Por daniela.lima
Acima%2C Isabel Fillardis posa com um dos figurinos do espetáculo ‘Lapinha’%3B à esq.%2C a atriz sorridente e em paz com os 40 anos recém-completadosJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Rio - O sorriso generoso de Isabel Fillardis já denuncia que a chegada dos 40 anos foi tranquila, sem crises. Nesse caso, a nova idade provocou o desejo de viver múltiplos desafios, principalmente na carreira. Um deles é a personagem Joaquina Maria Conceição da Lapa, que ela interpreta no espetáculo musical ‘Lapinha’, em cartaz às quartas, quintas e sextas no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea. “Eu fiquei um tempo me dedicando a minha família e aos meus projetos sociais. Mas, durante esse período, buscava algo que me permitisse unir os talentos que eu acredito ter: dançar, cantar e interpretar. Hoje, o ator negro fica dependente de convites, e eles são restritos. Isso estava me agoniando bastante. Acabei de completar 40 anos e queria me sentir realizada. A ‘Lapinha’ trouxe isso”, conta Isabel.

No palco, a atriz interpreta a história da cantora negra que viveu no início do século 19, burlou as leis da época para frequentar teatros e chegou a pintar o rosto de branco para driblar o preconceito. “Ela foi a primeira negra brasileira a se destacar nas artes cênicas do Brasil e do mundo. Porque você tem que ser muito corajosa para enfrentar a fúria do preconceito, confiando apenas no seu talento”, avalia a atriz, que acredita ter pontos em comum com a sua personagem. “As nossas histórias se assemelham na questão do pioneirismo. Comecei a trabalhar na televisão em 1993, na novela ‘Renascer’, numa época em que existiam poucas atrizes negras em papéis de destaque. E isso é muito parecido com a Lapinha, pois, assim como ela, eu também sempre tive muita fé no meu taco”.

Serena, Isabel não perde a calma nem na hora de falar sobre o racismo velado que já viveu ao longo de sua trajetória. “Eu nunca permiti que os outros me incomodassem. Não coloquei isso como um empecilho ou uma dificuldade. Não podemos deixar esse sentimento ficar amargo dentro da gente, porque aí você não chega a lugar nenhum”. Ela ainda faz questão de sair em defesa de Miguel Falabella, que foi muito criticado pela comunidade negra por conta da série ‘Sexo e as Negas’: “O que eu vejo ali é a mulher negra real sendo enaltecida. Aquela que batalha, que se ama e que gosta de sexo, sim. E nós temos essa sensualidade que é nata. Isso está sendo colocado de uma forma natural. É tão raro a gente ter um autor louro daquele jeito retratando de uma forma tão bonita a nossa história.”

Longe das telinhas desde 2011, quando participou da novela ‘Fina Estampa’, Isabel está louca para voltar à TV. “Estou sem contrato e não tenho restrição a emissora alguma, trabalho na Globo, na Record, o que eu quero é um espaço para mostrar minha arte”.

E se na vida profissional a busca é por realizações, na vida pessoal o momento é de agradecimento. Mãe pela terceira vez este ano, a atriz conta que o filho caçula, Kalel, hoje com 9 meses, é um guerreiro. “Eu queria muito esse bebê, mas não foi fácil. Fiquei quase um ano deitada, por conta de um problema no útero, e ainda assim ele nasceu com oito meses de gestação. Hoje o Kalel está lindo e nem parece que nasceu prematuro”, orgulha-se a atriz, que também é mãe de Jamal, de 10 anos, portador da Síndrome de West, e Analuz, de 13, frutos de seu casamento com Julio César Santos.

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