Por bferreira

Rio - A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, assumiu nesta quarta-feira ser favorável à lei aprovada no Congresso Nacional, em 2012, que altera os repasses dos royalties dos estados produtores de petróleo, como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. A Secretaria de Fazenda estima que, com a nova lei, o Rio perderia, por ano, R$ 1,6 bilhão.

Para uma plateia de cerca de 200 pessoas e ao lado do cantor e compositor Gilberto Gil%2C a candidata diz que “cultura não é custeio%3B é investimento”Carlo Wrede / Agência O Dia

“Foi feita uma discussão no Congresso. Nesse momento está sendo apreciado pela Justiça na mais alta Corte e a mais alta Corte irá se pronunciar. Nós defendemos a forma como foi aprovado no Congresso (Nacional)”, afirmou Marina, em entrevista coletiva no Rio, ao ser questionada sobre o assunto.

O impasse na lei, criticado pelos estados produtores, aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), desde que o Congresso derrubou no ano passado o veto da presidenta Dilma Rousseff. A petista queria retirar o artigo que permitia a mudança nos atuais contratos. Os royalties são verbas obtidas com a exploração do petróleo, como forma de compensação por possíveis danos ambientais causados pela extração.

Pela maneira como ficou aprovada a Lei dos Royalties no Congresso, e que Marina se diz favorável, os estados produtores, que recebem 26% do dinheiro, teriam a fatia reduzida para 20%. Para os municípios a diminuição é mais severa: iriam de 26,25% para 15% no ano seguinte, chegando a apenas 4% em 2020. O prejuízo estimado do Estado do Rio com o novo modelo chegaria a R$ 27 bilhões em 2020. Já o Espírito Santo deixaria de receber R$ 10,5 bilhões.

No começo do mês, Marina emitiu uma nota negando que fosse a favor da revisão dos contratos.“Marina jamais defendeu ou defenderá projeto para rever os contratos dos processos de exploração de petróleo em vigor. Os estados produtores, como Rio e Espírito Santo, dependem desses recursos para alimentar suas economias”, informava a nota. Ela, no entanto, não fez menção à posição favorável à Lei dos Royalties que permite a mudança nos contratos.

A declaração de ontem é semelhante a quando Marina foi candidata pelo PV em 2010. “Penso que a distribuição dos royalties não deve ficar apenas com os estados produtores”, disse ela ao DIA, naquela ocasião. Marina completou dizendo que Rio de Janeiro e Espírito Santo precisam ser “valorizados”, mas a ex-senadora não deixou clara como seria a compensação de recursos aos estados produtores.

Marina também falou ontem sobre mudanças na legislação trabalhista. Na terça-feira, a ambientalista disse que a coligação estuda atualizações das leis “sem prejuízo do trabalhador”.

Marina ressaltou ontem que os direitos básicos não serão modificados. “Em relação aos direitos dos trabalhadores, suas férias, FGTS, todas as conquistas devem e precisam ser respeitadas. Nosso programa é claro”, afirmou a candidata. No programa de governo está descrito apenas que serão propostas “modernizações” nas relações entre empresas e empregados para “dar maior segurança jurídica” sem especificar quais seriam as mudanças.

‘Cara de santinha e vontade de ódio’

Citado com frequência pela presidenciável Marina Silva (PSB) como representante da “velha política”, o senador José Sarney (PMDB-AP) disse que a candidata ao Planalto tem “cara de santinha” e “vontade de ódio”. “A dona Marina, com essa cara de santinha, mas ninguém mais radical, mais raivosa, mais com vontade de ódio do que ela. Quando ela fala em diálogo, o que ela chama de diálogo é converter você”, afirmou Sarney, em comício no Maranhão.

Vice na chapa de Marina, o deputado Beto Albuquerque (PSB) disse ontem que “ninguém governa sem o PMDB”. “Mas isso não significa que seja preciso entregar o governo ao PMDB ou a qualquer partido. Temos um programa”, observou. Segundo ele, em um eventual governo do PSB será criado “um ambiente de respeito na política, valorizando todos os deputados e não apenas poucos aliados”.

Artistas pedem mais espaço

Em sua passagem pelo Rio, Marina Silva (PSB) ouviu ontem as demandas de artistas para o setor cultural em um encontro mediado pelo ator Marcos Palmeira na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. No ato, dez representantes da categoria apresentaram exigências para o setor, como o ensino de música nas escolas e mais investimentos na área. O músico Charles Gavin, ex-membro dos Titãs, cobrou da candidata uma maior representatividade do Ministério da Cultura.

“Queremos deixar de ser o eterno patinho feio do Estado, de ser mais uma das pastas que servem como moeda de troca”, pediu.

O ex-ministro da Cultura do governo Lula Gilberto Gil compôs uma música em homenagem à candidata. “Marinar vou eu / votar na Marina / Marinar”, cantarolou o músico, que votou na candidata também em 2010.

Em sua fala, Marina afirmou que a cultura deve ser vista como investimento, não como custeio. “Tive o prazer de ser ministra ao lado do Gil, e sempre lutamos contra o contingenciamento de recursos para a cultura e para o meio ambiente”.

Cerca de 200 pessoas estavam presentes ao encontro, entre eles os atores Jorge Pontual, Christine Fernandes, Vitor Fasano, Eriberto Leão, o músico Jorge Mautner, a cineasta Carla Camurati e o antropólogo Luiz Eduardo Soares. Caetano Veloso, um dos primeiros a apoiar Marina publicamente, não compareceu.

Colaborou Caio Barbosa

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