Por bianca.lobianco

Rio - A presença de tropas federais foi apontada como solução para os problemas das eleições em áreas dominadas por traficantes ou milícias. Mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou o pedido considerando-a “uma intervenção”. As tropas estão longe de enfrentar práticas clientelistas e assistencialistas que predominam nas favelas.

Um exemplo é o Complexo da Maré, ocupado pelo Exército desde abril e onde há 140 mil moradores. Lá, como constatou O DIA esta semana, imperam o assistencialismo e a troca de apoios entre associações de moradores e políticos. E chovem reclamações de candidatos que se dizem impedidos de fazer campanha livremente.

Pelas ruas, não faltam placas, faixas e galhardetes de candidatos, de dois grupos: os reconhecidos por algum trabalho social, como Gerson Bergher (PSDB) e Paulo Melo (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa; e os “nascidos” na favela, como Del (PSDC) e Jarbas Oliveira (PEN), que apostam no passado de líderes na comunidade para se eleger.

A disputa é forte em favelas como a Nova Holanda e o Parque União. Elas estão cheias de placas de candidatos%2C como o veterano Gerson Bergher (PSDB)Carlo Wrede / Agência O Dia

Gerson Bergher, candidato à reeleição para a Assembleia Legislativa alega que quem não é ligado ao candidato a governador Anthony Garotinho (PR) está tendo dificuldade de fazer campanha. “Tive placas rasgadas”, denuncia o deputado.

Não é difícil, porém, encontrar na favela propaganda do candidato, regalia dos tempos em que manteve com a mulher, a vereadora Tereza Bergher, centros sociais na Maré. “Eles davam tudo. Remédio, fisioterapia, tudo. As pessoas sentem saudade”, diz Neuma Batista, da Associação de Moradores do Parque União. “Eu trabalho por Gerson Bergher e pelo governador Luiz Fernando Pezão”, afirma uma liderança da Baixa do Sapateiro.

Já Paulo Melo (PMDB) diz que sua campanha não teve problemas, mas admite dificuldades com a campanha de Pezão (PMDB). “Esse negócio de ameaça é a maior burrice. Na urna, o voto é secreto”, lembra.

O trunfo do deputado foi o auxílio à construção de um campo de futebol e a simpatia da associação de moradores de Rubens Vaz. “Estou com Paulo Melo há 20 anos. Os governantes não fazem nada, mas ele, pelo menos, ajuda”, diz um dos diretores.

Recentemente, fiscais do TRE apreenderam material de Garotinho na sede da associação de moradores da favela Salsa e Merengue. A “chave” para a entrada do material de Garotinho teria sido Hildebrando Rodrigues, o Del, candidato a deputado do PSDC — partido da base de Pezão.

Del foi o braço do prefeito Eduardo Paes na Maré por seis anos, como chefe da 30ª Região Administrativa. Candidato a vereador em 2012, resolveu apoiar Garotinho neste pleito. “Ele defende bandeiras do esporte, e eu trabalho com isso na Maré”, justifica Del.

Segundo ele, qualquer um pode fazer campanha na Maré. “Depois da apreensão do TRE, mais candidatos vieram colocar suas placas. Está tudo mudado. Agora, entra todo mundo. É o samba do crioulo doido.”

Associações: apoio e projeção

Edilmo Batista, um dos diretores da Associação de Moradores do Parque União é claro ao falar do que espera dos políticos: “Quem dera viesse um candidato dando cesta básica, uma ambulância. Abraçaria esse cara, pediria voto para ele, porque não dá mais pra gente ficar fazendo tudo sozinho”.

Segundo Batista, a entrada de candidatos é livre, mas há, em suas palavras, uma “confusão” com os tempos anteriores à chegada do Exército. “De vez em quando, vem um assessor perguntando se pode colocar placa. Não tem que pedir. Tem que ver com o morador. O tráfico não interfere aqui”, afirma ele.

Seu irmão, Deraldo Batista, também diretor, conta que candidatos oferecem dinheiro por apoio. “Vêm aqui com um trocadinho, uns mil reais. Não quero saber deles, diz o líder comunitário.

O trabalho comunitário é um dos trunfos de Jarbas Oliveira (PEN), presidente da sede da Nova Holanda por seis anos, para tentar se eleger deputado federal. Ele ingressou na vida pública como assessor dos deputados Paulo Melo (PMDB) e Samuel Malafaia (PSD).

Segundo Oliveira, a relação entre associações de moradores e políticos sempre existiu na Maré. “Os candidatos sempre procuram uma referência da comunidade para ter mais credibilidade. Mas a Maré não quer mais só isso”, resume

Sem problemas’, alega comando da Força de Pacificação na área

Gerson Bergher e Pedro Paulo aparecem em muitas placas na MaréCarlo Wrede / Agência O Dia

Para o comando da Força de Pacificação da Maré, tudo vai bem, e a campanha eleitoral está ocorrendo num contexto de “liberdade democrática”, sem problemas para os candidatos. Até o momento, não foi registrada nenhuma denúncia em relação ao impedimento de qualquer candidato na área. Pezão e Garotinho já fizeram caminhadas pela região, sem que nenhum incidente fosse registrado.
Por e-mail, o general Francisco Brito, comandante da Força de Pacificação da Maré, tranquilizou os eleitores e também os candidatos.

“Estamos permanentemente atuando nas ações de garantia da lei e da ordem pública e dos direitos e garantias individuais na Maré. Atuamos em conjunto com órgãos de segurança e ordem pública, com outras agências governamentais e não governamentais, realizando patrulhamento ostensivo, revistas e prisões em flagrante. Desta forma, no contexto de nossas operações, até o momento não ficou evidenciada nenhuma ação específica do tráfico que tenha relação com as eleições”.

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