Por daniela.lima

Rio - Com carreira já solidificada no pagode e lançando o terceiro disco (o primeiro gravado em estúdio), ‘Feito Pra Durar’, Péricles retorna agora como artista independente — terminou o contrato com a Som Livre — e solta o álbum pela novata FVA Music. Mas sem medo do futuro, já que, lembra ele, os desafios mais complexos ficaram no passado. 

'Preconceito é pura ignorância%2C e de ignorância a gente tem mais é que ter pena'%2C dispara PériclesDivulgação


“Não foi nada fácil, tive um monte de barreiras. Muitos parentes e amigos acreditavam que eu não fosse conseguir. O descrédito era o pior. Isso é do ser humano, é algo natural, mas depois todos foram vendo as vitórias”, lembra o cantor, que trabalhava como inspetor escolar antes de largar tudo e virar sambista, ainda na década de 80, com o Exaltasamba. “Hoje, encontro portas abertas, mesmo com um obstáculo por dia. Nessa busca da independência, me inspirei muito no pessoal do rap, que se lança sozinho.” 

Péricles está acostumado a lidar com um público que muitas vezes nem curte pagode, mas o respeita pela voz e pelo acento soul que imprime a seu repertório. “E, no disco, novo abusei muito dessa maneira soul de cantar”, diz Péricles, que solta (muito) a voz em músicas como ‘Trago a Pessoa Amada’ (com participação de Thiaguinho), ‘À Deriva’, ‘Erro Meu’ e ‘Feito Pra Durar’ (parceria do amigo Thiaguinho com a cantora Luiza Possi). E surpreende com uma regravação em ritmo de samba da ‘Ave Maria’, do compositor clássico Franz Schubert. Essa, ele já havia feito para um CD de Natal da Inovashow, empresa que agencia Thiaguinho e Péricles.

“A música acabou não cabendo no CD, mas não queria deixá-la de fora, e levei-a para o meu disco”, conta Péricles, que, no casamento de Thiaguinho com a atriz Fernanda Souza, fez outra viagem aos temas sacros e cantou uma versão musicada do ‘Pai Nosso’. “Sou católico, mas isso nem tem nada a ver com religião. Religiosidade é mais importante do que religião. Acredito numa força superior, sinto isso na minha vida”, diz. O CD tem também uma inédita do filhão Lucas Morato, ‘É Quente’, unindo forró e samba. “Ele sugeriu outras, mas essa entrou sem que a gente soubesse que era dele”, conta Péricles, que viu no ano passado Lucas estrear solo com o disco ‘Muito Prazer’. “Ganhei um concorrente, e dos bons”, brinca.

Péricles prepara a turnê, divide o tempo com as aparições semanais no programa ‘Esquenta’ (exibido aos domingos na Globo, com Regina Casé) e tem shows à vista no Rio: sexta na Tradição, dia 22 na Vila Isabel e 29 na Rio Sampa. Em meio ao trabalho, fica de olho na saúde. “É importante cuidar da alimentação, não ter refluxo nem azia... Mas os horários nem sempre ajudam. A melhor coisa para a voz é aquecimento vocal e muita água. E dormir cedo, mas na estrada é complicado...”, reconhece o grandão Péricles, que já chegou a pesar 170 quilos.

E voltando às barreiras do início, ele diz já ter sofrido preconceito por causa do seu peso. “Sou muito bem-resolvido. Sei que estou fora dos padrões da sociedade. Mas preconceito é pura ignorância, e de ignorância a gente tem mais é que ter pena”, decreta.

Com um casamento sólido (são mais de 20 anos ao lado de Meire), Péricles bem que poderia dar uns conselhos ao recém-casado amigo Thiaguinho. “Mas nem precisa. Ele tem excelentes conselhos da mãe e do pai. A Fernanda é um bom espelho para ele também”, acredita.

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