Por fabio.klotz

Rio - Por baixo da camisa xadrez, quatro singelas medalhinhas (Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora de Fátima, São Bento e uma do Flamengo) são exemplos da fé que move a vida do eterno Deus da Raça rubro-negro, Antônio José Rondinelli Tobias. Desde que encerrou a carreira, aos 34 anos, jogando pelo Goiás, o ex-zagueiro tenta compreender o significado maior da vida em peregrinações religiosas.

Rondinelli%2C o Deus da RaçaCarlos Moraes / Agência O Dia

Ele já fez por três anos o Caminho da Fé: percorreu os 380km que separam São José do Rio Pardo, sua cidade natal, ao Santuário de Aparecida. Adora livros como o “O Alquimista” de Paulo Coelho, ou as obras de autoajuda de Augusto Cury. E só não fez ainda o Caminho de Santiago de Compostela porque morre de medo de avião.

“Sou devoto de Nossa Senhora de Fátima e desse paizão de amor de misericórdia, mas tenho paúra de altura”, confessa, ao mesmo tempo em que tira do bolso da calça um terço: “Esse é meu tercinho de dezena que uso quando viajo sozinho. Coloco no dedo e vou rezando, meu ‘Pai Nosso’, minha ‘Ave Maria’.”

As medalhas que acompanham RondinelliCarlos Moraes / Agência O Dia

Mesmo admitindo ser católico e ecumênico, ao mesmo tempo, Rondinelli não se considera religioso: “Não posso dizer que sou um homem religioso. Não sou beato. Mas presto muita atenção aos sinais. Eles são muito fortes.”

Foi graças à sua forte intuição que o zagueiro levou a torcida do Flamengo ao céu na decisão do Campeonato Carioca de 1978, contra o Vasco, no Maracanã. Aos 41 minutos do segundo tempo, o ex-zagueiro seguiu os sinais e marcou o gol que garantiu a vitória por 1 a 0 e o título.

“Tive a intuição de tentar o cabeceio. Apesar de ter 1,78m, tinha uma impulsão extraordinária. Quando fiz o gol entrei em êxtase. Vamos dizer que foi melhor que um gozo, foi um prazer supremo”.

Passados quase 35 anos da conquista, até hoje a torcida rubro-negra reverencia o velho ídolo, que vive há três décadas em Cabo Frio, onde é dono de postos de gasolina.

Coutinho%2C técnico do Flamengo%2C e Rondinelli%3A época de sucesso e títulosArquivo

“Já conheci muitas crianças com o nome de Rondinelli, Rondinélio, Rondinélias, em jogos do master do Flamengo pelo País. É gratificante. Um dia vou embora daqui, mas só vai existir um único Deus da Raça. É emocionante (seus olhos lacrimejam). Sou eternamente grato a Deus e a essa torcida maravilhosa”.

Fratura traumática e perda da audição

Rondinelli marcou época no FlamengoArquivo

Um dos capítulos mais traumáticos da carreira de Rondinelli ocorreu no primeiro jogo da final do Brasileiro de 1980, contra o Atlético-MG, no Mineirão. Naquele dia, o zagueiro fraturou o maxilar e perdeu parte da audição, após receber uma violenta cotovelada do atleticano Palhinha.

“Havia uma rivalidade muito grande entre Atlético e Flamengo. Após a cobrança de escanteio, o Palhinha me deu uma cotovelada e depois perdi 70% da audição de um ouvido. Ainda fiz uma cirurgia de nove horas no queixo e coloquei um fio de aço”, lembra Rondinelli que desmaiou com a violência da jogada.

“Acordei alucinado no vestiário achando que tinha sido o Éder. Fui ao vestiário do Atlético para pegá-lo, mas fui contido por um jornalista. Mas não guardei rancor. Só tenho que agradecer a vida por tudo que me deu”.

Noitada com misses no Sul ficou famosa

Discreto, Rondinelli evitou revelar os bastidores dos anos 70 e 80. Soltou apenas uma história dos tempos em que um dos seus melhores parceiros era Nelsinho da Brahma.

“Teve um jogo em 74, no Sul do País, em que ficamos hospedados no mesmo hotel que as candidatas a Miss Brasil. Você não imagina o entusiasmo da rapaziada. Chegamos a pular da sacada de um lado para outro para fugir da marcação. Não posso dizer o que aconteceu, mas ninguém ficou no 0 a 0”.

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