Catar - A primeira temporada de Nenê no Catar ainda não explodiu como uma grande sensação. No entanto, a expectativa do craque é bastante positiva. Com um desempenho regular do Al-Gharafa nos torneios atuais, o camisa 10 é um dos trunfos do time para conquistar títulos, fato que não aconteceu na última temporada. Mesmo adaptado ao time, Nenê revela que o desejo de voltar para o Brasil não é algo deixado de lado em sua carreira.
Feliz pela chegada de Zico para o posto de treinador da equipe, fato que ocorreu há cerca de dois meses, o meia-atacante garante que a oportunidade de trabalhar com um dos grandes ídolos é a melhor possível e que este é um dos fatos muito importantes para que a equipe volte a brigar por conquistas. No entanto, o carinho pelo Santos e Palmeiras e o grande desejo de atuar no Rio (o Flamengo já demonstrou interesse em sua contratação) podem fazer o jogador retornar ao país ao término de seu contrato (no fim de 2014).
Nesta entrevista, Nenê comentou como vem sendo a primeira temporada no Catar, fez um grande balanço das temporadas em que atuou no Monaco e no PSG, as atuais potências do futebol francês, e ainda ressaltou o sonho constante de defender a Seleção, fato que o craque espera que aconteça quando firmar seu retorno ao Brasil. Confira, na íntegra, o bate-papo com o camisa 10 do Al-Gharafa.
??O DIA: Como está sendo esta primeira temporada no Al-Gharafa???
Nenê: A equipe, em si, não está tão bem, mas estamos num bom processo de evolução. Nosso time atuou desfalcado por muitos jogos, e apenas no último jogo do campeonato que estávamos disputando atuamos com a equipe completa, quando mostramos um futebol muito bom. Temos um elenco muito jovem, com o próprio Miku, da Venezuela, e o Lisandro, que voltou de lesão há pouco tempo. Acho que a ideia é essa, estar sempre evoluindo para conseguir coroar este primeiro momento aqui.
Ter sido eleito o melhor em campo na estreia da Copa do Catar dá um incentivo a mais?
É algo legal. Eu ainda sou muito exigente, não só comigo, mas com o grupo todo. Gosto de ganhar sempre. Mesmo sendo eleito o melhor em campo, faltou a vitória para coroar isso e me deixar totalmente feliz. De outro lado vejo que o time está se encaixando, o que mostra que estamos no caminho certo. De certa forma incentiva, até porque o que mais quero é que a equipe possa buscar esses títulos que estamos disputando.
Tem se adaptado com facilidade ao Catar?
Está sendo tranquilo. No começo foi um pouco complicado em razão do próprio futebol, cujo nível é um pouco mais baixo do que na Europa, e o ambiente de jogo, já que não temos muita gente presente nos estádios. Isso foi o mais complicado no início, mostrando que temos de estar motivados de qualquer maneira e fazer o melhor trabalho possível. Mas de resto foi tudo numa boa. Os treinos aqui são sempre na parte da tarde, então isso nos dá uma boa liberdade de fazer outras coisas durante o dia e conseguir dormir cedo, mesmo com o grande fuso-horário que estamos adaptados. E além disso temos o lado positivo de não viajar muito, os jogos são todos na mesma cidade e isso colabora muito com a rotina.
Desde agosto sua equipe é treinada pelo Zico. Como analisa esse momento?
Para mim é um grande orgulho. Quando o presidente me falou sobre o Zico eu já fiquei superempolgado e quando tudo se acertou fiquei ainda mais feliz. Poder trabalhar com uma pessoa que é uma referência para mim é incrível. A maioria dos brasileiros tem essa relação de ser fã dele e eu fico muito feliz de ter essa chance de trabalhar ao seu lado. Quero fazer de tudo para ajudá-lo a fazer um grande trabalho aqui.
Hoje quais objetivos lhe movem no Al-Gharafa?
Quero ser campeão de tudo (risos). O próprio Zico também veio para cá sabendo que o time é um dos maiores clubes por aqui. Ano passado a equipe não conseguiu nenhuma conquista e a ideia agora é de fazer a história ser diferente. Tenho o objetivo de conquistar pelo menos uma Copa e o Campeonato. Se pudesse escolher, eu ficaria com a Copa do Príncipe, mas sei que os demais campeonatos também são importantes. Então, se pudermos ficar com tudo melhor, mas o desejo mesmo é conseguir fazer o clube voltar a ser campeão.
Antes de fechar com o Al-Gharafa chegou a ser cogitado no Santos e no Flamengo. O que fez decidir pelo Catar?
Cara, assim... Eu queria muito voltar para o Brasil antes de vir para cá, até porque meus filhos moram lá e eu também tinha o sonho de ser convocado para a Seleção, e no Brasil eu poderia ter essa oportunidade, já que estava muito bem no PSG. Mas não podemos ser hipócritas e admito que o lado financeirou pesou bastante. Tenho 32 anos e, às vezes, algumas oportunidades aparecem e não podemos desperdiçar. Estava falando com o Santos e o Flamengo há algum tempo, mas o presidente do Al-Gharafa foi até Paris pessoalmente e fez uma proposta ainda melhor da que o empresário havia feito. Assim acabei decidindo a vir para cá, além de levar muito em conta também a ótima estrutura do clube, mas admito que esse lado financeiro também pesou bastante.
Ainda tem o desejo de voltar para o Brasil?
Eu penso, sim, em voltar, mas também quero marcar a história do Al-Gharafa. Admito que minha ideia é realmente voltar para o Brasil após o término do meu contrato, daqui a um ano e meio. Então, pretendo jogar no Brasil uns dois ou três anos e poder voltar a jogar num grande clube do meu país. Este, sim, é o desejo.
Acredita em uma nova disputa entre Flamengo e Santos para lhe contratar?
Não sei como vai ser lá na frente. Às vezes isso é coisa de momento, eles podem até não me querer mais. Mas espero que as coisas não sejam desta maneira (risos). Tenho uma certa preferência. Já falei para alguns amigos que sempre tive vontade de jogar no Rio. Tanto pela história e grandiosidade do Maracanã como pela cidade, que é muito bonita. Gosto muito de lá. Além disso, sempre tive um carinho muito grande por Santos e Palmeiras, na grande São Paulo, onde meus filhos moram. Acho que onde eu tiver a melhor oportunidade eu estarei representando com todo o gosto.
Como analisa suas passagens por Monaco e PSG?
Graças a Deus posso fazer um balanço muito positivo das fases nos dois clubes. O Monaco foi uma equipe que eu ajudei a fazer um ótimo campeonato. Fiz 15 gols no torneio, num time que vivia uma fase não tão boa como a atual. Fui muito feliz lá. O clube sempre me apoiou muito e sou muito feliz por fazer parte de sua história. Já no PSG não foi diferente, muito pelo contrário. Em apenas dois anos me tornei um dos maiores artilheiros da história do clube, o que é algo muito gratificante. Fico muito feliz em ter ajudado a equipe a voltar a disputar a Champions e de ver que o time esta cada vez mais forte.
Como foi viver a intensa fase de transição política no PSG?
Foi um bom momento, muito importante, mas também de incertezas para muita gente. Eu achei válido pois iríamos disputar campeonatos importantes, como a própria Champions, e precisávamos de um time ainda mais competitivo. Eu sempre vi essa transição com um entusiasmo muito grande. Pude participar dessas duas fases, estar presente com grandes jogadores e fazer um grande balanço disso tudo. Até hoje vejo a constante evolução do clube, a importância disso tudo. A chegada do Nasser Al-Khelaifi (mandatário do PSG) foi muito boa, ele soube mexer muito bem na estrutura do clube. Fico muito feliz de ter participado de tudo isso. Hoje, o PSG está facilmente no nível de Real Madrid e Barcelona.
Tem acompanhado a seleção brasileira? O que tem achado do trabalho de Felipão?
Estou bem contente com o que tenho visto. O Felipão é um cara extremamente experiente, ele sabe lidar muito bem com os jogadores, tem essa ideia de fazer um bom trabalho e unir muito um grupo, o que é algo importante. Não adianta ter jogadores de alta categoria e não ser um grupo unido, é preciso ter esse espírito. Recentemente conquistou a Copa das Confederações também, que muitos duvidavam que aconteceria. O Felipão deu uma identidade para a Seleção, que é o que ela precisava. Tem feito um trabalho muito coerente e, não só eu, mas todos, estamos muito confiantes em ver novos títulos para o Brasil.
E ainda sonha com uma vaga na Seleção?
Estando aqui no Catar eu acho complicado pintar uma oportunidade, para a Copa então eu acho praticamente impossível. O Felipão já tem o grupo dele. Mas voltando para o Brasil no futuro, quem sabe não aparece uma chance. Jogando bem, disputando títulos, vai que surge uma vaguinha. Ficarei muito feliz em poder defender o meu país.