Por thiago.antunes

Rio - Com chances reais de chegar à Presidência da República pela primeira vez, o ascendente PSB pode ter seu crescimento brecado na votação para os demais cargos neste ano. Embalado pelo clima marineiro, o discurso dos dirigentes da legenda é otimista, mas pesquisas indicam que a sigla pode perder governos e deve sair menor que em 2010 na Câmara dos Deputados. No Senado, a situação é diferente. O partido pode dobrar sua bancada se o resultado dos atuais levantamentos se consolidar.

Os dirigentes do PSB calculam que terão entre 35 e 40 representantes na Câmara dos Deputados a partir de 2015, mas o prognóstico feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) é mais modesto. Na projeção do órgão, o PSB deverá eleger entre 23 e 34 deputados federais.

Para Antônio Queiroz, diretor do Diap, a morte de Eduardo Campos trouxe dificuldades para viabilizar candidaturas locais, já que Marina Silva (PSB) não é uma liderança natural do partido. “O PSB vinha crescendo e podia crescer muito mais. Mas era o Campos quem pilotava e organizava isso”, avalia.

Marina Silva caminha com Romário na Rocinha%3A o ex-jogador deve se eleger facilmente no Rio e ajudar o PSB a aumentar bancada no SenadoMárcio Mercante / Agência O Dia

O desafio será se recuperar do encolhimento de sua bancada. De 2006 para 2010, o PSB aumentou sua representação em 30%, passando de 27 eleitos para 35, mas uma debandada na atual legislatura diminuiu a participação para 24 deputados.

O partido vai apostar no conjunto das coligações, pois não conta com puxadores de votos destacados. No Rio, Romário preferiu se candidatar ao Senado. Em São Paulo, Márcio França não concorre, pois é vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo. Em Minas Gerais, a aposta era em Alexandre Kalil, presidente do Atlético Mineiro, que desistiu da disputa após a morte de Campos. O deputado federal Júlio Delgado (MG) conta com os votos de legenda de Marina para superar a perda. “Os votos de legenda dela vão compensar a falta de um puxador forte”, afirma.

Mas a influência da ex-senadora ainda é uma incógnita. Para o coordenador financeiro da campanha de Marina, Márcio França, o partido também contará com os votos de legenda dados por eleitores que irão se confundir nas urnas, digitando o 40 (número de Marina Silva) no campo, primeiro, de deputado estadual e, depois, no de deputado federal. Já o secretário-geral da sigla, Carlos Siqueira, acredita que esses votos não serão tão significativos. Em 2010, os 20 milhões de votos de Marina não catapultaram a bancada do PV. O partido elegeu 13 deputados federais, mesmo resultado da eleição de 2006.

Clique no infográfico para ampliar a imagemArte%3A O Dia

No Senado, a situação é mais confortável. O PSB tem quatro senadores, todos com mandato até 2019. A direção acredita que pode chegar a oito ou nove eleitos. O Diap estima que o crescimento terá como limite sete senadores. Até agora, quatro candidatos da sigla lideram em seus estados: Roberto Rocha (MA), Romário (RJ), Paulo Bornhausen (SC) e Wilson Martins (PI) .

Dos três governadores que tentam a reeleição, nenhum lidera as pesquisas

Nas eleições para governador, o quadro do PSB é mais problemático. Em 2006, a legenda teve o segundo melhor desempenho do país, elegendo seis governadores. Perdeu apenas para o PSDB, que elegeu oito. Dos três candidatos do partido que tentam a reeleição (em Paraíba, Espírito Santo e Amapá), nenhum é líder nas pesquisas. A maioria dos demais candidatos próprios lançados também não emplacou.

Uma das melhores chances é em Pernambuco, onde Paulo Câmara, afilhado político de Eduardo Campos, tem subido rapidamente nas pesquisas. Na pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira, ele tinha 38% dos votos, contra 32% de Armando Monteiro Neto (PTB). No Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB) lidera contra o governador Renato Casagrande (PSB), por 42%, a 29% do candidato à reeleição.

Na Paraíba, o atual governador, Ricardo Coutinho, também enfrenta dificuldades para se reeleger. Com 33% das intenções de voto segundo o Ibope, ele luta para ultrapassar Cássio Cunha Lima (PSDB), que conta com 47% do total.

Nesta semana, uma reviravolta beneficiou o partido no Distrito Federal. O líder nos levantamentos, José Roberto Arruda (PR), renunciou à candidatura após cair na lei da Ficha Limpa. Com isso, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) foi de terceiro para primeiro lugar, ultrapassando Agnelo Queiroz (PT). Em Roraima, o governador Neudo Campos (PP) também renunciou e colocou em seu lugar a esposa, Suely Campos (PP). No entanto, não houve medições para avaliar se a troca beneficiou o PSB, que estava em segundo.

Para Carlos Siqueira, secretário-geral do PSB, nem sempre as pesquisas são fiéis aos resultados das urnas. “Na eleição passada, ninguém dizia que iríamos eleger seis. O governador da Paraíba perdeu nas pesquisas até de boca de urna e foi eleito”, afirmou.

Presidente terá que negociar mais

Não é só o PSB que terá dificuldades para crescer na Câmara dos Deputados. Levantamento feito pelo Diap mostra que a Casa estará mais fragmentada em 2015, com a entrada de novas legendas na disputa, como o Pros, Solidariedade e PSD. “Todos os grandes partidos vão cair em relação a 2010, como resultado dessa salada geral”, prevê Queiroz, do Diap, avaliando que o próximo presidente terá que ter mais jogo de cintura para negociar no Congresso.

Na estimativa média do órgão, o PT, que fez 88 deputados em 2010, fará 82. O PMDB, que elegeu 72, fará 60. Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara, não prevê crescimento no número de deputados eleitos, mas acredita que o partido irá se igualar à marca de 2010. Mesmo se continuar como a segunda bancada da casa, o fato é que o partido continuará a ser imprescindível para garantir a governabilidade do próximo presidente, e há líderes de outros partidos que temem que o PMDB saia maior que em 2010.

Na avaliação de Cunha, a aliança com o PT durante a última legislatura acabou atrapalhando o crescimento. “Não vamos eleger mais por conta dessa aliança em que o PMDB foi tratado como segunda categoria. As políticas públicas foram voltadas para onde o PT tinha influência, e o PMDB se prejudicou”, avalia ele, que estima que a bancada do Rio no Congresso será de dez parlamentares.

No Rio, Romário lidera com folga

O Rio de Janeiro é o estado em que o PSB tem a posição mais confortável para a disputa no Senado. Na última pesquisa do Datafolha, divulgada na quinta-feira passada (11), o deputado federal Romário abriu 21 pontos de vantagem contra Cesar Maia (DEM). O ex-jogador tem 43% das intenções de voto contra 22% do democrata.

Apesar de praticamente garantir uma vaga para a legenda no Senado, Romário vai fazer falta na chapa proporcional, onde poderia ser um bom puxador de votos para o partido no estado.
“Pode ser que haja uma perda quantitativa, mas existe uma compensação qualitativa”, avalia o secretário-geral do partido, Carlos Siqueira.

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