Por gabriela.mattos
Brasília - Fenômeno monetário da década, o bitcoin dispara na cotação na mesma velocidade com que surgem dúvidas, interessados e críticas — até economistas com Prêmio Nobel na estante torcem o nariz para a criptomoeda. Se é uma bolha e quando vai estourar, ninguém sabe; o certo é que muitos já ganharam milhões apostando com carteiras virtuais. O câmbio é dinâmico. Às 22h de sexta-feira, quando esta reportagem foi fechada, um bitcoin valia mais de R$ 50 mil.

Ao contrário do real, do dólar e do euro (e por aí vai), o bitcoin não é regulado por nenhum Estado, muito menos tem um Banco Central tomando conta. A lisura dos processos, garantem os operadores, está nos milhões de computadores que validam cada transação. Todas, desde 2009, estão em um 'livro-caixa' público e inviolável, o 'blockchain'.

Veja como funciona a criptomoedaArte / O Dia

Um gigante

No começo do ano, um bitcoin era negociado por mil dólares (R$ 3.300), mas seu valor se multiplicou por 15, estimulado pelo interesse dos mercados americanos, que preveem lançar este mês contratos a prazo.
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Atualmente, o valor de mercado do bitcoin é superior ao da Coca-Cola e ao Produto Interno Bruto de um país como a Finlândia. "A evolução do preço é excepcional e não tem equivalentes. Essa dinâmica é claramente uma bolha, só não sabemos quando vai estourar", garante Neil Wilson, analista da ETX Capital.
Muitos discordam. "Quem fala em bolha não tem o menor conhecimento histórico do bitcoin. O mundo digital requer economistas que analisem melhor esse histórico. A bolha até vai estourar, mas vai se recuperar de novo, como aconteceu umas cinco vezes e voltou com preço quatro vezes maior", atesta Rocelo Lopes, CEO da CoinBR, uma das corretoras em atividade no Brasil.
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Adilson Silva, da Mazars, empresa de auditoria e consultoria, acha inevitável a comparação com moedas físicas. "O dólar, por exemplo, tem um laço econômico; já o bitcoin é especulativo, é oferta e demanda: quanto mais pessoas compram, mais ela sobe, e quanto mais pessoas vendem, ela decai. O risco é muito grande. Por outro lado, é uma forma de pagamento importante, não podemos fechar os olhos para isso. No Brasil, 2.000 comércios já aceitam", enumera.
'Pirata'
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Joseph Stiglitz, Nobel de Economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial, é curto e grosso. "Por que as pessoas querem essa 'moeda alternativa'? É para participar de atividades ilícitas: lavagem de dinheiro, evasão fiscal", fuzilou, em entrevista à BBC. Jean Tirole, vencedor em 2014, faz coro. "Não tem valor intrínseco, pode afundar da noite para o dia. Por isso, não gostaria que os bancos franceses investissem no bitcoin."
O risco, de fato, é uma unanimidade. "Há investidores cientes disso: 'Eu sei que tem o risco, mas tem os números, o histórico". E tem a questão de o usuário poder executar o investimento a qualquer momento, sem ter que ligar para banco", comenta Rocelo. "Não é uma atividade econômica regulada. A moeda sobe e desce muito rapidamente e, apesar de a rentabilidade ser grande, o risco também é", resume o professor de economia do Ibmec-RJ Ricardo Macedo.
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No Brasil, bancos estão hesitantes
?A CoinBR, uma das operadoras que trabalham com criptomoedas, teve problemas. Sem dar muitas explicações, Itaú e Bradesco decidiram unilateralmente encerrar as contas da empresa, que no entanto recorreu à Justiça e conseguiu mantê-las por liminares.
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Mesma sorte não teve a Mercado Bitcoin, cuja conta de pessoa jurídica no Itaú foi extinta depois de longa batalha que parou no STJ. À 'Veja', o CEO da corretora, Rodrigo Batista, afirmou possuir 520 mil clientes e estimar receita de R$ 2 bilhões só este ano.
"Há muitas notícias boas, como o Japão reconhecer o bitcoin e a Coreia do Sul aumentar a plataforma. Aqui no Brasil a gente vê mais corretoras entrando. E há interesse do eBay, da Amazon e da Aliexpress de aceitarem a moeda", exemplifica Rocelo, o CEO da CoinBR.
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Curiosidades
?Quem é o pai?
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O bitcoin surgiu de um estudo assinado por um tal de Satoshi Nakamoto, que jamais deu as caras. Especula-se que seja um grupo por trás de um pseudônimo.
De grão em grão
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Você não precisa comprar um bitcoin inteiro. Há frações e frações da moeda, a preços acessíveis.
?Minerar é preciso?
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Há quem gaste um bom dinheiro montando computadores robustos para validar as transações. A cada lote de mineração, os primeiros a verificar a autenticidade da transferência ganham frações da moeda. Mas hoje a atividade já não vale mais tanto a pena, por exigir muito da máquina.