Por tabata.uchoa

Rio - No trabalho, nas ruas e até na fila de espera do pão francês. O que mais a gente encontra por aí são mulheres como a Pilar, de ‘Amor à Vida’. Entretanto, Susana Vieira, intérprete da personagem, tem muito pouco dela. Ou quase nada. Susana, aos 71 anos, é bem-sucedida, não usa roupas de senhorinha e nunca aceitou rédeas imposta por maridos. Pilar, a mulher do cafajeste César (Antônio Fagundes), é submissa, largou a profissão para cuidar dos filhos e fala de forma contida.

“Pilar é de uma geração em que a maioria das mulheres casou e foi ser dona de casa e mãe. Eu sou fruto dessa geração, mas sou uma desgarrada dessas pessoas. Eu sou uma exceção dentro de uma geração que casou para ficar casada para o resto da vida, ter filho, cuidar do marido e do lar. Não acho isso um desprestígio. Até acho uma aventura muito boa você poder criar uma prole, se dedicar à casa”, explica a atriz, que é mãe de Rodrigo Vieira, de 47 anos, e avó de Rafael, 16, e Bruno, 15.

Susana Vieira diz que é agregadora como Pilar%2C mas nunca seria sustentadaJoão Laet / Agência O Dia

Para quem está acostumado a ver Susana sempre muito espevitada na TV, Pilar é quase uma novidade. “Ela fala um pouco mais baixo, se veste como uma senhora paulista que é casada com um médico. As roupas são mais discretas e menos sensuais”. Não que Susana e Pilar sejam água e vinho. Apesar de não gostar de comparações com sua personagem, a atriz acha uma característica em comum: o amor pela família.

“Ela é agregadora e eu também. Já teve ocasião em que reuni ex-marido, ex-sogra, ex-tudo na minha casa e foi uma maravilha. Não acho justo tudo que eu fizer de bom ter que fazer sozinha. Quando faço alguma estreia, quero olhar na plateia e ver a carinha de alguém da minha família lá. Pilar ama a família que tem, é afetuosa, protetora. Nisso, eu pareço com ela. Fora isso, não. Ela é sustentada pelo César. Eu não tenho marido, tenho um namorado maravilhoso, o Sandro Pedroso, mas eu rejo minha vida. Eu não sei o que é ser uma mulher sustentada”, orgulha-se.

A reviravolta de Pilar

Nas próximas semanas, Susana e o público vão poder assistir a uma reviravolta na vida de Pilar, que vai descobrir que o marido mantém um caso com a secretária Aline (Vanessa Giácomo). Sem levar o assunto para a vida pessoal, a atriz se limita a dizer que prefere não fazer julgamentos. “Eu não sou a Pilar e não estou naquela situação. Me parece que o César é tão ‘picão’ que ele comeu o elenco inteiro. Mas novela é entretenimento. Perdoar uma traição depende muito da relação da pessoa, de cada momento, cada paixão. O coração tem razões que a própria razão desconhece. Se me perguntar se eu perdoaria ou não, eu vou dizer que não sei”, diz Susana, que, em breve, vai se casar pela quarta vez.

Susana Vieira comemora 50 anos de carreiraJoão Laet / Agência O Dia

Poucas horas antes de ser entrevistada pela ‘Já É! Domingo’, Susana havia gravado uma das cenas mais esperadas de sua trama: a surra que vai dar na rival. “Não tenho ideia de como vai ficar a cena, vai depender muito da edição. Fizemos a cena tecnicamente, como o diretor marcou. A Vanessa é um ‘biscuit’ e eu estava com medo de machucá-la. Eu estava com muito cuidado na hora de gravar, mas tentei dar toda a minha força física. O diretor até falou: ‘Susana você quer parar, quer tomar um ar?’ Eu disse: ‘Não! Eu tenho fôlego pra subir Machu Picchu de novo.’ Não fiquei cansada e ninguém se machucou. Se fosse uma briga das duas, seria mais difícil de fazer, mas como ela só apanhava, foi tranquilo”.

Embora mostre todo seu ataque de fúria na ficção, na vida real, Susana é da paz. “O público estava querendo que eu batesse nela, foi isso que eu fiz. Mas eu acho um absurdo as pessoas estarem nesse nível de agressividade. Sou um ser humano pacífico e achei um absurdo as pessoas quererem que eu desse na cara dela”, desabafa a atriz, que, no início da trama, não sabia que a rival se fingiria de amiga para conseguir tudo que era de Pilar. “Se fazendo de amiga ou não, eu acho que amante é amante e não vale nada. Amante é tudo vigarista, exploradora. Essa é a minha opinião. No início, eu não sabia que a Aline era vilã. A gente leva susto a cada momento. O Fagundes é uma beleza. Qual a menina que não gostaria de um homem calmo, tranquilo, de cabelo branco?”, diverte-se.

Planos para o fim da novela

Assim que a novela acabar, Susana vai colocar em prática seus novos projetos. Ela está escrevendo sua biografia junto com Mauro Alencar, que deve ser lançada no final do ano, e pretende voltar aos palcos em 2014. “Estou tentando comprar uma peça para estrear em abril, que será dirigida pelo Ulysses Cruz. Também vai ter uma exposição dos meus 50 anos de carreira. Posso dizer que sou muito feliz com o que tenho da vida.”

Alternando boas risadas com momentos de seriedade, Susana se compara às mulheres nordestinas, que ela considera ‘arretadas’ e cheias de garra. Assim como sua personagem Maria do Carmo, em ‘Senhora do Destino’(2004). “Tenho loucura por esse povo. Acho que fui uma nordestina em outra encarnação. Porque tenho muita força física para trabalhar e gosto muito de beijar na boca. A mulher ‘paraíba’ chega em casa depois de um dia de trabalho e ainda tem disposição para namorar. Tenho admiração por isso. Elas têm senso de família e defendem os filhos como leoas. Falo isso baseada na novela que fiz. Adoro a fala desse povo e tenho o mesmo temperamento”.

Sua energia, a disposição para namorar e a boa forma fazem com que Susana deixe a modéstia de lado. “Acho que não existe nenhum milagre da natureza para se ter tudo isso. Quer dizer, existe! Eu sou um milagre da natureza”, brinca a atriz, aos risos. “Não tem botox, plástica, academia que dê a energia que eu tenho, que passe esse bom humor, a força, a falta de medo e a minha coragem. Não tem vitamina C, nada. Também não bebo e não fumo. Mas não quer dizer que eu seja uma santa. Hoje em dia, as pessoas estão muito mais deprimidas do que velhas. Tem um monte de mulher que tem 70 anos com carinha de 50, mas está deprimida. A diferença é que estou com 71, de minissaia e não estou deprimida”.

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