Por daniela.lima

Rio - Foram exatos 365 dias entre o primeiro contato e o momento de ficar diante de Luana Piovani para este papo. Até que, dias atrás, num fim de tarde , numa esquina do Leblon, Luana surgiu sozinha, linda, loura, com barriguinha de cinco meses, de sandália rasteira, pontualmente.

Simpática, deu atenção a um menino que vendia panos, pediu um milk-shake e disse a frase aguardada por um ano: “Vamos com tudo!”.

E ela foi com tudo mesmo. Sem fugir de qualquer assunto ou fazer média, a atriz, de 38 anos, mulher do surfista Pedro Scooby, mãe de Dom, de 3 anos, e grávida dos gêmeos Liz e Bem, falou de maternidade, amor, sexo, carreira, polêmicas, violência e revelou que pretende se mudar do Brasil. Intensa, mostrou-se mãe e esposa completamente dedicada a seus dois homens.

“Eu viajei, conheci muita gente, adquiri muita experiência amorosa. Nessa idade, sabemos exatamente o que a gente não quer, não tolera. Quero criar um filho generoso, preocupado com a natureza, que jamais vai ser agressivo com uma mulher. Dom vai ser um sonho, como o Pedro é”, derrete-se Luana, que, apesar de ressaltar que nunca posou nua, despiu-se de outra forma durante a conversa com o “Se Liga — No Meia Hora”, como poucas estrelas costumam fazer. Mas Luana, de estrela, só tem o brilho e a fama. De perto, ela é simplesmente Luana. 

'Eu quero ir embora do Brasil'%2C dispara PiovaniAndré Mourão / Agência O Dia

SE LIGA — NO MEIA HORA - Você mudou muito depois de virar mãe?
LUANA PIOVANI - Ah, melhorei muito. Não sei se é bom ou se é ruim. Mas sou muito mais segura do que já era. Mudei minhas prioridades. O que me incomodava antes, hoje não me incomoda mais. E isso é um alívio. Mas, ao mesmo tempo, aquela coisa piegas de “um coração batendo fora do corpo” é f... Tenho muito medo, ainda mais vivendo no Brasil. A gente vê a violência chegando cada vez mais perto da gente. Eu fico apavorada, é um medo constante.

Criança é bem sincera. Você deixava seus pais sem graça?
É, sou bem sincera, verdadeira demais. Mas não nesse ponto. Sempre fui indagadora. Se eu não entendia, queria que me explicassem. Os meninos no colégio, naquela idade que menino e menina se odeiam, sempre atrapalhavam nossa brincadeira. As meninas tinham medo, mas eu nunca tive medo de enfrentar.

Preparada pra ser mãe de menina? É bem diferente,né?
Eu sou bem mãe de menino mesmo. E foi bom começar com um menino. Eu sou tão vaidosa e tão menina que tinha medo de perder a mão. Fantasiar demais, envaidecer demais, deixar muito melosa. Mas a Liz nascendo nesse bolo já não tem mais essa chance. Mas vai ser bom poder comprar calcinha de babado, brinquinho....

Dom é mimado? Você diz muitos ‘nãos’ pra ele?
Demais. A gente trabalha muito em casa a liberdade e o limite. Eu fui criada assim e a receita deu muito certo. Hoje, ele tinha de tomar remédio, mas cuspiu. O pai foi ajudar, ele pegou e deu um tapa no Pedro. Fiquei muito brava, disse que estava com vergonha dele e que não podia bater em ninguém, ainda mais no pai. Exigi que ele pedisse desculpas. Ele foi lá e pediu. Sou mais brava que o Pedro.

Dá pra ver, né?
Sou mais brava, sim. Eu cobro mais. A gente tem muito afeto, mas eu exijo mais. Pedro não fez o escândalo que eu fiz por ter levado o tapa.Chamei muito a atenção e ele precisa entender que não se bate em ninguém. Ainda mais em pai e mãe. Acho um horror isso, constrangedor.

Palmada nem pensar?
Ih, já dei várias palmadas. Várias palmadinhas na bunda, na mão.

Manual contigo não rola, né?
Não. Acho que nunca li um manual na vida. Tenho horror a manual, cartilha. Mas amo regras, sou virginiana. O mundo funciona graças às regras. Eu gosto de limite, trabalho com o combinado. Não pode, eu não faço.Aqui no Brasil tem muita regra e ninguém obedece nenhuma. Brasil é o samba do crioulo doido, é uma grande feijoada. Mas eu gosto de ter regras.

Seria feliz sendo diferente?
Acho que não. Eu nasci assim. Se eu fosse uma pessoa racional, que pensa do ponto de vista comercial, não daria entrevistas sendo como eu sou. Eu não sei dar entrevista e não falar o que penso. E aí o circo é montado. Mas acho que se estão me perguntando, tenho o direito de dizer. Deixo claro que o que eu digo não é a capa do jornal. É a minha opinião, é como eu penso. E sigo na minha vida. Só isso!

Não é o caminho mais fácil.
Não é. Mas eu nunca escolhi o caminho mais fácil. Desde o começo. Mas é o caminho que me traz uma relação sincera comigo. Senão eu já teria tido um câncer de não ser sincera, de fazer o que gostariam que eu fizesse. A sociedade cria personagens e quer te vestir daquela forma, querem que você funcione como a música que eles tocam. Isso não existe. Não me venham com cartilha.

Tanto na carreira ou na vida?
Na vida me dá menos trabalho. Porque, como sou independente, ninguém paga as minhas contas.

Luana Piovani conta que é criativa na camaReprodução Internet

Você se transformou agora que é Luana Piovani ou sempre foi assim?
Sempre fui. A Globo me chamou para ser protagonista de uma novela com 16 anos e eu não quis. Eu assinei contrato de dois anos com a Globo, eles queriam renovar e eu não quis. Só tive contrato essa vez na vida. Nunca fiz parte do rebanho. E não vejo problema em quem faz. Só faço a minha escolha.Tenho muita confiança em mim. Justamente por isso não tive medo de não estar contratada. Nunca achei que fosse faltar trabalho. O que não sei eu aprendo. Quanto mais trabalho, mais segura fico. Quando fui fazer ‘Dupla Identidade’ (seriado de Gloria Perez exibido em 2014), me ofereceram dois anos de contrato. Eu não quis, fechei por obra. Logo depois, fiquei grávida. Cara, olha o que perdi: grávida contratada, que é uma delícia, ter o dinheiro todo mês na conta, é quase viciante.

Você está saindo do Leblon?
É, vou pra Barra. A vida vai mudar completamente. Estou há 20 anos aqui. Cheguei a procurar casa na Gávea, mas é do lado da favela. E sou paulista. Minha relação com favela não é igual à de vocês.

Se rolar um tiroteio aqui você se joga embaixo da mesa?
Tiroteio? Você está de sacanagem. Eu só entro na favela quando a ocasião é muito especial. Não vou pra favela tomar chope. Têm vários lugares que bombam no Vidigal. Mas eu só vou lá para visitar o (grupo teatral) Nós do Morro, a (atriz) Mary Sheila, minha grande amiga. Mas eu morro de medo. Eu leio jornal todo dia, tem troca de tiro, os traficantes estão por aí,com raiva de quem quer tomar o espaço deles. São dez balas perdidas por semana.

Depois de 20 anos, pensa em morar aqui no Rio pra sempre?
Não, não penso em morar aqui pra sempre. Quero ir embora daqui. Acho que vamos morar nos EUA daqui a três, quatro anos. Não penso em carreira internacional, mas quero me sentir bem e estamos conversando sobre isso. Quero recomeçar a vida lá, não tenho medo. Vamos pra Califórnia. Está muito ruim aqui. Quero ter paz, aqui não tenho. Tenho pânico daqui. Dom não vai poder andar de ônibus nunca? Vai ser um patricinho? O garoto que tem a cara legal, um tênis maneiro, pra quem não tem é uma afronta. A culpa não é dele! É da sociedade, que não deu oportunidade. O ser humano quando tem oportunidade opta por ser bom. Eu não me conformo com os custos daqui. A gente paga bilhões em impostos e paga tudo de novo: médico, escola, segurança. É muito mais barato morar lá fora.

E a carreira?
Eu trabalho aqui sem vínculo. Nos primeiros anos, fico vindo para trabalhar, faço uma série, novela e volto. Se for mais tempo, alugo um apartamento e trago os filhos. Não quero ser atriz de Hollywood. Quero só ter dignidade e viver em paz. Eu trabalho pra c....

O que mudou em você com o episódio violento (ela foi agredida pelo então namorado, Dado Dolabella, em 2008)?
Eu nunca tolerei violência, mas depois disso virou uma bandeira. É uma causa que eu luto. Tenho certeza que meus filhos jamais farão isso, mesmo se eu não tivesse passado por isso. Não tenho vergonha da minha história, meus filhos vão saber desse fato e isso vai criar uma consciência diferente neles.

O que Pedro Scooby tem de especial?
Inteligência emocional. Isso é o negócio do futuro. Ele acreditou na minha escolha e não tem ciúme, não quer saber onde eu fui, se fiquei com alguém no passado, quantas cervejas eu tomei. Nunca fez isso. E isso trouxe paz pra nossa casa. Eu não conhecia isso. Eu não sabia que podia existir amor em paz. Eu sempre vivi amor em guerra. Enquanto era amor era muito bom, mas era muito difícil viver empilhando os pratos. Ele não carrega tinta, não faz drama. Sou intensa, minha vida foi uma bênção com ele. Desde que o encontrei, disse: “vou casar logo, não acho outro”. Estava há 35 anos girando. E olha que girei, viu?

Como lida com a tua história amorosa?
Minha história foi muito bem escrita. Não me arrependo nem das partes ruins, aprendi muito, evoluí. Tem um poema do Vinicius de Moraes que é mais ou menos assim: “Eu fui passado de mão em mão por todas as mulheres que tive. E todas elas cuspiam no meu rosto e vociferavam, enquanto me passavam de mão em mão, até que eu chegasse a você”. É a coisa mais bonita para uma coisa que a gente pensa de maneira ruim. Quanto que já rodamos até chegar à pessoa que escolhemos? É essa sensação que tenho, fui passada de mão em mão, com eles me cuspindo na grinalda, mas me enfeitando. É bom demais saber que agora é pra sempre.

Você leva a sério as coisas que posta no Instagram?
Eu me divirto, dou risada e acho uma viagem quem leva isso tão a sério. Não pode levar rede social como se fosse jornal. Só faço aquilo me divertindo. Eu tinha Twitter e me divertia muito. Quando parei de me divertir, tirei meu time de campo. Quando a pessoa é grossa, ela não muda de posição, não se desculpa. Ainda mais se toma uma bordoada três vezes maior do que me deu. Eu não fiz nada, só sacaneio depois de ser sacaneada. Então não me arrependo de nada.

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