Por nicolas.satriano

Rio - A Beija-Flor anunciou no início da noite desta segunda-feira o enredo para o Carnaval 2016. A atual campeã da folia carioca fará uma homenagem ao Marquês de Sapucaí. Não se trata de falar sobre a Passarela do Samba, mas sim sobre o mineiro Cândido José de Araújo Viana, o "Executivo do Império", político, poeta e compositor do século 19 e que empresta o nome ao palco maior do Carnaval que tem a escola de Nilópolis como maior campeã. Oito dos 13 títulos da escola foram conquistados na Marquês de Sapucaí.

"É um enredo cultural. Vamos tentar resgatar o que o Carnaval está precisando, um Carnaval que dê aos mais jovens um cunho cultural, de conhecimento, de uma coisa que muito pouca gente sabia. Nem o povo de Minas sabia da importância do Marquês de Sapucaí na história do Brasil. É uma história fantástica e não vamos dormir em busca do bicampeonato", disse Laíla, diretor-geral de Carnaval da Beija-Flor.

Ao lado dos demais integrantes da Comissão de Carnaval, Fran Sérgio, Bianca Behrends, Victor Santos, Andre Cezari e Claudio Russo, Laíla contou que a proposta de enredo foi trazida por um componente da bateria da escola que tem família em Nova Lima (MG), terra natal do Marquês de Sapucaí. E admitiu que ele mesmo não conhecia a história do brasileiro que dá nome à passarela do samba.

Laíla contou que a proposta de enredo foi trazida por um componente que tem família na terra natal do Marquês de SapucaíNelson Vasconcelos / Arquivo Agência O Dia

"Não tinha noção de quem era o Marquês de Sapucaí, mesmo desfilando há tanto tempo no palco do Carnaval. Parti para Nova Lima, conversei com as autoridades locais e mesmo com o município passando por diversos problemas financeiros, o Anizio (Abrahão David, patrono da escola) nos deu a tranquilidade para fazer este enredo, um enredo para ganharmos o Carnaval" disse Laíla.

O carnavalesco explicou, também, que será um enredo autoral, ou seja, sem patrocínio.

"Não temos um tostão de lado nenhum. Mas na Beija-Flor se trabalha por amor. Estamos em busca de sobrevivência, mas não é o dinheiro que manda na nossa parte artística e nos nossos corações. E nós amamos o que fazemos e amamos nossa escola. Quem não tem este pensamento, aqui não trabalha. E eu trabalho em nome de uma coletividade, de uma comunidade. Todos sabem a minha origem. Fui oriundo do Salgueiro, onde fui maltratado. E foi aqui que me acolheram. Foi aqui que eu virei o Laíla do Carnaval. E eu sou muito grato a isso. Isso não tem dinheiro que pague", disse o carnavalesco, emocionado.

A porta-bandeira Selminha Sorriso, símbolo da escola, estava empolgada com a escolha do enredo. E, arrepiada, citou uma passagem da justificativa oficial da escola que foi entregue aos jornalistas.

"Ele foi enterrado ali no Catumbi, atrás dos arcos da passarela. E que ali passava um rio onde ocorriam diversas curas pelas mãos das nossas tias como a Tia Ciata. Adorei", disse Selminha, filha de Oxum como Tia Ciata, mãe de santo cuja casa foi conhecida como palco da criação do primeiro samba da história, "Pelo Telefone", de Donga e Mauro de Almeida.

Confira a sinopse da Beija-Flor

Mineirinho Genial! Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal

Uma grande História, para ser bem contada, necessita de enredo, fundamentos, algo que permeia a eternidade da linha do tempo, sem querer jogar confetes que seja cheia de vida, iluminada como uma senhora festa e que, acima de tudo, ilustre a força de seu personagem principal. Não é uma historiazinha qualquer que agora principia, por ora o prelúdio da crônica de uma vida recheada de caminhos, vitórias e uma consagração digna da nobreza d´alma de poucos com espírito tão elevado. Muitos já ouviram meu nome! Quantas vezes fui testemunha da mais original manifestação popular no maior espetáculo da Terra?

Cândido nasci, e das ruas de pedra de Congonhas de Sabará – hoje Nova Lima, jamais imaginaria um futuro tão brilhante como o mais puro ouro das Minas Gerais. Sou daquele tempo, em que a riqueza da mineração conduzia metais preciosos, influência e homens letrados à Corte no Rio de Janeiro. Mas antes de chegar à capital do Império, conheci terras lusitanas, na ciência das leis, um bacharel, e de Coimbra, coração apertado de saudade, resolvi voltar.

A vocação jurista ganha corpo, a vida profissional ascensão, e tudo parece seguir um rápido desfile no curso do Brasil à beira da Independência. O grito do Ipiranga acabara de ecoar, e eu estava nas cercanias de Mariana como Juiz de Fora.

O homem público a cada momento se eleva, e uma sucessão de conquistas parece não mais que algo naturalmente lógico na concentração da posteridade que se aproxima: deputado, senador, desembargador, conselheiro do Império, ministro das Finanças e da Justiça e, acima de tudo, o mestre preceptor do futuro Imperador Pedro II

À memória popular que pouco conhece dessas vertentes, mas que não me esquece por outros nobres motivos, históricos e culturais, deixo de ser apenas Cândido, em um ato de reconhecimento e gratidão imperial, principalmente para ter seu grande conselheiro próximo à futura Estação de trens que herdaria seu nome, Pedro Segundo me faz Visconde.

A antiga rua Bom Jardim, na Cidade Nova, conquista meu título de nobreza e definitivamente passo a escrever a glória maior da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Um dia, já Marquês, minha passagem me eleva a outro plano, fincado como parte desse chão vi crescer estas paragens, vivi reformas, passei por revoluções...

Quando a liberdade quebrou correntes, eu estava lá!

A Aurora da República assisti de perto; vislumbrei de camarote a redenção de uma gente marginalizada, que pouco a pouco fez história, e através de suas escolas, ensinou o Brasil a sambar.

Ah! Quantos personagens imortais?

Quantos sambas antológicos e artistas geniais passaram por mim?

E hoje, na mais cândida paciência, aguardo os quatro dias de folia para o mundo inteiro ouvir meu nome. Eu, poeta de Minas Gerais, que nem de longe esperava tanto, sou palco de todas as emoções, a Avenida do desfile principal na Apoteose do sambista verdadeiro.

Adormeço aos pés da praça, onde faço minha última morada, e num desfecho magistral, sou apenas mais um nobre recebendo a Deusa da Passarela: Muito prazer! Marquês de Sapucaí.

Você pode gostar