Por bferreira

Rio - Destaque nos debates da TV e nas redes sociais com suas fotos no Carnaval fantasiado de Mulher Maravilha e de bailarina, candidato Tarcísio Motta, do Psol, passou a segunda-feira recebendo cumprimentos na Praça São Salvador, em Laranjeiras, onde já era famoso, mas apenas como diretor do bloco carnavalesco Bagunça Meu Coreto.

Tarcísio Motta comemora boa votaçãoCarlo Wrede / Agência O Dia

Desconhecido do eleitorado fluminense até o início da campanha, Tarcísio Motta contava com a popularidade dos parlamentares do Psol Marcelo Freixo e Chico Alencar, e com a indignação da multidão que foi às ruas em 2013 para se apresentar como mais alternativa de oposição ao PMDB. Mas acabou aparecendo apenas na última semana, quando pulou de 1% para quase 6% das intenções de voto.

O resultado nas urnas, no entanto, foi ainda melhor. Foram 712 mil votos, quase 9% do total, o terceiro lugar na capital, o segundo em Niterói, bons resultados também na Rocinha, em Manguinhos e, claro, em Laranjeiras, reduto do Psol, onde superou Lindberg, Crivella, Garotinho & cia. O motivo do sucesso? O bom desempenho no debate da Globo, tão criticada pelo próprio candidato.

"A eleição mostrou o quanto a gente estava certo em apostar numa candidatura alternativa e o quanto o poder de uma grande emissora pode influir no resultado. A Globo nos escondeu a campanha toda. E nossa participação no debate fez uma diferença enorme. Isso não é bom para a democracia", disse Tarcísio.

Bem-humorado, o candidato psolista não acredita que o vazamento de suas fotos fantasiado no Carnaval tenha sido o fator responsável pelo seus crescimento na última semana.

Candidato do Psol superou as expectativas e teve mais de 700 mil votos no EstadoCarlo Wrede / Agência O Dia

"Acho que ajudaram. Sozinhas, não fariam isso. A gente temia que essas fotos, no início, prejudicassem a campanha no sentido de ridicularizar a candidatura e despolitizar o debate. Mas no fim casou bem a lógica do candidato que mandava bem no debate com o que se fantasiava no Carnaval. Ficou verdadeiro. Eu prefiro estar de bailarina no Carnaval do que de guardanapo na cabeça em Paris. Sou esse mesmo: vascaíno, me visto de mulher, bebo cerveja e gosto de política", brincou.

Professor de História do Colégio Pedro II, Tarcísio fez parte da turma que foi às ruas no ano passado exigir mudanças e esperava que elas viessem nas urnas, de forma acachapante. Não foi o que aconteceu.

"É lamentável. Acho que as Jornadas de Junho polarizaram ainda mais o debate, permitindo o avanço, no legislativo, de candidatura de extrema-direita e extrema-esquerda. As manifestações precisam ser bem estudadas. Ainda não tenho a resposta para o fenômeno. Mas acho que junho ajudou eu chegar a 9% dos votos", diz.

Comunista de carteirinha, Tarcísio reconheceu que há entre os partidos mais à esquerda uma dificuldade em falar a língua do eleitorado que eles querem representar, e que isso tem resultado nas urnas a cada eleição.

"Esta é uma autocrítica necessária que temos de fazer. Precisamos repensar nossa forma de comunicação. Isso muitas vezes acaba sendo desprezado pela esquerda mesmo", admite Tarcísio.

Candidato pela primeira vez na vida e crítico feroz dos políticos tradicionais, Tarcísio riu lembrando dos debates da TV, quando teve de dividir o mesmo espaço com adversários históricos.

"Foi inusitado eu ali no meio de dois senadores, o governador e um ex-governador. Mas sempre digo que são pessoas como nós, que representam uma parcela da sociedade e merecem o nosso respeito", pondera.

Como momento inesquecível, Tarcísio destacou o "Cadê o Amarildo?" dito a Pezão no debate da Globo.

"Sem dúvida foi o momento que vou lembrar para sempre. E esta questão era uma opção desde o início da campanha, mas era séria demais para ser colocada de uma forma leviana", explicou.

A boa votação de Tarcísio acabou criando um 'problema' na família, afinal, ele havia prometido a mulher que seria a única vez em que se candidataria, meio que para cumprir um dever cívico dentro do partido.

"Só que a minha votação acabou impondo algumas responsabilidades. Vamos ver o que me aguarda", diz Tarcísio, que já admite uma candidatura a vereador em 2016. "Para prefeito, o candidato é o Freixo", avisou, já acabando com possíveis especulações. "E com uma frente de esquerda, mas que ultrapasse a esquerda partidária para já. Foi uma infelicidade não termos construído isso para estas eleições. O Psol deveria ter se esforçado mais", admite.

Em relação ao segundo turno das eleições presidenciais e para o governo do Rio, Tarcísio diz que vai aguardar a posição do Psol. Mas adiantou suas opiniões: votar em Aécio e Pezão, de jeito nenhum. Quanto a Dilma e Crivella, há mais chances de um apoio a presidenta do que ao senador, mas esta opção não está descartada.

"Pezão, nunca. Somos oposição a este governo. O Crivella tem alguns pontos semelhantes ao nosso, como a promessa de acabar com as OSs (Organizações Sociais) na saúde e as críticas à meritocracia na educação. Mas há outras incompatíveis, como a militarização da vida e ausência de compromisso com a pauta LGBT e das mulheres. Estamos entre indicar o voto nulo ou indicar que não se vote apenas no Pezão", diz Tarcísio, quase caindo novamente num discurso acadêmico.

No plano federal, é provável que faça como o amigo Marcelo Freixo, que já declarou apoio a Dilma Rousseff. Mas avisa que ainda é cedo para fazer isso publicamente.

"Quero esperar mais um pouco. Acho que os movimentos sociais deveriam elaborar uma espécie de carta-compromisso para sinalizar responsabilidades com os nossos setores. Feito isso, é possível um apoio. Vamos ver o que vai acontecer", disse Tarcísio.

No fim da papo, o candidato lembrou que sua primeira entrevista foi dada ao DIA ("está lá na parede") e contou um bastidor do debate da Globo, quando fez uma provocação bem-humorada a um dos diretores da emissora.

"Disse para ele: tá vendo? Se tivesse me colocado para dar entrevista ao RJ TV, eu tinha aumentado a audiência de vocês", concluiu.

Você pode gostar