Por tabata.uchoa
Leandra Leal encara sua primeira protagonista no horário nobreDaryan Dornelles / Divulgação

Rio - Aos 31 anos, Leandra Leal já tem 60 personagens acumulados na TV, teatro e cinema, mas, apesar desse currículo, nunca fez uma mocinha do horário nobre. A estreia vai ser amanhã, na pele de Cristina, a heroína do autor Aguinaldo Silva em ‘Império’. Na história, ela é uma jovem de origem humilde, forte e batalhadora, que, após a morte da mãe, Eliane (Malu Galli), descobre que é herdeira de uma fortuna.

“Fala-se muito sobre o peso da protagonista. Acho que, na verdade, é o peso que as pessoas e a mídia dão”, despista. Marinheira de primeira viagem no papel principal do horário nobre, ela confessa, porém, que não havia se dado conta de como se criam expectativas em relação à mocinha até começar a fazer as reportagens para o lançamento da novela.

“Existe uma expectativa e uma cobrança muito grandes. Já tive papéis que, para mim, eram muito difíceis e de grande responsabilidade, mas que não tinham tanta exposição quanto a Cristina. Então, esse peso vem mais de fora. Procuro não pensar nisso e estar sempre comprometida com o processo.”

E, nesse processo, Leandra foi buscar dentro de casa a inspiração para sua primeira heroína. “Eu trabalhei muito com a minha mãe (a atriz Ângela Leal). Não fazia isso há uns 15 anos e foi muito bom. Ela é uma mulher muito forte e é experiente nos tipos populares. Foi um laboratório particular”, conta Leandra, lembrando que fez poucas mocinhas ao longo da carreira.

“A Maria Claudia Tedesco (personagem de Leandra em ‘Senhora do Destino’, em 2005), por exemplo, não era mocinha. Era uma guerreira, um tanto rebelde. A Cristina é diferente. É forte e, ao mesmo tempo, feminina. É uma mulher comum, dos dias atuais, que trabalha, estuda, cuida e dá valor à família. Isso, para mim, marca a diferença dela para meus outros papéis”, pontua.

Já no início da novela, Cristina verá sua vida virar de cabeça para baixo. Eliane, a mãe, descobre uma doença e morre rapidamente. A jovem, então, toma para si a responsabilidade de manter a família — a tia Cora (Drica Moraes), o irmão Elivaldo (Rafael Losso) e o sobrinho Victor (Adriano Alves) — unida. Pouco antes do enterro da mãe, contudo, Cristina descobre, através de Cora, que pode não ser filha de Evaldo (Thiago Martins), com quem Eliane era casada e que morreu quando a jovem tinha 2 anos, e sim do irmão de Evaldo, José Alfredo (Alexandre Nero), dono de um império de mineração.

“No início, Cristina não sabe bem o que fazer. Mas, para manter sua família, ela decide procurar o que é seu por direito”, adianta a atriz, que diz ainda não saber, mas acreditar que sua personagem seja, sim, filha de José Alfredo. E, quando o assunto é pai, Leandra lembra do seu na vida real, o advogado Julio Braz. “Ele morreu quando eu tinha 12 anos e nossa relação era bastante forte”, limita-se a dizer atriz, que não gosta de colocar o foco em assuntos pessoais.

“Eu acho que é mais interessante saber da obra do artista do que sobre sua vida privada. É melhor que as pessoas não saibam sobre mim, porque pode acontecer uma invasão. A personagem tem que ser mais forte do que a minha vida particular”, discursa. “Mas entendo que é superimportante ter a mídia como parceira, porque você tem que divulgar seus trabalhos”, admite ela.

Leandra LealDaryan Dornelles / Divulgação

No entanto, como protagonista da novela das nove, ela sabe que vai ser difícil evitar os holofotes e lidar com as críticas. “Hoje, principalmente por conta da internet, que é a grande sala coletiva da TV, tem-se uma exacerbação da crítica. Isso é estranho, pois todos se tornam técnicos de futebol ou autores da novela. Enfim, se forem positivas ou negativas, elas fazem parte do processo”, minimiza.

Num raro momento em que fala sobre a vida pessoal, ela revela o desejo de ser mãe. “Sonho ter filhos. Estamos perto de construir isso. Mas, agora, estou fazendo a novela e, no ano que vem, tenho outras coisas... O caso é que, se ficarmos planejando muito, também não sai”, analisa a atriz, que é casada com o produtor cultural Alê Youssef. E, se na trama a personagem de Leandra é herdeira de um império de pedras preciosas, o filho da atriz terá como legado o Teatro Rival, gerenciado por ela e pela mãe, Ângela Leal. É um patrimônio cultural que Leandra defende.

“A arte no Brasil sofre com a falta de investimento em educação, da formação de artistas à formação de plateia. Falta também a democratização do acesso. A arte tem que chegar em cada canto deste país continental”, diz a atriz, revelando que ainda não escolheu seu candidato à Presidência da República. “Estou tentando encontrar alguma diferença entre os três principais nomes para a presidência, mas todos me soam muito parecidos e isso me deixa desmotivada”, critica.

Figurino vem de mercado popular

Blusas estampadas, curtas, algumas no estilo cigana, casaquinhos, saias, calça tipo flare (aquelas justas no contorno das pernas e largas próximo aos pés) e muitos acessórios, como argolas com penduricalhos. Foi dessa forma que a figurinista Helena Gastal descreveu o visual de Cristina, personagem de Leandra Leal em ‘Império’.

Para garimpar as peças, Helena percorreu lojas de departamento, brechós e a Saara (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega) à procura de artigos bacanas que pudessem dar o tom popular ao guarda-roupa da nova heroína das nove. “O estilo dela é jovial, prático, alegre, moderno e utilitário”, define Helena, que tem 33 anos de profissão e 32 novelas no currículo.

A estudante, que trabalha como camelô no Centro do Rio para sustentar a família e mora em Santa Teresa, não vai economizar cores nos seus trajes. “Desde as mais sóbrias até as mais chamativas. Estampas também estarão presentes, na maior parte das vezes em tamanho miúdo. Não tive uma inspiração específica. O figurino será como uma colcha de retalhos: experimentamos diversos tipos de peças e escolhemos as que caíram melhor na atriz”, conta a figurinista.

E Leandra aprovou o guarda-roupa. “Amei. Eu e a Helena conversamos muito. Ela foi muito legal e ouviu minhas opiniões. São roupas que têm personalidade, trazem informação e, ao mesmo tempo, são simples, reais e populares. Elas me ajudaram muito na construção da personagem”, garante a atriz.

Mais que construir a personagem, Helena aposta que as peças vão cair no gosto popular. “Os espectadores vão amar as blusas estilo cigana, assim como as argolas com penduricalhos. Este acessório estará muito presente no figurino da Leandra”, adianta.


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