Por thiago.antunes

Rio - Ainda sob efeito das notas baixas recebidas em vários quesitos — que deixaram a Beija-Flor fora do desfile das campeãs amanhã —, o diretor de Carnaval Luís Fernando do Carmo, o Laíla, admitiu ontem que pensa em deixar a escola. Em reunião com a direção da Azul e Branca de Nilópolis, sobre os problemas enfrentados com o julgamento do desfile. afirmou ao patrono Anísio Abraão David que quer descansar e ‘pendurar as chuteiras’ ainda este ano.

“Estou a fim de dar uma parada, estou cansado. Jamais pensei que fizessem uma maldade dessas. Nilópolis está chorando. Acho que estou incomodando há muito tempo e não tenho o direito de prejudicar a comunidade. As pessoas estão me enviando pedidos para pensar direito, mas tenho que saber o que fazer. A ficha ainda está caindo”, disse Laíla.

Boni%2C Neguinho da Beija-Flor e Laíla na gravação do CDIrapuã Jeferson / Divulgação

Ele acusou os jurados de direcionarem as notas baixas à agremiação. “Comparamos e algumas são iguais às do ano passado. Foi direcionado para a Beija-Flor, Grande Rio e São Clemente. Não pode dar 9.8 em Alegoria e Fantasia para a Beija-Flor e 10 para a Vila (que desfilou sem parte das roupas). É uma desmoralização. A escola ainda está esperando as justificativas dos jurados, mas só me interessa se lá estiver escrito ‘sacanagem’”, criticou.

O diretor da Beija-Flor ressaltou que é preciso mudança na escolha dos jurados e que eles podem ter ‘se deixado levar’ pelo enredo da escola, que fala sobre o ex-diretor da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. “Não sei de onde partiu essa maldade com a escola. Qual a credibilidade que posso ter ano que vem, com esses mesmos jurados? A gente não tem nada a ver com a Globo. Mas fizemos o enredo sobre uma pessoa, não sobre a TV”.

Beija-Flor%2C que homenageou Boni em seu enredo%2C apresentou fantasias com acabamentos adequados%2C mas teve notas semelhantes à escola que desfilou com roupas de baixoAndré Mourão / Agência O Dia

Uma nova reunião da diretoria, prevista para quarta-feira, vai decidir o futuro da Beija-Flor e de um dos mais prestigiados carnavalescos da atualidade. Entre idas e vindas, Laíla completará ano que vem 20 anos na escola desde seu último retorno, em 1995. De lá para cá, fez enredos memoráveis. Mas, mesmo na derrota, admitiu a sua parcela de culpa nos erros. “Sugeri ao coreógrafo que unisse com a comissão e ele chegou à conclusão que dava para fazer. A responsabilidade pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira foi minha”.

Jurada não explica por que deu nota dez a escola com alas sem fantasia

A jurada Helenise Guimarães, que deu nota 10 para as alegorias da Vila Isabel mesmo com a escola desfilando com alas descaracterizadas, preferiu não se pronunciar. Helenise limitou-se a dizer que a jusficativa será dada apenas para a Liesa, e ficará disponível na internet. “Prefiro não comentar. Tudo estará online daqui a alguns dias. Estas coisas são assim mesmo”, disse a jurada.
Segundo a mãe da jurada, Denise Garcia Monteiro, ela pode ser punida, caso se manifeste publicamente a respeito das notas que aplicou no desfile do Grupo Especial.

“Se ela falar, vêm em cima dela. E ela tem uns 20 anos de Avenida, é formada em Belas Artes, tem mestrado e doutorado em Carnaval. Eu também não vi o que aconteceu. Sempre tiro fotos das alegorias para ajudá-la”, contou Denise, assustada com a repercussão.

Ala que viria de água-viva na Vila não recebeu as fantasias e desfilou com o que iria usar por baixo%2C mas as notas do quesito foram muito boasAndré Luiz Mello / Agência O Dia

O presidente da Vila Isabel, Wilsinho Alves, pediu desculpas à comunidade pelo Facebook e culpou o Instituto Chico Mendes, por não ter honrado o patrocínio que teria acertado com a agremiação. Wilsinho prometeu anunciar ainda este mês o enredo da Vila Isabel para o próximo Carnaval, desta vez, com patrocínio garantido e sem risco de um novo vexame. Em décimo lugar, a campeã de 2013 não desfilará no sábado.

Guerra do tráfico sepulta o sonho de escola rubronegra na Avenida

A falta de fantasias e adereços prejudicou escola no Grupo B. Em seu primeiro ano, a Império Rubro-Negro desfilou para cumprir regulamento, com 50 integrantes e sem alegorias, e levou um banho de notas baixas, com muitos zeros, acabando rebaixada do Grupo B para o C. O problema principal não foi a falta de verbas e sim a guerra do tráfico na Praça Seca, que interferiu diretamente nos preparativos da escola, que deixará de existir como Império Rubro-Negro.

Localizada no Ipase, na divisa das comunidades da Chacrinha, dominada pela facção Amigos dos Amigos (ADA), e do Bateau Mouche, área do Comando Vermelho (CV), a agremiação se viu em meio à disputa pelo controle do tráfico, agravada por remanescentes da milícia que dominava a região. Com isso, os ensaios ficaram comprometidos.

“Toda vez que marcávamos em algum lugar tinha problema de briga ou tiroteio”, afirmou o presidente, Raphael Rodrigues, que também é mestre-sala da Mangueira. Além dos seguidos confrontos, traficantes teriam invadido o local onde está sendo construída a quadra da escola, para fugir de confrontos com outros bandidos ou da polícia. Criminosos também ameaçavam alguns dos moradores que participavam da escola devido à rivalidade de facções.

Ainda há ingressos à venda para o desfile das campeãs

Ainda dá tempo de assistir de perto o desfile das campeãs amanhã. Há ingressos para arquibancadas especiais de todos os setores e os valores variam de R$ 130 a R$ 200. A venda está sendo feita no posto avançado da Liesa, atrás do Setor 11, no acesso pela Avenida Salvador de Sá, das 10h às 16h de hoje e das 10h à meia-noite de amanhã.

A festa das campeãs no Sambódromo começa às 19h, com apresentações da Companhia de Ballet para Cegos Fernanda Bianchini, atração da ONG Embaixadores da Alegria, e do desfile da Escola Municipal Professora Mariza Azevedo Catarino, de São João de Meriti, que trará crianças autistas. Às 21h, entra a sexta colocada, Grande Rio, seguida da Imperatriz, União da Ilha, Portela, Salgueiro e da grande campeã, Unidos da Tijuca.

As interdições no trânsito começam a partir da meia-noite de hoje, com o bloqueio das duas pistas centrais da Avenida Presidente Vargas. Amanhã, às 13h, o acesso à Presidente Vargas, a partir da Praça da Bandeira, e o entorno do Sambódromo serão fechados. O metrô funcionará ininterruptamente das 5h de amanhã até as 23h de domingo.

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