Rio - A Beija-Flor de Nilópolis, atual campeã do Carnaval, decidiu voltar ao passado. A um passado, inclusive, anterior ao da própria Beija-Flor, que nos fim dos anos 70, sob o comando de Joãosinho Trinta, revolucionou os desfiles das escolas de samba com ousadia e muito luxo, fazendo da agremiação de Nilópolis uma gigante da folia. E tornando célebre a frase "pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual".
Capitaneada por Laíla, diretor de Carnaval que nos anos 70 ajudou Joãosinho a promover a revolução estética da folia, a atual campeã decidiu ousar novamente, mandando para escanteio outra frase famosa - "em time que está ganhando não se mexe" - e promover um resgate da cultura popular em seu sentido mais amplo.
Duramente criticado pelo enredo desenvolvido este ano, "Um Griô Conta a História: Um Olhar sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial", apesar de vitorioso, e também pelo do ano passado "Boni, o Astro Iluminado da Comunicação Brasileira", Laíla decidiu mudar. E não apenas em relação à temática, mas também na concepção do Carnaval. Na noite desta segunda-feira, a escola anunciou que contará a história do Marquês de Sapucaí em 2016.
"Faremos um Carnaval sem dinheiro de ninguém. Só com o que a Liesa dá a cada escola. Nem o Anízio (Abrahão David, patrono da escola) colocará um centavo. Chega. Cansei de tomar porrada também. Recusei R$ 11 milhões da Nike para fazer um enredo sobre Ronaldo Fenômeno. Nem pelo c... que eu vou fazer isso. Quero acabar com essa situação de ficar apanhando. Vamos resgatar a essência do Carnaval, aquilo que aprendi no Salgueiro nos anos 50, 60 e 70, com Fernando Pinto, Arlindo Rodrigues, Fernando Pamplona, Rosa Magalhães, e até mesmo com o Joãosinho", revelou Laíla com exclusividade ao DIA.
O diretor de Carnaval da Beija-Flor avisou que as fantasias serão menores, menos luxuosas, mais baratas e confortáveis. E que o gigantismo dos carros alegóricos chegou ao fim. A escola de Nilópolis quer valorizar o que tem de melhor: sua comunidade.
"Nossa comunidade come asfalto durante os ensaios. Mas não dá para cobrar do componente que ele coma asfalto no desfile com uma fantasia de 8kg nas costas. E mesmo assim ele come. Vamos vir de roupas leves, sem resplendor, para o nilopolitano flutuar na Avenida. Para a fazer o que a gente mais gosta, que é brincar Carnaval, curtir o Carnaval", disse Laíla.
A mudança de rumos, segundo o carnavalesco, juntou o útil ao necessário. Ao voltar das férias após o título deste ano, Laíla se espantou com as contas a pagar. Segundo ele, a Beija-Flor gastou R$ 14 milhões no último desfile.
"É um valor insustentável. Se este ano foram 14 milhões, se continuarmos no mesmo caminho, quanto será em 2016? E quando não tiver mais dinheiro, como faremos Carnaval? Chega. Se a gente já estudava uma mudança, a realidade financeira do Carnaval me ajudou a definir pela mudança. E quero esta mudança também no samba, sem ferir a métrica, a harmonia, trazendo para o mundo de hoje o verdadeiro Carnaval", completou Laíla.