Por karilayn.areias

Rio - Aos 28, ele é protagonista pela primeira vez em 23 anos de carreira. Mas não se espante: ele começou cedo. Exatamente aos cinco anos, no grupo de teatro ‘Nós do Morro’ — o projeto social fundado por Guti Fraga em 1986, com moradores do morro do Vidigal. Thiago Martins, intérprete do garçom Júlio na novela ‘Pega Pega’, está com a bola cheia, mas permanece com os pés no chão. “Me sinto mais uma peça do time. E que time! Tem sido um privilégio. Dá um cansaço bom no fim do dia”, garante o ator que grava de segunda à sábado, semanalmente.

Thiago Martins em 'Pega Pega'Divulgação / Elvis Moreira

Na trama das sete, Thiago faz um garçom que participa do roubo do dinheiro da venda do hotel em que trabalha, se arrepende no ato e vai fazer de tudo para devolver o dinheiro. “O Júlio tem origem humilde e é um cara de natureza honesta. Ele não entra nessa por ganância, mas por necessidade. Foi criado por duas tias e está para ser despejado com elas. Se desespera, age por impulso”, defende. “É um personagem muito emocional. Saio exausto do estúdio, por conta da intensidade”.

RESPEITO E ADMIRAÇÃO

O ator se preparou acompanhando garçons em sua rotina. Inclusive os do restaurante do Projac. “Eles me dão muitas dicas e sinto que estão caprichando mais na minha comida”, brinca. Ver o ofício de perto só fez com que tivesse mais admiração por esses profissionais. “Um garçom precisa ter talento e vocação. A preocupação é com a qualidade do atendimento, com o cliente. E é preciso ter equilíbrio.Quebrei muitos copos treinando”, diverte-se Thiago.

Ele opinou sobre a recente polêmica em torno de alunos do 3º ano de um colégio no Rio Grande do Sul, que produziram uma festa denominada ‘Se Nada Der Certo’, e vestiram-se de garis, faxineiros, entre outras profissões que para eles, são de pessoas que ‘não deram certo’. “Todas as profissões devem ser valorizadas. Minha mãe trabalhou como empregada doméstica por 19 anos para sustentar a mim e meu irmão”, diz Thiago, nascido e criado no morro do Vidigal.

Ele conta que se mudou há apenas três anos: “Hoje moro no Itanhangá. Mas estou sempre no Vidigal, tenho família e amigos lá. É a minha história”, diz.

CRIME E CASTIGO

O ator procura não julgar os atos do personagem. “O dinheiro é a maior maldição do mundo. Muita gente age errado pela falta dele ou pela ganância. Já vi gente que ganhou dinheiro e mudou totalmente. Estamos vendo isso na TV todos os dias”, reflete Thiago, que buscou referências que o ajudaram a humanizar a escolha de Júlio.

Thiago Martins e Vanessa Giacomo em cena de 'Pega Pega'Divulgação / Elvis Moreira

“Por incrível que pareça, assistir à série ‘Breaking Bad’ me ajudou a compreender o Júlio. A série retrata a vida de um professor de química, que descobre um câncer, e pretendendo não desamparar a família, começa a produzir metanfetamina com um ex-aluno. Na história, o cara é correto como ele, mas se vê numa situação limite, se apavora e quer salvar a família”, esclarece. “A diferença é que na série o protagonista passa a curtir a vida bandida”. Ele revela que nunca passou por nada parecido, mas acredita que as pessoas são passíveis de perdão. “O desespero pode colocar pessoas boas em situações ruins. Acho que pode haver perdão, mas se você fez algo errado, deve responder por isso”.

Entretanto, não é só de remorso que o garçom vai viver em ‘Pega, Pega’. Júlio vai ter um romance com a investigadora Antonia (Vanessa Giacomo). Thiago diz que a policial enxerga nele sua bondade e nem desconfia que está envolvido no crime. “Ele se apaixona e fica sem saber o que fazer. Acho que ficam juntos até ele se entregar. É meu palpite”, faz suspense. “É tudo muito intenso. Ele vive essa paixão, esse dilema. Torço pelo Júlio, é um cara bom, merece ser feliz”.

E Thiago sabe que merece o momento que está vivendo. “São 12 anos de Globo. Minha prioridade é cem por cento ‘Pega Pega’. Vivo intensamente o hoje”, garante o ator, recém separado da atriz Paloma Bernardi, com quem ficou por cinco anos.

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