Por daniela.lima

Rio - Sergio Guizé, o Caíque de ‘Alto Astral’, é ator, músico e artista plástico, mas, apesar de trabalhar com profissões voltadas para o público, é tímido. Aos 34 anos, Guizé tem um jeito reservado que se mistura a um certo ar infantil. O roqueiro que dá expediente na banda Tio Che ou o pintor que está sempre às voltas com tintas e telas só fica à vontade escondido atrás de um personagem. E, no momento, o papel preferido desse paulista de Santo André é o médium da trama das 19h. “Ele é um cara do bem, generoso, especial. É bem difícil fazer o Caíque, porque ele transita no drama, na comédia e ainda tem um lado romântico. Mas, ao mesmo tempo, isso é maravilhoso, porque eu tenho a possibilidade de investigar várias áreas em um mesmo trabalho”, diz. 

'Já mandei flores%2C preparei café da manhã especial. Sou mais parceiro e verdadeiro do que romântico'Fernando Souza / Agência O Dia


A multiplicidade do personagem da novela de Daniel Ortiz ainda passa pela mediunidade e faz o ator pensar no tema. “Se eu visse espíritos como o Caíque, eu acho que desmaiaria. Eu prefiro não ver nada, mas, se vier, que venha um espírito de luz. Não tenho estrutura psicológica para aguentar isso, não”, confidencia.

Tempos atrás, Sergio simplesmente via como impossível a existência de uma força sobrenatural. “Fui ateu. Eu não acreditava em nada, mas agora acredito em tudo. Até em ET, mas nunca vi nem quero ver”, afirma. Mas o que será que motivou tamanha mudança? “Quando o avião balançava, não tinha a quem recorrer (risos). Não sei explicar o que aconteceu, mas chegou uma hora em que quis ir atrás de uma espiritualidade. Fui à igreja evangélica, ao candomblé, mas foi o Daime que me deu um despertar, fez com que eu me sentisse próximo à natureza. Isso é Deus. Sem querer ser cafona, Deus é amor. Hoje, frequento centro espírita, Daime, umbanda, templo budista. Eu vou aonde tem várias pessoas juntas pensando no bem”, conta.

Guizé crê mesmo em tudo. Até em amor de outras vidas, como o de Caíque e Laura (Nathalia Dill) em ‘Alto Astral’. “Acredito em toda forma de amor. Eu acho que existem pessoas que estão no nosso destino, sim. O meu pai (Salvador) e a minha mãe (Cleide) se amam tanto! Lembro que, quando o meu pai enfartou, a minha mãe ficou completamente maluca, dava dó de ver. Depois, a minha mãe quebrou o pé e o meu pai saiu do trabalho para cuidar dela. Um não faz nada sem o outro. Então, eu acredito em amor eterno, puro.”
Mas isso não quer dizer que o ator deseje viver uma história parecida com a dos seus pais. “Pensava nisso na adolescência, mas já desencanei, não penso mais nisso, não. Meus pais não tiveram muitas outras relações e eu aprontei muito (risos). Já fui levado, mas agora estou sossegado”, diverte-se.

Sonhar com o clássico “até que a morte os separe” não faz mais parte da vida de Guizé, que, no entanto, preserva um certo jeito romântico de ser. “Já mandei flores, preparei café da manhã especial. Sou mais parceiro e verdadeiro do que romântico. A verdade vale mais do que um café da manhã. Talvez não se ela estiver com fome (risos)”, brinca.

Se não consegue ser tão romântico quanto o Caíque de ‘Alto Astral’, o ator, que está solteiro, ao contrário do personagem, também não idealiza a mulher perfeita para a sua vida, muito menos uma futura relação. “Já atrapalhou estar namorando em meio a um processo criativo. Mas não é uma defesa estar sozinho agora. Apenas não aconteceu. Me separei, tive umas relações bem interessantes, mas hoje penso só em trabalho, não tenho pensado em relacionamento”, diz, descartando qualquer envolvimento amoroso com a parceira de cena, Nathalia Dill. “Isso já foi, já deu.”

Ter um filho no futuro, no entanto, não é algo que esteja fora de cogitação. “Desde pequeno eu pensava em ser pai. Hoje, não penso nisso. Mas eu sempre tive bichos, gosto de cuidar. Tenho um cachorro que eu amo, o Gustavo. E também já tive pombo, escorpião, tartaruga, perereca, gato. Amo cuidar, mas não penso em filhos no momento”, conta.

É no seu lar carioca, no Recreio dos Bandeirantes, que Guizé curte uma solidão criativa. “Quando chego em casa, estudo, pinto, escrevo umas músicas e tento administrar alguma coisa da minha banda. Sou bem ativo, mas gosto de ter um momento de não fazer nada. É até um jeito de baixar a ansiedade, reciclar, porque a vida vai virando um turbilhão. A minha sorte é que o Caíque é muito solar, então fico feliz”, vibra. 

KOMBI DESGOVERNADA

A vocação para as artes surgiu ainda na infância, mas isso não impediu que o corintiano Sergio Guizé, como a maioria dos meninos, sonhasse ser jogador de futebol. “Aprendi a tocar violão com o meu pai aos 5 anos, já tinha banda de rock com 10, desenhava desde menino, mas, em meio a tudo isso, jogava bola. Meu pai ia me ver jogar e dizia: ‘Filho, desiste, pelo amor de Deus, eu não venho ver mais’ (risos). De vez em quando, ainda jogo bola com o pessoal aqui da Globo. Minha posição é Kombi desgovernada (risos). Fico lá na frente tentando fazer gol.” 

A vida de Guizé se transformou em um turbilhão de emoções muito cedo. Para pagar a faculdade de Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, ele fez de tudo um pouco. O problema é que não parava em emprego algum. “Tentei trabalhar em tudo quanto é coisa para poder pagar a faculdade, mas era logo mandado embora. Com 15 anos, trabalhei no McDonald’s, mas me dispensaram rápido. Na C&A, só fiquei duas semanas. Como motoboy, me perdia sempre, aí atrasava as entregas. Gostei de trabalhar em uma loja que vendia rações para animais, mas não pude ficar porque descobri que sou alérgico a alpiste. O que mudou a minha vida foi o teatro, que comecei fazer na época da faculdade.”

Com a carreira construída nos palcos, Guizé chamou a atenção da direção da Globo ao atuar primeira temporada do ‘Sessão de Terapia’, do GNT, em 2012. Talento descoberto, fez o João Gibão, de ‘Saramandaia’, e agora consolida o seu espaço na TV em ‘Alto Astral’. E ele quer mais! “Não sou arrogante, nem pretensioso, mas quero expandir o trabalho, acho que tenho coisas para mostrar. Eu adoraria fazer um papel bom em uma novela das 21h. Pode ser mocinho, vilão, uma mulher (ele já fez a travesti Lorraine em ‘Tapas & Beijos’)”, torce. E que não se confunda ambição profissional com objetivo de enriquecer. “Dinheiro nunca foi o foco. Mas ele veio e foi ótimo, claro. Pude dar um conforto maior aos meus pais. Mas nunca vi meu saldo no banco. Fica tudo com a minha mãe, que é a minha secretária. Nunca penso em dinheiro.”

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