Rio - Empreendedoras brasileiras em Nova York comemoram os 30 anos da lei federal HR 5050 - que estimulou o empreendedorismo feminino e criou a rede Women's Business Centers (WBC). A aprovação da lei abriu oportunidades para mulheres, inclusive as brasileiras, idealizarem o próprio negócio na terra do Tio Sam.
Há 23 anos, a ex-estilista Cristina Duarte largou o segmento de acessórios da marca Cantão e investe em uma joalheira artesã em NY. Há sete anos, ela abriu a loja Studio DuArte, no East Village, e um ano a Artist&Flea, no Soho. Cristina tentou abrir um negócio no Brasil, mas desistiu devido a burocracia e o custo alto para investir. "Paguei US$100 e em menos de duas horas abri minha empresa. Aqui eles incentivam e facilitam o pequeno empresário, diferente do Brasil que cobra uma burocracia desnecessária" conta Cristina.
A mineira Marcela Andrade se mudou para Nova York em 1986. Hoje ela é presidente de uma organização sem fins lucrativos, a Sewing The Roses, e da grife de roupas e acessórios Marcela Carvalho, no Soho.
Assim como Cristina, ela tentou abrir um negócio no Brasil, mas desistiu devido a dificuldade para o pequeno empresário. "Aqui há vários cursos gratuitos e agências preparadas para ajudar no processo, e os bancos têm ofertas de empréstimos acessíveis", comemora Marcela, que também é artista plástica e trabalha como professora no Flushing Town Hall.
Marcela, que trabalhou nos anos 90 com as top models da época como Linda Evangelista, Cindy Crawford, Carla Bruni, Naomi Campbell, e designers como Donna Karan, Calvin Klein, Carolina Herrera nos bastidores dos fashion, mostra hoje sua criatividade na roupas que vende - todas pintadas por ela a mão.
"As expectativas para esse ano é fechar com um crescimento de 80% em relação ao ano de 2016. Expandir um pouco mais o nome da grife solidificando a assinatura dos meus produtos. Quem sabe uma representação no Brasil?”, comemora.
Indo em direção ao circuito das artes no Brooklyn encontramos Larissa Ferreira, fundadora e diretora executiva da AnnexB, a primeira organização baseada em Nova York a oferecer um programa de residência artística exclusivamente para artistas brasileiros. E também embaixadora do The55Project, um projeto com componentes sociais e educacionais que desenvolve atividades culturais em Miami, Nova York e São Paulo.
Formada em Administração de Empresas, trabalhou por 10 anos em diferentes empresas e setores no Brasil, incluindo mercado financeiro e varejo. Quando se mudou para NY e 2015 para fazer um mestrado em Arts Administration teve a oportunidade de trabalhar durante uma exposição de uma artista brasileira. “Esta experiência de trabalho me fez mudar o foco da minha carreira e decidi encontrar formas de impulsionar o reconhecimento internacional dos artistas brasileiros, que, por sua vez, promoveriam a cultura brasileira no exterior”, explica.
Ela completou recentemente o primeiro ano de programação da AnnexB e conta que empreender é um desafio constante, demanda energia, persistência e visão. Até este mês foram produzidos o trabalho de 34 artistas brasileiros em Nova York, com 8 deles participantes do programa de residência. Os projetos de arte incluem: 18 murais, 5 exposições, 2 performances, 2 oficinas, 2 lançamentos de livros, bem como inúmeras visitas ao ateliê.
"Desses 34 artistas, 18 são mulheres, com sete delas (no total de oito artistas) participantes do programa de residência. Toda nossa equipe é formada por mulheres e grandes parceiros que tivemos até então, também são mulheres. Essa união sem dúvida nos fortalece”, ressalta Larissa.
Em relação ao processo de abertura do seu Ateliê, Larissa conta que o processo burocrático para abrir seu negócio em Nova York a surpreendeu positivamente, assim como os incentivos para startups. “Em Nova York, existem diversos incentivos a arte e cultura. Na minha opinião, o grande diferencial para as organizações de artes sem fins lucrativos nos Estados Unidos é a cultura de doações individuais e incentivos fiscais do país.”
A primeira temporada da AnnexB (2016-2017) se concentrou em artistas cujas práticas envolvem a arte urbana. “Em 2018, nosso programa de residência se concentrará na prática social, portanto, aberto a artistas brasileiros trabalhando em todas as formas de arte social, como ativismo, preocupações ambientais e climáticas, questões de raça e gênero, imigração, comunidade e engajamento público. Inclusive, vamos divulgar em breve o nosso Open Call para 2018. Nosso objetivo para o próximo ano é solidificar nosso programa de residência e se tornar um satélite: um anexo, para arte brasileira em Nova York.
Reportagem de Viviane Faver