Por tabata.uchoa

Rio - Não havia cervejinha gelada, nem petiscos como acompanhamento, mas o encontro da Já É! Domingo com Alexandre Nero poderia ter acontecido em uma mesa de bar, tamanha a descontração. Esqueça o glamour quase onipresente entre os artistas da TV e foque em um tipo comum, boa praça, encontrado em qualquer esquina. Feito isso, você captou a alma do ator curitibano que está na boca do povo — afinal, ele é o intérprete do comendador José Alfredo, de ‘Império’.

“Quando você percebe que toda a imprensa está atrás de você, que todo mundo te chama de comendador na rua e que já teve gente indo a baile à fantasia vestido de comendador, você vê que está na moda, que virou febre. Eu sei que sou o cara do momento, mas, na verdade, o cara é o comendador, o Aguinaldo (Silva, autor da novela). O que não me deixa ficar no lugar da glamourização é saber que agora sou eu e amanhã será outro. Isso não se perpetua”, analisa.

Alexandre Nero vive o milionário José Alfredo em 'Império'Sérgio Santoian

Eterno o comendador José Alfredo não será, mas ele corre a passos largos para entrar para a galeria dos personagens inesquecíveis da TV. Tamanho sucesso, que teve início na primeira fase da novela com a também elogiada atuação de Chay Suede, pode estar ligado ao grande apelo popular do personagem, apesar de se tratar de um milionário. “O José Alfredo é uma pessoa normal, como eu, como qualquer um. É um homem com defeitos e qualidades, que, eventualmente, pode ser muito cruel ou muito bom. Ele erra, é grosso, faz uma burrada, se arrepende, tenta acertar. Por isso ele é um personagem brilhante”, explica Nero.

O brilho do comendador reflete diretamente em seu intérprete, de 44 anos, que procura se manter quase indiferente tanto às críticas como aos elogios. “Não acredito quando alguém olha para mim e fala que eu sou lindo, assim como também não acredito quando dizem que sou horroroso. Não sou lindo nem horroroso. Não sou gênio nem estúpido. Eu costumo levar as coisas na brincadeira — até a página dois, claro”, adverte.

Alexandre Nero em cena de 'Império'Divulgação

Nos últimos tempos, a página dois está diretamente ligada às especulações de que o romance entre José Alfredo e Maria Isis (Marina Ruy Barbosa) teria pulado da ficção para a vida real. “Nessa história, eu e a Marina fomos bonzinhos, levamos na brincadeira, até a hora em que começaram a abusar. O mundo gosta de pisar em cima dos bonzinhos, então não sou mais. Agora, eu sou bom e o bom combate o mau. As pessoas são tão óbvias que eu cantei essa pedra para a minha namorada (Karen Brusttolin). Eu falei: ‘Se prepara, porque vão falar m...’ Dito e feito”, desabafa.

Mas ele resolveu fazer do limão uma limonada: todo o pacote do sucesso do comendador vai dar frutos. “Vou fazer um documentário sobre o que é ser protagonista de uma novela das 21h. Estou documentando quanta fofoquinha, quanto nhem-nhem-nhem, quanto surto acontecem. Também vou falar do quanto um cara medíocre pode se tornar maravilhoso e um maravilhoso pode se tornar medíocre só porque é o protagonista do horário nobre”, adianta.

Se navegar no barco chamado ‘Império’ é tarefa para os fortes, Nero está em seu lugar. Assim como José Alfredo, ele tem uma história de luta e de vitória. “A nossa trajetória de vida se assemelha. Se ele saiu de casa aos 20 anos, venceu na vida e é um herói, então eu sou mais herói do que ele, porque saí de casa aos 16. E, sem ter ninguém ao seu redor para te guiar, você cria mesmo uma casca grossa. É tanta pancada que você acaba não confiando mais em ninguém. Só que existe um momento, que eu vivo agora e o Zé Alfredo também, que é o da casca se abrir, senão você acaba sozinho e só com o que vale muito pouco a pena, que são o sucesso e o dinheiro. Sem amigos, família, pessoas queridas próximas, o dinheiro não vale nada”, afirma.

O ponto em comum entre Nero e José Alfredo se dissipa quando o tema é sede de poder. Enquanto o comendador gosta de mandar e quer ver a sua fortuna aumentar cada vez mais, o ator não se prende às cifras. “Não tenho nenhum sonho de consumo, nenhum apego às coisas materiais. Eu sou muito simples, sou da laje e da lama. Se pudesse, gostaria de viver com meus amigos, rindo e bebendo o dia inteiro. A minha sede de fazer bem o meu trabalho é para conseguir ter longevidade e poder tomar muita cerveja com os meus amigos”, diverte-se.

E é só por conta da sonhada longevidade que Nero dá importância ao dinheiro. “Um dos meus maiores medos é ter uma velhice sem dignidade. A gente vive em um país que não cuida dos idosos. Como eu não tenho filho, não sei quem vai cuidar de mim, então penso em ter algum dinheiro para o futuro. Se eu vivesse na Suíça, que cuida muito bem dos seus idosos, ou se soubesse que ia morrer daqui a cinco anos, não ia ligar nem um pouco para dinheiro”, diz.

Mas voltar para os tempos das vacas magras é coisa que Nero também não quer. Assim como José Alfredo, que tem um diamante bruto como amuleto, o ator tem o seu, a lasca do tronco de uma árvore, lembrança de uma época difícil.

“Quando eu tinha 20 e poucos anos, eu estava na pindaíba, sem emprego, sem nada... Um dia, saí andando, desesperado, sem saber o que fazer da minha vida. Aí, chorei, abracei uma árvore, tirei uma lasca e guardei. Depois, a vida começou a melhorar, as coisas foram acontecendo e até hoje eu tenho a lasca dessa árvore. Quando eu olho para ela, lembro da época em que eu estava ferrado. Para esse lugar, eu não quero mais voltar”, recorda o ator, que começou a ter destaque na TV como o Vanderlei de ‘A Favorita’ (2009), também ao lado de Lilia Cabral, e brilhou ainda mais em 2012, em ‘Salve Jorge’, como par romântico da delegada Heloísa (Giovanna Antonelli).

O hoje, tirando uma fofoca aqui e outra ali, beira a perfeição. Até galã Alexandre — que não fazia o menor sucesso com as meninas na adolescência, ele jura — virou. “Acho que sou o primeiro cara galã gordinho do Brasil. Isso é ótimo”, exagera. Os cabelos, que ficaram ainda mais grisalhos para fazer o José Alfredo de ‘Império’, também contribuiram para aumentar o número de fãs. “É dos grisalhos que elas gostam mais. Percebi isso há 14 anos, quando surgiram os primeiros fios brancos.”

Curitibano solto no Rio

Alexandre é solar no sentido de ser uma pessoa alto-astral, de bem com a vida. Mas o ator não é uma pessoa do dia, que curta ir à praia ou dar uma caminhada no calçadão. “Sou curitibano e não me adapto ao estilo de vida do Rio de jeito nenhum. Eu sou noturno. Não vou à praia, não pego sol, morro de calor, fico no ar-condicionado o dia inteiro.”

Casamento e filhos

Namorando há quase três anos a atriz Karen Brusttolin, Alexandre Nero não pensa em mudar seu estado civil. “Casar de papel passado é uma coisa à qual sou absolutamente contra. Para mim, isso é uma burrice social. Casamento foi uma coisa absurda que a gente trouxe da época em que havia troca de dotes, de dinheiro, e que por isso se assinavam contratos. Morar junto eu já fiz, não deu certo. Um dia, pode acontecer de eu fazer de novo. Não fico planejando se vou fazer ou não, porque essas coisas não são objetivos, e, sim, consequências”, comenta. Mas ser pai não é algo totalmente fora de cogitação para o ator. “Neste momento, não estou casado, então não penso em filho. Mas acho que seria um pai bacana”, aposta.

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