Por thiago.antunes

Rio - Aos 81 anos, o compositor da Velha Guarda Zé Katimba foi o grande vencedor do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, na noite de domingo, na quadra da escola na Zona Norte. Com mais quatro parceiros, o músico, que participou da fundação da escola aos 16 anos, vai defender na Sapucaí o enredo “Axé, Nkenda! Um ritual de Liberdade - E que a voz da Igualdade seja sempre a nossa voz”, do carnavalesco Cahê Rodrigues.

Com a festa da Verde e Branco, que levará para a Avenida o samba preferido da comunidade sobre a luta de Mandela, chegou ao fim a maratona de escolhas dos sambas de enredo para o carnaval de 2015. Além da escola de Ramos, outras três agremiações _ a atual campeã Unidos de Vila Isabel, Unidos da Tijuca, Mocidade Independente de Padre Miguel _definiram o samba no último fim de semana.

Atual campeã%2C a Unidos da Tijuca escolheu o samba no fim de semana%2C no enredo ‘Um conto marcado no tempo — o olhar suíço de Clóvis Bornay’Ag. News

A disputa pelo hino das escolas lotou as quadras. O Salgueiro escolheu pela segunda vez a composição de Xande de Pilares, que vai cantar o enredo ‘Do Fundo de Quintal: saberes e sabores na Sapucaí’, dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage.

Na Portela, o samba de enredo campeão ficou com outro veterano, Noca da Portela, também com 81 anos, emais quatro compositores, que vão exaltar no Sambódromo o aniversário de 450 anos da Cidade Maravilhosa.As atenções agora se voltam para a Cidade do Samba, onde foi montado estúdio de som, onde as 12 escolas do Grupo Especial farão as gravações do CD do Grupo Especial, que estará nas ruas até fim de novembro.

Confira as letras dos sambas que vão sacudir a Sapucaí

- Viradouro -  ‘Nas veias do Brasil, é a Viradouro em um dia de graça!’

Os negros  / Trazidos lá do além-mar / Vieram para espalhar / Suas coisas transcendentais / Respeito / Ao céu, à terra e ao mar / Ao índio veio juntar / O amor à liberdade
A força de um baobá / Tanta luz no pensar / Veio de lá / A criatividade/
Em cada palma de mão, cada palmo de chão /Semente de felicidade / O fim de toda a opressão, o cantar com emoção / Raiou a liberdade / Tantos o Preto Velho já curou / A Mãe Preta amamentou / Tem alma negra o povo / Os sonhos tirados do fogão / A magia da canção / O Carnaval é fogo / O samba corre / Nas veias dessa pátria-mãe gentil / É preciso atitude / De assumir a negritude/ Pra ser muito mais Brasil / Ôôôô, ôôôô, ôôôô Brasil

- Portela - ‘Imaginário, 450 janeiros de uma cidade surreal’

Oh, meu Rio/ A Águia vem te abraçar e festejar/ ‘Feliz Cidade’ sem igual/ Paraíso divinal/ E eu ‘daqui’ feito ‘dali’/ Em traços te retrato surreal/ A natureza lhe foi generosa/ Na Guanabara ‘formosa mulher’/ Despertou cobiça, beleza sem fim/ ‘Delícias’ de um ‘nobre Jardim’
Eu vi o ‘Menino do Rio’ versar
Um lindo poema/ Para impressionar a ‘Princesinha do Mar’/ Sonhando com a ‘Garota de Ipanema’/ Vem amor, a Lapa dá o ‘Tom’ pra boemia/ Vem amor, a nave da emoção nos contagia/ Lá vem o trem chegando com o povo do samba/ Lá vai viola, o batuque só tem gente bamba/ Tão bela! Orgulhosamente a Portela/ Vem cantar em seu louvor ô ô ô ô/ ‘Central’ do meu Brasil inteiro/ Morada do Redentor
Sou carioca, sou de Madureira/ A Tabajara levanta poeira/ Pra essa festa maneira meu bem me chamou/ Lá vem Portela malandro, o samba chegou

Grande Rio -  ‘A Grande Rio é do baralho’

O jogo começou/ Sou eu que dou as cartas na Avenida/ E nessa disputa de poder/ Eu não quero saber, vou jogar pra vencer/ Sou ‘Rei’, venha ser a minha ‘Dama’/ No castelo de quem ama/ Sou teu ‘servo’, minha linda flor/ A surpresa está na manga/ Meu trunfo de maior valor/ Pra saber o meu destino... Fui buscar/ A resposta no tarô e encontrei o amor/ A chave para abrir o meu caminho/ Num raiar de um novo dia a cigana revelou/ Estrelas me guiam à luz do luar/ Além dos mistérios eu vou viajar/ A ‘água’ da ‘terra’ eu vejo brotar/ O ‘fogo’ ardendo envolto no ‘ar’/ O meu amanhã como posso saber?/ Chegou minha hora eu não posso perder/ De um jeito esperto, num lance incerto/ A última carta vai surpreender/ Canta Caxias, o meu coringa é você/ Eu vou na ginga, jeito malandreado/ Vem cá, menina, começou o carteado/ Se você veio ver, então vamos jogar/ Chegou Grande Rio... Pode apostar!

- São Clemente - ‘A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Pereira, da Tocandira e da Onça pé de boi’

Chega mais.../ Mas vem sem medo, hoje é Carnaval/ Artista brasileiro genial/ E nem Matinta Pereira hoje vai lhe calar/ Vem bicho brabo e onça sambar/ Clementiano é fiel não/ abandona/ Vem pra folia Fernando Pamplona/ De Rio Branco a Rio Branco aprendeu/ Se encantou com esta festa popular/ E quando foi julgador o desfile atrasou/ Seu coração salgueirou/ Zambi é Zumbi, Chica da Silva mandou... ôôôô/ Exaltando o negro pro mundo inteiro cantar/ Pega no ganzê, pega no ganzá/ Idealista, grande vencedor/ Fez o desfile ganhar outra dimensão/ Choveram críticas, meu professor/ Junto aos confetes e alegria do povão/ Hoje, sua herança desfila aqui/ Lindo girassol começa a se abrir
É o mestre/ Que segue o astro rei lá no infinito/ O céu ficou ainda mais bonito/ Todos querem aplaudir/Vem que a festa é da gente/ Meu orgulho, São Clemente/ Ao gênio maior da Avenida/ Canta Zona Sul, feliz da vida

- Unidos da Tijuca -  ‘Um conto marcado no tempo — o olhar suíço de Clóvis Bornay’

Carnaval/ Eterna é nossa união/ Que bom voltar/ Pra reviver esta emoção/ Quem dera com o meu pai reencontrar/ Tantas histórias encantadas/ Se fez o sonho e não quero acordar/ Seres alados, castelos erguidos
Sopro gigante, herói destemido/ Nos montes de neve um anjo a proteger/ Melhor amigo que o homem pode ter/ Gira mundo no tempo, Templo da Invenção/ Tudo cabe no bolso ou na palma da mão/ ‘O som da caixa’/ Jóia de valor/ Quem procura acha, a senha do amor
Novo tempo/ Relativa idade do conhecimento/ Brilhante pensamento/ Explica a vida em todas as direções/ Sábia mente, a hora voa com o viajante/ Brilha o sol num instante/ Aquecendo tantas gerações/ Hoje eu vejo que o ontem/ É o aprendizado para o amanhã/ Suíça, em tua História a inspiração/ Com teus sabores na Avenida/ Quebrando o gelo, lá vem o Pavão/ Deixa o dia clarear Tijuca/ Tá na hora a gente vai à luta/ O relógio disparou, alô gente bamba/ Vai pro Borel o Prêmio Nobel do Samba

- Imperatriz - ‘Axé, nkenda! um ritual de liberdade e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz!’

Foi um grito que ecoou, ‘Axé-Nkenda’!/ A luz dentro de você... Acenda!/ Nada é maior que o amor, entenda/ A voz do vento vem pra nos contar que na Mãe África nasceu a vida/ Pura magia, ‘baobá’ abençoado... Tanta riqueza no Triângulo Sagrado.../ Mistérios! Grandeza! O homem em comunhão com a natureza!/ Tristeza e dor, na violência pelas mãos do invasor/ E o mar levou.. Nossa cultura um Novo Mundo encontrou/ Põe pimenta pra arder, arder, arder!/ Sente o gosto do dendê, o iaiá, oyá/ Tem acarajé no canjerê, tem caruru e vatapá (é divino o paladar)/ Capoeira vai ferver! Vem ver! Vem ver!/ Abre a roda que ioiô quer dançar.. Sambar../ Traz maracatu, maculelê.. É festa até o sol raiar/ Liberdade! Sagrada busca por justiça e igualdade/ E com arte eu semeio a verdade/ O despertar para um novo amanhecer/ Faço brotar a força da esperança/ Deixo de herança um novo jeito de viver!/ Vamos louvar o canto da massa/ Unindo as raças pelo respeito/ Vamos à luta pelos direitos/ Uma ‘banana’ para o preconceito/ ‘Mandela’! ‘Mandela’!/ Num ritual de liberdade/ Lá vem a imperatriz! Eu vou com ela/ Eu sou ‘Madiba’! Sou a voz da igualdade

- Mangueira - ‘Agora chegou a vez vou cantar: mulher da Mangueira, mulher brasileira em primeiro lugar’

Oh, Divina Dama!/ Em cada alvorada te agradeço/ Quando me lembro dos meus tempos de criança/ Sinto tanto orgulho deste chão.../ Cercado pelo verde da esperança/ Vovó guiava minha imaginação/ Descendo o morro entre becos e vielas/ Vejo a primavera desabrochar/ Um mar de rosas perfumando a Passarela/ Deixa a Mangueira passar/ Ora yê yê... Vem, Menininha!/ Entra na roda, quero ver você girar/ Ê ê girar... Baiana, gira/ A Mãe do Samba dança pro seu Orixá
É tão bom ouvir As Pastorinhas/ Ao som de doces melodias/ E as estrelas da nossa canção/ Linda... Na beleza tem poesia/ A Rainha veste a magia/ Das flores em nossa Estação/ Brilha... A porta-estandarte/ Revelando toda arte/ Num bailar que não tem fim/ Desperta, amor!/ Pra ver a Neuma na Avenida/ O povo aplaude Dona Zica/ Sagrado Verde e Rosa nessa história/ Glória... A essas divas tão guerreiras/ A nossa Maria não é brincadeira/ É raça, é fibra, é jequitibá!/ Eu vou cantar a vida inteira/ Pra sempre Mangueira, tem que respeitar!/ Eu vou cantar a vida inteira/ Mulher brasileira em primeiro lugar

- União da Ilha - 'Beleza pura’

Floresceu… desabrochou uma explosão de cor/ Bem-vinda, oh mãe natureza/ Transformando, esbanjando formosura, é beleza pura/ Vem no tempo vai no vento, quem vai julgar/O povo sempre deu um jeito de se enfeitar/Cada um é tão bonito quanto possa imaginar/Sou sambista, minha arte é universal/O que importa é estar na moda, na avenida principal/Me visto de ilusão, transbordo de emoção sou chique estou no Carnaval/Lá vem ela toda prosa, gostosa fiu, fiu/A beleza tá no seu interior nos olhos de quem vê/No verdadeiro amor/Diga espelho meu no swing dessas feras/Tem mais bela do que eu? ele respondeu:/No reino encantado, quem nasce pra brilhar,/Jamais se apagará/Mamãe tô forte e tenho sorte/Meu charme é passaporte para ser superstar/Eu tô na tela da TV sou a cara da riqueza/Tiro foto de mim mesmo eu só quero aparecer/Vim sem nada pra vida, nada vou poder levar/O meu destino diz, que eu serei feliz/A ilha chegou, a festa começou/O show é da comunidade/Sem desmerecer ninguém, sou a mais linda encantando a cidade

- Salgueiro -  'Tem amor nesse tempero'

Tem amor nesse tempero... Salgueiro / Esse ‘trem é bom demais’/ Vem dos tempos dos meus ancestrais/ Foi o índio que ensinou / Com sua sabedoria / O jeito de aproveitar, tudo que a terra dá no dia a dia/ É de dar água na boca, se lambuzar / Visitar o paraíso... e sonhar/ O danado desse cheiro sô... ô sinhá / Atiçou meu paladar... ô sinhá / Já bebi uma ‘purinha’ vim sambar na academia / E não quero mais parar... ô sinhá / O ouro desperta ambição / Da fome nasce a criatividade / O branco, o negro e seus costumes
Trazendo muito mais variedade / Um elo em comunhão / E a culinária virou arte e tradição/ É no tacho... na panela... mexe com a colher de pau/ Saberes e sabores lá do fundo do quintal/ Peço a Nossa Senhora pra não deixar faltar / É divina... que delícia... pronta pra saborear/ Prepara a mesa bota a fé no coração / Numa só voz vai meu samba em louvação / É o meu Salgueiro com gosto de quero mais / Oh Minas Gerais!

- Mocidade -  ‘Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só restasse um dia?’

Você, o que faria/ Se o mundo fosse acabar e só lhe restasse este dia pra viver?/ Ver tudo ruir, a terra tremer!/ O chão se abrindo aos seus pés/ A profecia vai acontecer!/ Vem.. é o juízo final!/ Viva.. o amanhã não vem mais!/ Solte... toda alegria!/ libere a sua fantasia!/
É de enloquecer amor../ É contagem regressiva/ Eu já tô louco, sou Vintém, sou Padre Miguel!/ Cada segundo vou curtindo a vida!/ A hora é essa.. não há mais tempo a perder/ Não tem limites.. diga o que vai fazer?/ De novo voltar ser criança?/ De bem com os amigos.. brincar?/ Andava pelado?/ Iria pro shopping ou malhar?/ Sem restrições morrer de amor?/ Faria a tristeza sumir?/ Na batida do tambor.../ roda baiana.. cai nesta folia!/ De verde e branco vem com a bateria!/ Invade... se joga.. na felicidade/ Fazendo a vontade do seu coração/ Hoje é o dia.. vem se ‘acabar’/ Deixa a mocidade te levar!

- Beija-Flor - ‘Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade’

Vem na batida do tambor/ Voltar na memória de um griô/ Fala cansada, mãos calejadas/ Ouça o menino beija flor…/ ceiba, árvore da vida/ Raízes na verde imensidão/ Na crença de tribos antigas/ Força e povoada nesse chão/ O invasor singrou o mar/ Partiu em busca de riquezas/ E encontrou nesse lugar/ novas índias, outras realezas/ Destino trocado, tratado se faz/ Marejam os olhos dos ancestrais/ Negro canta, negro clama/ Liberdade!/ Sinfonia das marés/ Saudade!/ Um africano rei que não perdeu a fé/ Era meu irmão, filho da Guiné!/ Formosa, divina ilha/ testemunha dos grilhões/ Eu vi a escravidão erguer nações/ Mas a negritude se congraça/ A chama da igualdade não se apaga/ Olha a morena na roda e vem sambar/ Na ginga do balélé, cores no ar/ Dessa mistura vem meu axé…/ Canta brasil! dança guiné!/ criança! levanta a cabeça e vá embora!/ No mar que trouxe a dor/ Riqueza aflora/ Tens uma família agora!/ Quem beija essa flor não chora/ Sou negro na raça, no sangue/ e na cor/ Um guerreiro beija flor/ Oh minha deusa soberana!/ Resgata sua alma africana.

- Vila Isabel - ‘O maestro brasileiro na Terra de Noel...Tem partitura azul e branca da nossa Vila Isabel’

O envolvimento suave da batuta/ Com a poesia do povo de noel/ Em sintonia o mestre/ e seus movimentos/ E o samba de vila isabel/ Tá na sua regência/ A doce magia e a inspiração/ Pra gente tocar feliz/ O clássico na mais pura raiz/ Mais cordas, metais/ A valorizar as notas musicais/ Traz o sopro de paz/ eu quero curtir o guarani/ Na arte retratos da vida/ O amor de ceci e peri/ Viver é amar e sonhar/ No som do ‘menino brasil’/ O ‘canto do uirapuru’/ Villa Lobos a emocionar/ Seguem no compasso a swingueira/ Orquestra brasileira, o balé/ bailam passista, porta bandeira/ E a bailarina na ponta do pé/ Solto então a voz na canção/ Que emociona a todos nós/ Dignidade de volta pro ninho/ Isaac e martinho dão o tom/ No ar a mais bela sinfonia/ É de arrepiar/ Comunidade unida a cantar/ Renasce num sonho lindo/ A vila de novo sorrindo/
E a música vem brindar

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