Rio - Em último debate antes das eleições, na TV Globo, os candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), foram diretos quanto a propostas e encontro foi menos "turbulento. Apesar de início áspero, onde ocorreram as já esperadas "alfinetadas", eleitores ganharam, principalmente com a novidade no formato do encontro, onde os candidatos puderam se dirigir a 70 eleitores ainda indecisos e discutir propostas efetivas para o futuro do país.
O acordo entre as legendas de pararem ataques não era balela. E apesar do clima mais ameno, mostrando a que veio, Aécio Neves abriu a rodada de perguntas citando acusações feitas a atual presidente e ao ex-governante Luiz Inácio Lula em matéria que estampa capa da revista Veja. O tucano não mediu esforços para as críticas e chamou a campanha da adversária de a "mais sórdida" das campanhas eleitorais.
A petista rebateu a matéria da revista afirmando que "o povo não é bobo" e que a informação está sendo manipulada pelo veículo. "Nós sabemos pra quem fazem campanha essas duas revistas", emendou a candidata petista. Se dirigindo diretamente à publicação, Dilma foi enfática ao dizer que a tiragem "não apresenta prova nenhuma do que faz".
Seguindo com a guerra inicial de alfinetadas, depois de citar reportagem da Veja, Aécio falou que governo petista "espantou investimentos externos" e fracassou em diversos sentidos, como de indicadores sociais, por exemplo. O tucano continuou com o despejo de ataques contra a adminstração petista e, numa abordagem direta, disse à adversária: "a senhora será a primeira presidente da república a deixar o país, depois do Plano Real, com a inflação maior do que quando recebeu".
Surpreendentemente, os blocos intercalados serviram para acalmar os ânimos dos candidatos e garantiram ao telespectador ouvir ações propositivas dos postulantes. Com isso, temas como: infraestrutura, programas sociais, inflação, combate à corrupção, educação e outros, puderam ser abordados amplamente. Raras foram as vezes em que a platéia precisou ser contida e o jornalista que atuou como mediador, William Bonnner, foi mais "generoso" ao permitir que candidatos finalizassem raciocínio, mesmo com o tempo de fala estourado. Dilma, aliás, foi a campeã em ultrapassar o tempo limite. Aécio foi mais correto neste ponto.
Com perguntas pré-formuladas, a participação dos eleitores indecisos enriqueceu a discussão entre os candidatos. Com isso, alguns temas como violência, programas direcionados para aposentados, qualificação do emprego e moradia puderam ser abordados. Sobre o INSS, inclusive, Aécio disse que fator previdenciário será revisto, caso ele seja eleito. Na réplica, a petista lembrou ao senador que tal fator foi criado no governo do PSDB e disse que, se reeleita, discutirá soluções com centrais sindicais. Voltando ao senador, o tucano prometeu criar "rede de proteção para os aposentados" e mais casas de cuidados para idosos.
O tema falta d'água em São Paulo foi um dos pontos sensíveis em que os candidatos voltaram a se estranhar. A candidata do PT atribuiu ao governo tucano o problema e caracterizou como calamitosa a situação dos paulistas. "Não planejar no estado mais rico do país é uma vergonha", completou a presidenta. Para Aécio, houve sim falha de planejamento em abastecimento em água e senador jogou a culpa no governo federal.
Em outro assunto considerado fundamental e exaustivamente citado nas campanhas dos postulantes, Dilma e Aécio voltaram a divergir sobre a necessidade de uma reforma política. Aécio defendeu uma de suas bandeiras que é o mandato de cinco anos, sem reeleição. Já a petista disse que a questão da reforma política não é a reeleição, e sim o financiamento empresarial das campanhas, ao qual a candidata chamou de "vergonha". Dilma defendeu também o fim da coligação na eleição proporcional e pontuou: "Acho que o senhor não tem interesse na reforma política", voltando-se para Aécio Neves.
Bastidores após debate
A primeira a conceder coletiva após o debate foi Dilma Rousseff, que chegou à sala de entrevistas pedindo perdão pela rouquidão.
Dilma disse acreditar que o debate foi importante para esclarecer e dar condições ao eleitores e o embasamento efetivo para o voto e negou que 2015 será um ano difícil economicamente, como a oposição "tem dito".
"Se levarmos em consideração a grave crise internacional, eu acredito que o Brasil tem todas as condições para ter nos próximos meses um contexto mais favorável", afirmou.
Perguntada pela TV japonesa se o Brasil terá seus investimentos em infraestrutura pronta a tempo para as olimpíadas, a presidenta afirmou que "sim, nós teremos". "Assim como na Copa tivemos que assegurar infraestrutura em 12 cidades sem problemas, nós faremos nas olimpíadas. O COI já considerou que estamos em dia." Ela disse ainda ter fé para que o povo brasileiro não queira o retrocesso mas o avanço.
Já o candidato tucano disse aos jornalistas na coletiva de imprensa que "travou um bom combate" nestas eleições, numa referência bíblica, e afirmou chegar ao final da campanha "leve", com a oportunidade de "mobilizar o Brasil para um grande movimento para melhorar a qualidade de vida do brasileiros".
O tucano chamou de vândalos e repudiou o ataque ao prédio da Veja. Segundo ele, é preciso prezar pela liberdade de imprensa e disse que é o tipo de ato que merece "o repudio de todos os brasileiros".
Ele também afirmou à TV publica chinesa que uma de suas primeiras viagens ao exterior, se eleito, será a China. Ele afirmou ainda que valorizará as parcerias com o país.
O tucano prometeu também demitir "de imediato toda a diretoria da Petrobras", o que será, para ele, uma medida "moralizadora da estatal, bem como (fará o mesmo) nas outras estatais".
A um repórter angolano, afirmou que as parcerias com países da África serão estimuladas e que a Angola, principalmente, está no "radar" de sua política externa.
Aécio disse lamentar que "este ciclo de governo do PT venha a ser lembrado na história como o ciclo de corrupção" e reclamou do que, segundo ele, é a eleição marcada por mentiras e pelo baixo nível na disputa, que creditou ser culpa da campanha adversária.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, negou que a falta d'água no estado prejudique a eleição de Aécio Neves. Para ele, Dilma foi infeliz ao utilizar o problema, "pois atinge todo o país" e não só o estado. Para ele, o problema de abastecimento em São Paulo "pegou mal" para a candidata petista.
Já na opinião do tucano José Serra, senador eleito por São Paulo, Aécio, seu companheiro de partido, saiu vencedor do debate e ganhará votos. "Ele mostrou que está mais preparado para governar o país", disse. Ele afirmou que o clima na campanha é de "trabalho, trabalho, trabalho" até o dia da eleição.