Por luana.benedito

Rio - Animal, Careca, Boi, Gordo. São exemplos de apelidos que, mesmo adotados no ambiente de trabalho em tom de brincadeira, podem virar assunto sério e parar na Justiça, com pedido de reparação moral ao trabalhador.

Antônio (nome fictício) tinha 22 anos quando atuou como estagiário em um escritório de advogados. Na época, mudou o visual só por causa do apelido. Os cabelos longos deram lugar a um corte mais conservador. “Um dos advogados me chamava de ‘Jesus’. Aquilo me incomodava. Até que decidi cortar os cabelos para acabar com aquela situação”, lembra. Dez anos depois do episódio, ele acredita que adotaria uma postura diferente, caso esse tipo de situação voltasse a ocorrer. “Eu era muito novo e nem demonstrava que aquilo me incomodava, porque tinha receio de que essa postura pudesse me atrapalhar profissionalmente”.

Uso de alcunha no local de trabalho pode virar processo trabalhista. Empresas podem abrir canal de denúncia para atenuar o problemaDivulgação

Parte significativa dos processos trabalhistas no Brasil surgem em decorrência de apelidos despretensiosos no ambiente de trabalho. Especialista em Direito trabalhista, a advogada Michely Xavier recomenda que esse tipo de brincadeira seja evitada. “A imputação de apelidos depreciativos é um comportamento abominado pela Justiça do Trabalho. Quando comprovados, são veemente recebidos com a devida reparação moral ao trabalhador”, aponta.

Segundo ela, esse tipo de situação se agrava quando o apelido é usado pelos superiores hierárquicos. “Um exemplo é um caso em que o empregado possuía uma cicatriz no rosto em virtude de um acidente de bicicleta. Ele era chamado pelos seus encarregados de ‘cara rachada’. Isso o tornava motivo de chacota e ele foi indenizado pelo abalo moral sofrido”, lembra.

EMPRESAS PODEM SE PRECAVER

O uso de apelidos jocosos é uma das situações cotidianas que podem causar desentendimentos. Mas as empresas podem tomar atitudes para se precaver, estabelecendo regras para administrar a relação de amizade entre superiores e subordinados, vinculadas como parte das diretrizes da organização. “Mas há o risco de possuir um superior hierárquico que abuse de seus direitos e a diretoria nem saber que tem em seu quadro de hierarquia um assediador. Por isso, a empresa deve possuir um canal para receber sugestões, reclamações e denúncias”, sugere a advogada Michely Xavier.

Mas a falta de ação para coibir desmandos pode fazer a situação sair do controle.

Você pode gostar