Por gabriela.mattos

Rio - Três mil chapéus das fantasias da Imperatriz passam pelas mãos de Rivelino, o chefe da chapelaria da escola na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio. “Craque” até no apelido, Amílcar Augusto de Souza chegou na agremiação há 37 anos e hoje é responsável por produzir esses tipos de adereços. Outros 30 profissionais trabalham ao seu lado diariamente, das 8h às 18h, mas ele não abre mão de ajudar na montagem dos chapéus. “Eles não têm aquela ideia e precisam ver o protótipo. Tenho sempre ensinar e explicar como se faz”, diz.

A carreira dele no Carnaval começou na década de 1970 na Vila Isabel, após conhecer um figurinista da escola. Foi quando seu trabalho começou a ser valorizado e ele foi apresentado ao renomado carnavalesco Viriato Ferreira, que depois o indicou para a Beija-Flor. Naquela época, a agremiação contava com o experiente Joãosinho Trinta.

Rivelino é o responsável pelo setor da chapelaria da ImperatrizMárcio Mercante / Agência O Dia

“Minha relação com eles era maravilhosa. Para mim, Viriato era o melhor carnavalesco. Ele desenhava, executava e já dava o molde das fantasias e dos chapéus pronto”, elogia o profissional, que ganhou o apelido do próprio Viriato. “Dizia que eu era muito parecido com o jogador Rivelino. No Carnaval, ninguém me conhece pelo nome, só pelo apelido”, afirma.

No curto período em que ficou na Azul e Branca de Nilópolis, de 1976 a 1978, o chapeleiro foi tricampeão. Já no ano seguinte, ele e Viriato foram para a Portela, ano em que a escola de Madureira ficou em 3º lugar com o enredo “Incrível, Fantástico, Extraordinário”.

Apesar da grande experiência no Carnaval, Rivelino ainda fica ansioso com a preparação para o desfile. “Dá um pouco de nervosismo ver as coisas ainda não completas”, reforça o profissional, acrescentando que os protótipos dos adereços foram feitos em agosto. “Muitas coisas fazemos no papelão, depois colocamos o arame e forramos. Só consigo falar que o trabalho está bem adiantado quando a sala estiver toda vazia”.

Rivelino está na Imperatriz há três décadasMárcio Mercante / Agência O Dia

Se ele tem apego aos chapéus produzidos no ateliê? “Tenho um ciúme do trabalho que faço, que não é brincadeira. Brigo, xingo, mostro como as pessoas devem carregar na hora de transportar”, admite. Ele conta ainda que a Imperatriz não levará nenhuma ala comercial - no desfile deste ano. “Todos os chapéus estão sendo feitos aqui [na Cidade do Samba]. O trabalho aumentou muito”, destaca.

Um dos desfiles mais marcantes para Rivelino foi quando a fantasia da bateria da Imperatriz levou um adereço de cana-de-açúcar, na época da carnavalesca Rosa Magalhães. “Nem era meu trabalho, mas precisei ajudar dois dias antes do Carnaval”. Em relação a este ano, Rivelino está confiante.

“Vai ser muito bonito, está bem colorido, o enredo é bom. Ainda não tinha visto um Carnaval deste tamanho, vai vir muito diferente do que o pessoal está acostumado a ver”, completa o chapeleiro, que todo ano vai para o Sambódromo, mas nem todo ano consegue atravessar a Avenida por um problema na perna. “Fico na concentração, o pessoal me ovaciona, vejo a escola passar”, lembra.

A história de Rivelino faz parte da série ‘Personagens do Samba’ do DIA Online. As matérias especiais são publicadas todas as segundas, quartas e sextas-feiras. Na próxima quarta-feira a vez é da Unidos da Tijuca.

?Reportagem de Adriano Araújo, Gabriela Mattos e da estagiária Luana Benedito

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