Por tabata.uchoa

Rio - Um bom garoto, ligado aos pais, que não usa drogas e só pensa em trabalho. Muito trabalho. Mesmo não-autorizado, o livro ‘Luan Santana — A Biografia’ (Ed. Record, 224 págs, R$ 29), do jornalista Ricardo Marques, não carrega em barbaridades sobre a vida do cantor sertanejo, mas já sai do forno com impressionantes 50 mil cópias, aguardadas ansiosamente pelas fãs.

Há muitas novidades, como o sequestro que Luan quase sofreu de bandidos paraguaios em 2010 e o fato de ele ter ganhado, aos 14, o nome artístico indesejado de Gurizinho, do qual demorou para se livrar — o apelido surgiu após sua primeira gravação, ‘Falando Sério’, estourar na internet a partir de MP3 sem identificação de nome do artista. Ou a disputa silenciosa travada por ele com a dupla João Bosco & Vinicius, que gravou três músicas que Luan havia lançado (e para as quais o cantor não tinha exclusividade).

Luan Santana em um de seus showsMauricio Santana/Corbis/Latinstock

“O livro não tem revelações picantes porque a vida dele não tem isso. A juventude brasileira carece de bons exemplos e o Luan é um ótimo exemplo. Só seria possível fazer uma biografia não-positiva se fizéssemos um livro sensacionalista”, diz o editor-executivo da Record Carlos Andreazza, que tem investido em livros-reportagem e biografias de nomes como o goleiro Bruno, do Flamengo, e o empresário Eike Batista. “O livro é não-autorizado porque não o submetemos ao biografado. Se o Ricardo tivesse me procurado com uma biografia bem fundamentada que revelasse podres do Luan, e que tivesse relevância pública, lançaríamos do mesmo jeito.”

O autor Ricardo, que prefere não dar entrevistas (“hoje virou uma exigência que o escritor seja uma pessoa pública, e respeitamos a vontade dele”, diz Andreazza), havia começado o livro quando Anderson Ricardo era um dos empresários do cantor, com a conivência dele e de Luan, mas a ideia foi abandonada pelo escritório do astro. O autor retomou o projeto e procurou a Record. “Ele reescreveu todo o livro e o atualizou”, conta o editor.

A saída de Anderson da sociedade é outro episódio relatado no livro, incluindo declarações do empresário sobre “ingratidão”. “Eu quis vender minha parte na empresa e Luan não gostou disso. Tínhamos um relacionamento bem próximo. Nos afastamos, mas hoje temos carinho um pelo outro”, lembra Anderson, hoje tocando a empresa AR Live.

Servindo quase como um guia para novos astros do sertanejo, o livro destrincha o passo a passo de Luan até o estrelato, com vários shows fracassados e dinheiro investido, além das primeiras músicas lançadas via internet ou CD independentes, até o estouro com os DVDs ao vivo e com os discos lançados pela Som Livre. ‘Luan Santana — A Biografia’, por sinal,deixa de lado a vida amorosa do cantor. A única namorada documentada pela biografia é justamente Jade Magalhães, com quem o cantor acaba de reatar, e com quem foi visto publicamente. Os relacionamentos que teria tido com mulheres como a ex-BBB Cacau Colucci não aparecem na biografia.

LUAN SABE DO LIVRO
A assessoria de imprensa do cantor diz que Luan Santana sabe que o livro foi lançado, mas desconhece seu conteúdo. E diz que o ideal seria que uma biografia fosse lançada quando Luan completasse dez anos de carreira, em 2017. Mas o cantor não é contra o lançamento.

Capa da biografia de Luan SantanaDivulgação

BIOGRAFIAS LIVRES

Depois de três anos em tramitação, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou em maio o Projeto de Lei 393/11, que modifica o Código Civil e libera a publicação de “imagens, escritos e informações” sobre personalidades públicas, sem autorização delas e de seus descendentes.

O debate havia surgido quando o grupo Procure Saber (que tem como integrantes artistas como Gilberto Gil e Caetano Veloso) pôs em pauta a questão da autorização para publicação de biografias.

O SEQUESTRO

“Talvez por causa do exagero da mídia ao superestimar o lucro de Luan, aconteceu um dos raros fatos relacionados a ele que não chegou ao conhecimento do público. E um fato assustador: uma ameaça real de sequestro. Na última semana de julho de 2015, uma busca por Luan Santana no Google dava 37,1 milhões de resultados. Uma busca pelo caso do sequestro, porém, deu zero, o que é inacreditável quando se considera a impossibilidade de que algo fique assim tão oculto quando se trata de uma celebridade. Mas aconteceu, e começou em 28 de abril de 2010, quando Anderson Ricardo fechou um show na cidade de Santa Rosa del Monday, no Paraguai, a cerca de 50 quilômetros da divisa com o Brasil, perto de Foz do Iguaçu, uma região onde viviam muitos brasileiros e que registrava altos índices de criminalidade. O contrato foi feito com um empresário brasileiro que iria promover uma feira no Paraguai.

Duas semanas antes do dia da apresentação, Anderson recebeu uma ligação do contratante dizendo que fazia parte de uma quadrilha e que essa quadrilha havia decidido sequestrar Luan. Mas afirmou que gostava dele, a filha dele gostava e não queria participar do sequestro, por isso decidira avisar o que iria acontecer, para evitar um problema sério. Anderson foi então atrás do empresário, que negou tudo, dizendo que era só boato, espalhado por algumas pessoas de lá que eram contra a feira que estava promovendo, só para atrapalhar. Mas o clima pesou, segundo Anderson.

A questão é que a pessoa que denunciou o suposto sequestro tinha informações detalhadas da agenda de Luan e de toda a programação do show em Santa Rosa del Monday. Por MSN, o aplicativo de mensagens na época, o sequestrador arrependido conversou por muito tempo com o pessoal do escritório em Londrina, tudo devidamente registrado, e a Polícia Federal entrou em cena. Um delegado de São Paulo, do departamento antissequestro, fez contato com a LS Music e informou que havia recebido uma informação de um bandido paraguaio dizendo que havia mesmo o plano de sequestrar Luan no dia do show.

Por precaução, a apresentação foi cancelada. Os contratantes ainda entraram com processo, mas os representantes de Luan fizeram um acordo com eles, pagaram a multa rescisória e ficou por isso mesmo. A própria polícia recomendou que Luan não fosse ao Paraguai, e a informação não vazou para a imprensa. No fim, sobrou um período de muito sofrimento para as pessoas da família e da equipe.

Esse foi um dos raros casos de cancelamento de show de Luan. Houve outro em Bela Vista, justamente a cidade da primeira apresentação profissional, em 2007, mas por absoluta falta de estrutura e segurança para receber o número de pessoas que haviam comprado ingresso. Um terceiro cancelamento ocorreu em Araranguá, Santa Catarina, em 13 de fevereiro de 2010, quando Luan, com um problema gastrointestinal, acabou sendo internado em um hospital.

No Festival de Verão de Salvador, no início de 2011, Luan teve uma queda de pressão e foi obrigado a interromper o show na metade. Gripe, mal-estar, indisposição e dores no corpo, problemas comuns a qualquer pessoa, nunca provocaram um cancelamento de show.

O excesso de shows e de viagens, no entanto, era estressante demais, e a família tentava aproveitar os raros momentos em que se reuniam, sem compromissos profissionais de Luan. O sonho dele, em 2010, era ir a Orlando, na Flórida, para visitar o parque temático de Harry Potter, uma de suas paixões na época. Mas para isso ele precisava de um visto de entrada nos Estados Unidos, que não conseguiu porque não houve jeito de conciliar sua agenda com a necessidade de comparecimento a um consulado norte-americano — sem falar dos cuidados especiais que seriam indispensáveis para que não causasse tumulto na fila.

De fato, Luan viajou pela primeira vez para fora do Brasil apenas em 2011, quando foi com a família para um resort em Punta Cana, na costa leste da República Dominicana, no Caribe, por uma semana, quando enfim pôde relaxar, longe do assédio de fãs e paparazzi. Mesmo por pouco tempo, qualquer pausa é aproveitada ao máximo, e isso geralmente acontece na baixa temporada. No meio sertanejo, os meses de janeiro, fevereiro e março são a “baixa temporada”, quando se reduz o número de shows.

A “altíssima temporada” começa depois do Carnaval e se estende até setembro, em sete meses de atividade contínua, até que se inicia a “média temporada”, de outubro a dezembro. A agenda de shows é fechada com o máximo possível de antecedência, a fim de que haja tempo hábil para a divulgação, mas nem sempre isso é possível. A rotina de um músico de sucesso é uma sucessão de hotéis, vans, ônibus, aviões, camarins e palcos. Literalmente, eles vivem na estrada, mais do que em casa com a família, e qualquer pausa é mais do que bem-vinda”.

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