Por thiago.antunes

Rio - A principal proposta da ‘Zona Eleitoral’, programa exibido na internet anteontem, é subverter tudo aquilo que remeta à política tradicional. No lugar do paletó e da gravata, bermudas, chinelos e vestidos decotados. A bancada e os assentos do Congresso são o meio-fio da calçada, que também serve de mesa para a cerveja gelada.

Em vez de caixas de som potencializando as vozes de um comício, um grupo de teatro mostra sua arte. Os militantes partidários são crianças, que correm sem carregar bandeiras de campanha e só querem brincar. O clima lúdico, porém, não disfarça que o assunto é sério: os rumos do país, às vésperas das eleições presidenciais de segundo turno.

O nome do evento, que será realizado diariamente até o dia 26, data da eleição, faz uma analogia ao local em que foi realizado: um bar no coração da Vila Mimosa, tradicional reduto da prostituição no Rio de Janeiro. Com muito bom humor, a libidinagem característica da região sai de cena para as atrações, que vão desde entrevistas com parlamentares à exibição de peças de teatro. No fim, o volume aumenta e começa uma festa: tudo ao ar livre e de graça.

Em espetáculo que mistura encenação e debate%2C organizadores ocupam espaço cercado por casas de prostituição como cenárioPaulo Araújo / Agência O Dia

Carla Santos, integrante de um dos grupos que organizam o movimento, explica que o nome é um trocadilho com a bagunça que marca o sistema político . “O brasileiro fala de política no bar, no samba, a toda hora. Aqui, é uma simulação de toda nossa diversidade”, disse Carla.

Para a estreia, dois membros recém-reeleitos para a “zona” de Brasília foram entrevistados: os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB) e Jean Wyllys (Psol). “Esse ato torna visível um lugar do Rio que, para muita gente, é invisível”, afirmou Jean, autor de projeto de lei que regulamenta a prostituição, pouco antes de mandar um “beijinho no ombro” para os que acharam que ele não seria reeleito.

Já Jandira afirmou que ir ir à Vila Mimosa ajuda a quebrar preconceitos. “Estou indo para o sétimo mandato, sempre sofrendo preconceito pela minha posição e até pelo nome do meu partido”.
Entre crianças, atores e artistas, a maioria dos que compareceram à ‘zona’ ostentava ‘alegorias e adereços’ em apoio à reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Local se torna cenário e alternativa a gabinetes e salões fechados normalmente usados pelos políticos Paulo Araújo / Agência O Dia

Numa campanha marcada por ataques e trocas de acusações, em que os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) se ofendem todo o tempo, o objetivo dos organizadores é montar um novo espaço para o debate sobre política, com humor e irreverência. Temas como sexo e cultura também não ficaram de fora do debate. “Aqui é um ambiente para discutir com mais amor e menos ódio, para que as pessoas consigam debater”, disse Carla.

Ela disse acreditar que a política está contaminada pelo ódio. “As pessoas são tão incisivas em seus argumentos que não conseguem se ouvir. Aqui é um espaço para propor esse diálogo.” A Geni, personagem criada pelo compositor Chico Buarque na ‘Ópera do Malandro’, foi a responsável pela abertura do evento. Na história, ela é um travesti que se prostitui e, mesmo vítima de preconceito, se sacrifica para salvar a cidade. A atriz Renata Batista, que fez parte da apresentação, diz que faltam ‘genis’ na política do país. “Fizemos crítica de forma lúdica, porque precisamos de políticos que se entreguem pelo povo.”

Reportagem de Leandro Resende

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