Rio - Ex-governador do Rio, o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco (PMDB), diz que o estado vive uma ‘suruba eleitoral’, parodiando seu colega de partido e prefeito Eduardo Paes. Aliado do vice-presidente, Michel Temer, Moreira condena o vaivém do PMDB na disputa ao Palácio do Planalto que, no Rio, rachou: parte apoia a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff e outra ala faz campanha abertamente para o presidenciável tucano Aécio Neves. Em entrevista ao DIA, Moreira apostou num segundo turno no Rio entre Luiz Fernando Pezão e Anthony Garotinho, mas está convicto da vitória do governador.
O DIA: Como está o PMDB no Rio?
Moreira: Como diz o Eduardo Paes, o Rio está dando uma demonstração vigorosa de bacanal. Mas bacanal é uma palavra muito feia. Suruba eleitoral é melhor. Ele tem toda razão. O único candidato ao Senado que apoia a Dilma é o Lupi, do PDT. O PT foi o primeiro a fazer coligação com o PSB, que apoiava um outro candidato. E quando o Romário foi anunciado, o discurso dele foi de críticas à candidata do PT. E isso se repete no PMDB. Então,eu não consigo entender como o eleitor vai conviver com essa distorção de lados.
Mas e o senhor, como está convivendo com essa suruba?
Quando eu estava acabando o meu governo no Rio (1987-1991),o Gilberto Rodrigues, que era o presidente da Assembleia e o presidente do PMDB, me procurou trazendo uma proposta do Cibilis Viana (que foi secretário de Fazenda do governo de Leonel Brizola), de uma aliança PMDB/PDT, com Brizola para governador e eu para senador.O Gilberto todo animado. Eu disse para ele exatamente isso: “olha, não dá. Como é que eu vou explicar para o eleitor como nós nos reencontramos. Como vai ser essa explicação? Impossível”.
Aqui no Rio, o Lindberg não teve seus motivos também para apoiar o PSB porque a presidenta foi a primeira a sinalizar que a preferência dela era o Pezão e não pelo senador?
Não teve, não. O Lindberg foi senador na aliança com o PMDB. E ele ganhou em todos os municípios do estado. Só perdeu em Nova Iguaçu. O vice-prefeito da cidade do Rio de Janeiro é do PT. Havia um bom entendimento e isso tudo foi colocado antes. As coisas não se deram assim de uma hora para a outra. Eu fui governador e não há na história do Estado do Rio de Janeiro, nem quando a cidade do Rio era a capital, um governo federal que fez tanto investimento, colocou tanto recurso, quanto o governo do Lula. E, consequentemente, da Dilma.O PT é que quebrou esse entendimento. Não fomos nós do PMDB.
Mas como é que está agora o PMDB no Rio? A Dilma vai vir aqui? Porque, na prática, o PMDB daqui está fazendo campanha para o Aécio.
Nós já viemos aqui e vamos andar o estado todo. Nós somos os que dentro do PMDB cumprem a decisão da convenção nacional, da aliança com a Dilma, de apoio a um vice-presidente que é presidente nacional do partido. Estivemos em Niterói na semana passada.
Mas quem é, além do senhor, aqui no Rio que pede voto para a Dilma?
Pezão é o cara que chega e diz “eu voto na Dilma”. A Dilma esteve numa reunião na Baixada com vários prefeitos. A maioria dos prefeitos do PMDB estava lá. O Eduardo Paes lidera um grupo de apoio a ela. Existem divergências? Existem, mas vamos para a luta eleitoral.
Mas tem um monte de propaganda do Pezão pedindo voto pro Aécio.
Nós começamos aqui dizendo que isso aqui era um ambiente de suruba. Você está querendo fidelidade num ambiente de suruba, não dá. É que nem aquela música do Mamonas Assassinas.
Com a morte do Eduardo Campos, a aliança ‘Aezão’ perde força?
Eu não acho que a luta eleitoral seja uma coisa tão cheia de nuances. Só tem dois lados. Governo e oposição.
E hoje quem representa a oposição? É o Aécio ou é a Marina?
É o Aécio. A Marina é uma candidata que só está no páreo há três dias. O Eduardo queria abrir uma terceira via, então aí você tinha um discurso, uma candidatura, hoje você não tem. Eu nunca vi a Marina falando. Política é feita de postura, de atitude, não é só de pesquisa. A pesquisa vai retratar uma realidade a posteriori. É importante que a Marina defina como vai assumir e se vai assumir a postura de oposição. E se ela vai conseguir tirar esse papel do Aécio.
Por esse raciocínio, então, o senhor acha que ela tem poucas chances de se consolidar e chegar ao segundo turno?
Eu acho que ainda é cedo. Temos que esperar um pouco, ter calma, para ver como é que os ‘russos’ vão fazer a leitura dessa situação.Como é que ela vai resolver questões como o agrobusiness. Você tem que definir sobre o problema energético, como é que nós vamos resolver. Nós temos aqui uma energia barata, que é a hidrelétrica.
A presidenta vem fazer campanha de novo para o Pezão?
Vem, claro que vem.
Quando o senhor fala que existe governo e oposição, aqui no Rio o governo é o Pezão. Qual é a oposição?
Eu acho que aqui o Pezão ganha a eleição e a disputa, na minha opinião, vai ser com o Garotinho.
Aqui no Rio o Pezão é Dilma e Sérgio Cabral é Aécio?
Acho que sim. Acho que para o Rio de Janeiro, a melhor opção é Dilma e Pezão. Para continuar esse ciclo de investimento, de transformação econômica e social que nós vivemos.
Mas por que o senhor acha que o Garotinho interromperia isso? Ele é da base da Dilma também.
O tipo de visão de governo que o PMDB e o Pezão têm é mais adequado às necessidades da população do Estado do Rio. É só ver o volume de obras que foram realizadas e precisam ser continuadas. O Garotinho realizou muita coisa naquela época. Mas esse ciclo que estamos vivendo precisa ter continuidade. E esse ciclo se expressa na política que vem sendo adotada pela Dilma e pelo Pezão.
É um risco para o Estado do Rio uma eventual eleição do Garotinho?
Risco é uma palavra muito forte. A palavra é não tem benefícios tão evidentes como a continuidade Dilma-Pezão.
Entrevista concedida a Aziz Filho e Eugênia Lopes