Rio - Democracia nas eleições é assim: revela sempre surpresas. É o caso dos dois deputados mais votados do Rio: Marcelo Freixo (Psol) e Jair Bolsonaro (PP), um estadual e o outro federal, respectivamente, que têm ideologias completamente antagônicas. Freixo, representante da esquerda, comemora sua consagração para o terceiro mandato, com uma votação surpreendente nas áreas controladas por milícias.
Em 29 bairros dominados por paramilitares, ele ficou entre os três mais votados em 17 delas. Sem contar com votos de eleitores da Zona Sul, artistas e intelectuais.
“Acho que desmistifiquei aquela ideia de que eu era o candidato da Zona Sul, apenas”, diz Freixo, que recebeu telefonemas da presidenta Dilma Rousseff e do governador Luiz Fernando Pezão. Ele revela que está na sua melhor fase da carreira.
“Chorei e comemorei minha vitória com minha filha Isadora, de 16 anos, que votou pela primeira vez, e com minha namorada, Priscila, 29”, diz, lembrando que sua campanha foi bancada por 622 doadores, nenhuma pessoa jurídica.
Já Bolsonaro, ícone da direita, da qual se orgulha, confessa ter se surpreendido com a enxurrada de votos que recebeu, principalmente em zonas eleitorais de bairros nobres, como Barra da Tijuca e Copacabana.
“É a guinada da direita, e vamos rumo à Presidência”, empolga-se, de olho na eleição de 2018, e garantindo ter tido apoio apenas de 30 voluntários em sua campanha, que, ainda conforme ele, não teria ultrapassado R$ 200 mil.
'Desmistifiquei aquela ideia de que eu era
o candidato da Zona Sul, apenas'
Deputado estadual mais votado para seu terceiro mandato (350.408 votos), Marcelo Freixo (Psol) disse ontem à noite que “a ficha ainda não caiu” sobre seu sucesso nas urnas, especialmente em áreas dominadas por milícias, cujo combate sempre foi uma de suas bandeiras, além do apoio de artistas e intelectuais.
“É um momento fantástico. Já chorei muito de emoção. Acho que desmistifiquei aquela ideia de que eu era o candidato da Zona Sul, apenas”, revela Freixo, aos 47 anos. Ele recebeu ligações da presidenta Dilma Rousseff — que agradeceu o fato de ele ter declarado publicamente seu voto a ela no segundo turno —, e do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), apelando por diálogo ao longo dos próximos quatro anos, numa eventual continuidade de seu governo.
“Dilma agradeceu, disse que sabe que tenho divergências com seu governo, mas garantiu ter tido um alento pessoal, comentando: ‘Se por um lado temos o Bolsonaro (representante da direita, que se reelegeu deputado federal com 464 mil votos), por outro, temos você’, detalhou Freixo.
Entre Pezão e Crivella, Freixo reafirmou que a tendência do Psol é a neutralidade. “Eu seguirei a orientação do partido”, adiantou, comentando que Pezão disse não ser Cabral, que sabe que ele não terá seu apoio, mas pedindo diálogo. “O programa de Pezão a gente nem discute. Com o de Crivella, há incompatibilidades”, justificou, avisando, ao se referir à bancada de seu partido, agora com cinco integrantes: “Vamos dar trabalho”.
'Não recebi nada da Friboi. É a guinada da direita, e vamos rumo à Presidência'
Polêmico. Autoritário. Preconceituoso. Homofóbico. Esses são apenas alguns dos adjetivos usados na hora de se referir ao deputado federal Jair Bolsonaro, o mais votado do Rio, com invejáveis 464.572 votos. Vaidoso? De certo que sim. “Sabe aquele aluno que se prepara para o vestibular? Esse sou eu”.
Num lampejo de humildade, o deputado deixa escapar que os quase 500 mil votos o surpreenderam: “Não esperava. É a guinada da direita, e vamos rumo à Presidência”, diz de olho na eleição de 2018. O deputado insiste em dizer que sua campanha contou apenas com 30 voluntários e que não custou mais de R$ 200 mil. “Não recebi nada da Friboi”, alfineta.
Mesmo afirmando ter feito campanha com poucos recursos, teve muitos votos em todas as zonas eleitorais do estado. Em Niterói, surpreendeu com 21.828 votos. No município do Rio, a soma chegou a 261.751 votos. Chama a atenção a quantidade de votos que ele obteve na emergente Barra da Tijuca: 15.485.
Em Copacabana e na Tijuca, outros bairros tradicionais de classe média, foram mais de cinco mil votos em cada . Em Campo Grande, Marechal Hermes, Realengo e Vila Militar, o número de eleitores que votou no candidato do PP ultrapassou a marca dos 20 mil. Para a cientista política Isabel Lustosa, a votação expressiva num candidato linha-dura como Bolsonaro é preocupante. “Há um sentimento de direita latente na classe média. Milhares de pessoas hoje estão se posicionando a favor da pena de morte, da redução da maioridade penal e em propostas antidemocráticas. Isso é assustador”.