Rio - Cerca de 30% do valor total arrecadado pelos três candidatos à Presidência mais bem posicionados nas pesquisas foram doados por empresas investigadas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras. Dos R$ 185 milhões que Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) arrecadaram do início da campanha até 2 de setembro, R$ 56 milhões vieram de empreiteiras cujos contratos com a estatal estão sob análise da CPMI por suspeita de irregularidades. O DIA também apurou que as empresas sob suspeita doaram mais de R$ 150 milhões aos diretórios de 21 partidos. Os dados foram obtidos no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O envolvimento de empresas no escândalo passa por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, acusado de participar de um esquema de lavagem de dinheiro público comandado pelo doleiro Alberto Yousseff. Costa intermediava a operação entre as empreiteiras investigadas pela CPMI e a Petrobras. No fim de semana, a revista ‘Veja’ publicou o nome de políticos envolvidos no esquema delatados pelo diretor em depoimento à Polícia Federal, entre eles os atuais presidentes do Legislativo, ministros do governo Dilma e três ex-governadores.
Proporcionalmente, Dilma Rousseff e Aécio Neves empatam em arrecadação das empresas investigadas: 32% do total de cada um. A diferença está nos valores: Dilma recebeu R$ 39,95 milhões, enquanto Aécio obteve R$ 14 milhões.
Entre as empresas doadoras com os contratos sob análise da CPMI estão a OAS, UTC Engenharia, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Odebrecht e Andrade Gutierrez.
A candidata do PSB Marina Silva, que arrecadou menos entre os principais presidenciáveis, também recebeu menos das empresas citadas: dos seus R$ 19,5 milhões, 10% vieram dali, ou R$ 1,9 milhão.
LUCRO DAS EMPRESAS
Um requerimento elaborado pelo senador Álvaro Dias (PSDB/PR) pediu em maio que a CPMI solicitasse cópia dos contratos das empresas com a Petrobras. Além das empreiteiras já citadas, o documento também pede detalhes sobre outras prestadoras de serviços que supostamente também cometeram irregularidades.
O documento mostra um levantamento que apresenta os lucros das prestadoras de serviços da Petrobras. Outra investigada pela CPMI, a Iesa, responsável pela construção de peças para plataformas, faturou mais de R$ 5 bilhões, segundo o relatório.
Dez empresas turbinam orçamento das campanhas em todo o Brasil
A influência das empresas investigadas pela CPMI nas eleições deste ano se manifesta nas centenas de doações feitas aos diretórios de 21 partidos. A partir dos dados do site do TSE, O DIA concluiu que dez empresas são responsáveis pela movimentação de, no mínimo, R$ 150 milhões em campanhas Brasil afora.
O PT lidera. Do começo da arrecadação até agora, o partido recebeu R$ 32,6 milhões. O diretório nacional da legenda ficou com boa parte deste montante, R$ 32,1 milhões, o que daria cerca de R$ 3,6 milhões para cada um dos 88 deputados petistas na Câmara — o PT tem a maior bancada da Casa.
Maior partido da oposição ao governo Dilma, o PSDB é o segundo que mais recebeu doações das empresas. Foram R$ 28,7 milhões, que poderiam ser divididos entre os 44 deputados federais da legenda — cerca de R$ 636 mil. Os tucanos concentraram boa parte das suas doações no diretório nacional, mas em São Paulo, onde o partido tem forte reduto, e em Minas Gerais, estado do qual Aécio Neves, candidato à Presidência, foi governador, as empresas também fizeram doações. Os mineiros receberam R$ 2 milhões, enquanto para o diretório paulista foi doado R$ 1,6 milhão.
Por uma pequena diferença, o PMDB fica atrás do PSDB no ranking das doações. O partido, dono da segunda maior bancada da Câmara, recebeu R$ 28,6 milhões, cerca de R$ 397 mil para cada um dos 72 deputados da legenda. O diretório do Rio foi o que recebeu maior montante: R$ 4 milhões.
O PP, partido da base aliada que também teve políticos delatados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, figura em sétimo lugar no ‘ranking’ dos que receberam doações: R$ 6,8 milhões, atrás do DEM, PR e PSD. O PSB de Marina Silva aparece na “modesta” décima quinta posição, tendo recebido apenas R$ 1,4 milhão, cerca de R$ 62 mil para cada um dos 24 parlamentares que compõem a bancada na Câmara.
Reportagem Leandro Resende e Juliana Dal Piva