junior Ratão na parte média; e Paulo Henrique, Anderson Cirilo, e Klebinho Coxinha na parte grave; além de Amadeu Amaral, o mestre Mug, nosso presidente de honra”, exaltou o regente da Swingueira.

Wallan mostra confiança em seus ritmistas e garante que a Swingueira está pronta para o desfile deste anoDivulgação

Outro detalhe citado pelo mestre foram as alterações técnicas. Wallan analisou as questões rítmicas estudadas junto com sua diretoria e afirmou que o objetivo maior é conseguir manter o mesmo andamento durante o desfile, tal como é pedido pela diretoria da escola. Para isso, uma nova equalização dos instrumentos foi preparada.

"A bateria da Vila passou por um grande processo. Temos uma equalização distinta dos nossos instrumentos. Antigamente havia uma diferença muito grande até na quantidade de graves. Hoje temos uma outra divisão rítmica, até pelo método de estudo feito pela nossa direção. Tudo foi decidido diante de um cálculo, um estudo. Temos algo mais igualitário e que nos ajuda a conseguir manter o mesmo andamento durante toda a apresentação. Quando a bateria da Vila toca sozinha ela tem o costume de se apresentar num andamento mais leve, mais lento. Já com o samba, nós seguimos a determinação da direção de Carnaval para sustentar o desfile como eles pedem", comentou.

Sem pensar no futuro, mestre exalta amor pela Vila

Evitando pensar no futuro, Wallan descarta a ideia de comandar outra bateria. Com os olhos voltados totalmente para a Azul e Branca, o mestre garante que o desejo é o de defender apenas o pavilhão da sua escola do coração. Ao lado de seu amuleto especial, o filho Tiago, de um ano e seis meses, o comandante admitiu que o trabalho também é cansativo.

"Se eu sair da Vila, prefiro ficar um tempo sem ficar à frente de nenhuma escola. Prefiro ter um tempo para curtir meu filho, para minha família. Ainda não dei a atenção ao meu filho da maneira que ele merece. Bateria tira muito tempo de você, é desgastante", admitiu Wallan, que ainda brincou:

"Espero que meu filho siga os passos da mãe. Ser mestre de bateria dá muito trabalho".

Filho de Wallan, Tiago%2C de um ano e seis meses%2C é o amuleto do regente e dos componentes da bateriaPawel Loj / Divulgação

A Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval, dia 03 de março. A escola vai em busca do bicampeonato (sendo o possível quarto título da história da escola) com o enredo "Retratos de um Brasil plural", do carnavalesco Cid Carvalho.


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