Por nicolas.satriano
Trupe com 12 acrobatas da Favela do Aço vai evoluir em alegoriaMaíra Coelho / Agência O Dia

Rio - A Imperatriz vai abrir passagem para o passinho do funk. A dança da moda vai se misturar ao samba e estará presente no primeiro setor do desfile da escola, à frente do carro abre-alas. Oito jovens do Morro do Andaraí estarão no meio de 96 componentes da ala Zulu e vão fazer os passos do batidão, pelo menos 40 vezes na Avenida. A Verde e Branca também prepara outras surpresas com o seu enredo ‘Axé Nkenda’, como o número circense em uma alegoria comandado por acrobatas de uma comunidade de Santa Cruz.

A ideia de misturar funk ao samba é do coreógrafo Fábio Batista, fundador do projeto cultural ‘Pode-C’ no Morro do Andaraí. Quando ele recebeu a missão de ensaiar uma ala sobre Zulu, típico povo da África, o funk veio logo à cabeça. “Depois de muitas pesquisas, vi que o passinho tem muitos traços da dança africana. Na hora, decidi chamar os meninos do funk para desfilar”, explicou Fábio.

Durante o desfile, o grupo do passinho vai fazer a coreografia toda vez que o samba-enredo chegar no segundo refrão. “Neste momento a bateria faz um som parecido com o do tamborzão no funk. Tenho certeza que o público vai adorar”, completou o coreógrafo. Os dançarinos do passinho aprovaram o novo estilo. “No início, foi um pouco estranho para acompanhar, mas a galera já pegou o jeito”, contou o dançarino Reinaldo dos Santos, de 22 anos, que é do grupo de passinho há 10 anos.
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Outra mistura promete impressionar no desfile da Imperatriz. No carro sobre exaltação ao negro, 12 acrobatas farão um número de circo numa estrutura de ferro. “Eles estão ensaiando na alegoria há 3 semanas. O impacto visual deles no carro ficará incrível”, garantiu o coreógrafo Leonardo Senna. Outros sete acrobatas do mesmo grupo de Santa Cruz foram selecionados para uma ala de perna de pau.

A inspiração para o ‘Axé Nkenda’ veio dos sucessivos casos de racismo, sofridos principalmente pelos jogadores de futebol. Para sair do óbvio no enredo que fala da África, a Imperatriz aposta nas cores. “Nosso conceito africano é mais pop e terá muito colorido”, contou o carnavalesco Cahê Rodrigues. Nelson Mandela será o grande homenageado, com uma alegoria que terá 8 metros de altura.


Bailarinos da favela no lugar dos clássicos e contemporâneos

Acostumada a ter bailarinos de grandes companhias em seu desfile, como os do Cirque du Soleil, neste ano, a Imperatriz resolveu dar a chance a integrantes de um projeto social da Favela do Aço, em Santa Cruz . “Vi o potencial deles e resolvi trazer para a escola de samba. Está sendo muito mais prazeroso trabalhar com essa galera. Com grandes artistas sempre têm aquela ganância de aparecer e, com eles, é tudo feito com mais amor e garra”, declarou a coreógrafa Kelly Siqueira.

“É a grande chance de sermos vistos. A Zona Oeste nunca teve oportunidade numa grande escola”, comemorou o acrobata Jonathan Rodrigues, um dos idealizadores do projeto Acaps, em Santa Cruz. O grupo ensaia os números circenses numa praça improvisada dentro da comunidade.
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Nas horas vagas, os 12 acrobatas assumem a função de barraqueiros na Praia do Leblon. “É a forma que encontramos de ganhar dinheiro nas férias. Temos que manter nosso projeto”, completou Jonathan.
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