Por daniela.lima
Luis Pimentel%3A Essas mulheres musicais...Divulgação

Rio - Eu disse a Doralice que, ao contrário do que diz o samba, o amor não é tolice, bobagem, ilusão; que tudo vale a pena se a alma não é pequena, e ela perguntou se eu tinha algo de meu a dizer além das citações baratas.

Encontrei a Tereza na praia de Copacabana e disse que ela não era de ninguém, nem do Tom nem do Billy nem do Lúcio, mas que seria minha nem que para isso eu tivesse que remover montanhas. Tereza olhou distraída para aquelas pedras que parecem mergulhadas no mar do Leme e perguntou:
“Você é bobo assim mesmo ou só aos domingos?”

Quando esbarrei com a Nega Luzia, ela acabara de sair de cana e de um samba do Wilson Batista. Falou rapidamente comigo na Mem de Sá, na porta de um cabaré onde se apresentava uma tal de Dolores Sierra, protegida sua, e disse que iria ao encontro de uma Balzaquiana jeitosa na esquina de Gomes Freire. Disse que de vez em quando ainda recebia um Nero e incendiava o morro, e que nem Madame Satã apagava o seu fogo.

Carolina tinha os olhos fundos e um ar de quem está sempre com dor de barriga ou cólicas ou azia. Fomos num sábado a Paquetá tomar umas com Flavinho, Ize, Ricky, Ana Pinta, Jorge Roberto, Mello Menezes e Cristina Buarque. Começou a misturar conhaque com cerveja e a chamar a irmã do Chico de “cunhadinha”.
Na despedida, Cristina me pediu:

“Traz mais não. É chata pra cacete.”
Cantarolei para Isabel que enquanto a redentora aboliu a escravidão, ela, pecadora, escravizava o meu coração sofredor. Gemeu “que coisa mais linda” e perguntou se eu era poeta. Eu disse que não, que o poeta era Geraldo Pereira, e ela perguntou: “Quem?” Resmunguei: “Esquece, Isabel, esquece” e a coitadinha choramingou, fungou um pouquinho (nada mais triste do que uma princesa com coriza) e disse “os homens são todos iguais”.

Da mesa onde saboreava o peixe frito bem regado, em companhia de Celio Albuquerque e Moacyr Luz, na André Cavalcanti, vi Madalena com os cotovelos no balcão (gesto nada feminino, mas que nela parecia sublime). Cantarolei “Madalena, o meu peito percebeu...” e ela torceu o nariz. Tentei “Madalena, você é bem meu querer...” Ela perguntou seu eu já ouvira falar em Bob Dylan e saiu mastigando a versão do Fausto Nilo, com aquele sotaque do Fagner.

Encontrei a comadre Sebastiana e ela me convidou para comer uma buchada na Feira de São Cristóvão. Disse que não dançava mais xaxado nem aqui nem na Paraíba (probleminha nos ossos) e perguntou se eu já tinha aprendido a “pegar mulher” ou se continuava “o desajeitado de sempre, apesar de velho”.

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