Por bferreira

Rio - Enquanto a sociedade discute a morte de duas mulheres no Estado do Rio após saírem para fazer abortos clandestinos, há três brasileiros que passam ao largo do assunto. Na opinião de entidades de defesa dos direitos da mulher, são justamente os que deveriam estar debatendo o tema: Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).

Ontem, após as constatações das mortes de Jandira Magdalena dos Santos e Elizângela Barbosa, a Anistia Internacional apelou por um debate sobre a interrupção da gravidez. “É tema que não pode ficar fora da agenda pública nacional”, diz a nota.

Tradicionalmente, o aborto é varrido para debaixo do tapete em campanhas. Na corrida eleitoral deste ano, somente candidatos nanicos se posicionaram a favor do procedimento, como Luciana Genro (Psol) e Eduardo Jorge (PV).

O tucano Aécio é a favor da manutenção da lei atual. Marina é contra a prática, mas admite o assunto seja debatido em plebiscito. No programa de governo dela, o aborto não é mencionado.

Dilma não falou sobre aborto na campanha. O documento com diretrizes genéricas do seu governo também não trata dele. A assessoria da presidenta enviou o posicionamento da candidata em 2010, quando afirmou ser a favor da lei atual, sob pressão dos cristãos.

“Perguntar se os candidatos são a favor ou contra é uma falsa pergunta. O que deve ser pautado é como essa interdição está afetando a vida e a saúde das mulheres. A proibição, seja legal ou religiosa, não tem impedido as mulheres de interromper a gravidez”, diz a coordenadora da ONG Católicas Pelo Direito de Decidir, Rosângela Talib. “Esse silêncio é assustador, principalmente em uma semana em que duas mulheres morreram de forma tão trágica”, diz.

Para Jolúzia Batista, assessora do Centro Feministas de Estudos e Assessoria (Cfemea), a omissão dos políticos em relação ao tema só agrava uma realidade que está posta. No Brasil, uma em cada cinco mulheres com até 40 anos já fez um aborto, segundo pesquisa do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis).

O procedimento é apontado como a quinta maior causa de mortalidade materna no país. “É, no mínimo, irresponsável que os candidatos coloquem isso como um tabu, quando é um tema de saúde pública”, diz.
Para Lúcia Xavier, da ONG Crioula, o problema está no jogo de interesses que envolvem os eleitores mais conservadores. “É um tema usado como moeda de troca. Para os fundamentalistas, não tocar no aborto significa mais votos”, critica.

Eleição interna causa polêmica

Uma eleição marcada para antes de 5 de outubro, data do primeiro turno, agita os bastidores do PSB, partido da candidata à Presidência Marina Silva. Ontem, ela foi a ato de apoio organizado por sindicalistas em São Paulo.

Vice da chapa, Beto Albuquerque criticou a decisão de Roberto Amaral, presidente da legenda, de marcar para segunda-feira a eleição da nova Executiva. “Não fui consultado. Isso é completamente incompreensível. É um atropelamento desnecessário”, criticou Beto Albuquerque.

Amaral, candidato à reeleição na presidência do partido, não comentou as declarações de Albuquerque. Segundo ele, a data foi definida por Eduardo Campos, então presidente do partido, morto em agosto.

Internamente, a indicação do nome de Marina Silva como candidata à Presidência ainda reverbera. Ontem, o cientista político Moniz Bandeira, um dos maiores especialistas em Relações Internacionais no Brasil, enviou carta a Amaral dizendo que a candidata “joga a história do PSB no lixo.”

Moniz, que foi filiado à legenda antes do golpe que instaurou uma ditadura militar no Brasil em 1964, classificou a postura de Marina sobre política externa como “desastrosa”. Na carta, destacou as declarações dela a favor do alinhamento com os Estados Unidos.

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