Rio - A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) está promovendo pelo Brasil uma campanha para pedir aos eleitores que não deixem a religião influenciar na hora do voto. Mensagens escritas em outdoors e cartazes em bancas de jornais defendem uma eleição mais laica. “Não vote com fé, use a razão” e “Sua religião não é nossa lei” são algumas das mensagens espalhadas por cidades como São Paulo, Florianópolis e Belo Horizonte. No Rio,os textos aparecem na avenida Marechal Rondon, na altura do Engenho Novo.
“As pessoas votam em negros, mulheres, homossexuais. Mas não votam em ateus. Há muito preconceito”, argumenta Daniel Sottomaior, presidente da Atea, que admite uma influência cada vez maior da religião na política. Segundo ele, houve dificuldades da campanha para encontrar empresas dispostas a instalar placas e cartazes com as mensagens, temerosas de suposto descumprimento da lei eleitoral.
Para Sottomaior, o atual cenário da campanha presidencial mostra um “desastre anunciado”. Segundo ele, os principais candidatos têm procurado o apoio de líderes religiosos como forma de garantir a simpatia desses grupos – mesmo que isso envolva a mudança de posições sobre temas polêmicos e o engavetamento de discussões como a legalização do aborto e o casamento entre homossexuais.
“Imagina se houvesse uma bancada ligada às sinagogas, que resolvesse impedir o consumo de carne de porco no Brasil?”, compara, em referência à bancada evangélica do Congresso Nacional, que, para ele, impede a discussão de temas importantes.
Daniel classifica como “romaria” a ida de Dilma ao encontro do pastor Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, na inauguração do templo de Salomão, e de Aécio com lideranças da Assembleia de Deus no Brasil. Mas é Marina quem mais “mistura” os mundos da política e da religião.“A campanha dela é mais grave, porque ela tem uma postura messiânica, diz que Deus a impediu de entrar no avião (que matou o então presidenciável Eduardo Campos). Além disso, ela diz que usa a Bíblia antes de tomar decisões e pastores comandam sua campanha através de mensagens na internet”, analisa.
Para ele, a presença de um pastor candidato à Presidência (Everaldo, do PSC) agrava ainda mais a questão da laicidade do estado. “As pessoas querem se eleger às custas da religião e do dinheiro dela”, resume.
Psol e PV defendem estado laico
No debate entre oito presidenciáveis promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na terça-feira, apenas Luciana Genro (Psol) fez defesa enfática do estado laico. “Não sou religiosa, mas respeito. Não vou me converter ao sabor de uma necessidade eleitoral, como muitos fazem. A laicidade do estado deve ser defendida para todas as religiões e para quem não tem nenhuma”, declarou a ex-deputada.
Eduardo Jorge (PV) também manifestou-se favoravelmente à legalização do aborto, proposta que enfrenta resistência entre religiosos. “Enquanto uma mudança cultural não acontece, não podemos abandonar 800 mil mulheres que interrompem a gravidez no Brasil. Vamos acolher no SUS as mulheres, evangélicas e católicas, que fazem aborto”, disse.
Pastor Everaldo e Eymael (PSDC) recorreram a nomes vinculados ao cristianismo. Aécio Neves criticou a lei que criminaliza a homofobia, que tramita no Congresso. “Precisamos definir se esse é o instrumento adequado para combater o preconceito”, afirmou.
Reportagem de Leandro Resende