Por daniela.lima
Os amigos Eric Esteves e Nathália Simões (de preto) brincam com a amiga e cliente Jéssica CerqueiraMaíra Coelho / Agência O Dia

Rio - Minha carne é de Carnaval e meu fígado é igual. Nos quatro dias de folia, até os drinques e quitutes — que são vendidos pelos blocos e ruas da cidade para amenizar a fome, matar a sede e refrescar os foliões que passam o dia inteiro de bloco em bloco — entram em clima de festa. Dando uma volta, encontra-se de tudo: Brigadeiro da Sabedoria, Sanduíche Salva-Larica, Chandonlé (sacolé de Chandon) e tem até Sapolé, a mistura irreverente de sapatão com sacolé. 

A ideia de quem se aventura nesse tipo de negócio é quase sempre a mesma: vender algum drinque ou comidinha e fazer uma graninha para financiar a própria folia. Enquanto aproveitam os blocos, esses foliões empreendedores (e com jeito para a cozinha) faturam no lugar de gastar. A maioria prefere investir em receitas alcoólicas, já que o Carnaval é aquela época em que muitos pensam que cachaça é, sim, água.

Foi assim que surgiu o Sapolé. “A gente queria aproveitar o calorão para vender sacolé. O primeiro evento em que vendemos foi o Isoporzinho das Sapatão, que foi um encontro de meninas lésbicas que aconteceu na Praça São Salvador, em Laranjeiras. Aí, para diferenciar, pensamos em um nome mais de acordo, o Sapolé, que mistura sapatão com sacolé. Fizemos uns 50 e vendemos todos muito rápido! No Carnaval, estamos indo a lugares onde tem mais esse público”, contam os amigos Eric Esteves, 24 anos, e Nathália Simões, 21, que criaram a guloseima.

Os dois garantem que se divertem muito vendendo. “É legal, porque o nome chama as pessoas. Não é só chegar, comprar e tchau. As meninas riem, brincam, conversam”, contam. Os sacolés (que custam R$ 4 e vêm em sabor caipirinha, cosmopolitan, cuba livre e jambu) são vendidos em um isopor com formato de caminhão, brincando com o estereótipo de lésbica caminhoneira.

No Carnaval do último ano, Nathália Tepper, de 26 anos, também entrou na onda e resolveu criar, junto com Noelle Pereira, shots de bebidas alcoólicas de sabores variados, vendidos em tubinhos de ensaio coloridos. No nome divertido, o segredo do sucesso: XoShots. “Quis que o nome tivesse irreverência e duplo sentido para atrair mais atenção. Então, pensei em fazer um trocadilho”, explica. Deu certo.

“O legal é que muita gente brincava e chegava para zoar, para mexer com as pessoas que passavam, tanto homens como mulheres. Arranjamos até um marqueteiro no bloco, que pegou o nosso estandarte e fez o marketing do XoShots do início ao fim do bloco. Se um cara passava e não queria experimentar os outros zoavam: ‘Ah, esse aí não curte XoShots, não’”, conta ela.

Para os amigos Ruan Nemeczyk, de 26 anos, e João Simões, de 25, a venda para incrementar a renda carnavalesca foi além. O Chandonlé, sacolé de espumante Chandon, criação dos dois, é sucesso absoluto desde que foi lançado no Bloco pra Iaiá, no dia 7. “Levamos 60 para vender e acabou tudo muito rápido. Logo vimos que o Chandonlé foi parar em vários blogs e jornais. Para conseguir dar conta da produção, pedi esta semana de folga no trabalho, e pretendemos vender mil durante todo o Carnaval”, conta Ruan, que logo tratou de criar uma marca, a Baby Beach, e fazer uma logo para seu sacolé, que tem uma apresentação diferenciada: vem em uma tacinha de champanhe e custa R$ 10. “Recebemos até encomendas nesta semana. Uma menina que provou no bloco gostou muito e pediu mais 40 para uma comemoração na empresa em que trabalha”, contam os amigos.

POLÊMICA JAMAICANA

Sem demagogia ou apologia, docinhos como brigadeiro ou brownie batizados com maconha são cada vez mais comuns. O da vez é a palha jamaicana, a palha italiana batizada. V.F., de 28 anos, responsável pelo doce, tem altas expectativas de venda para o Carnaval. “Estou vendendo desde a Copa do Mundo e foi muito sucesso. Os gringos adoraram. No Carnaval, pretendo vender 300 pelos blocos alternativos e gays, e pelos outros que estiverem pelo caminho, eu entro também”, diz ele, que resolveu fazer o doce, que custa R$ 5 a unidade, por amar palha italiana. E como andam as vendas? “Maravilhosas!”, ele garante, ignorando a prisão de um grupo de estrangeiros que se aventurou a vender doces semelhantes na Lapa, na semana passada.

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