França - São nove temporadas defendendo as cores do Bordeaux. Revelado pelo Flamengo, o zagueiro Henrique, de 30 anos, construiu uma grande história na França. Jogador com mais tempo de casa na equipe atual, o brasileiro já alcançou conquistas importantes e assume um posto de referência no elenco. Com contrato recém-renovado por mais dois anos, o pensamento do zagueiro é continuar no clube. Autor de gol de título, ele se considera ídolo do Bordeaux.
"Meu contrato acabava ano passado, cheguei a ter algumas sondagens de outras equipes europeias e até mesmo brasileiras, mas acabei optando por continuar aqui. Minha família está totalmente adaptada à França, a melhor solução para todos nós era ficar aqui. Agora tenho mais dois anos pela frente e digo que o futuro a Deus pertence. Sou muito feliz aqui e tenho o respeito de todos, desde o presidente até os torcedores", disse.
Nesta entrevista, Henrique aborda a trajetória na França, as lembranças de Flamengo e os planos para o futuro.
??O DIA: São nove temporadas no Bordeuax. Já se considera um ídolo do clube???
Henrique: "Acho que sim. Acho que depois que eu parar de jogar futebol meu nome aqui será lembrado até pelos meus netos. As pessoas têm um carinho enorme por mim. Quando a situação da equipe está mais complicada existe inclusive uma certa cobrança para que eu fique mais em cima dos companheiros, que esteja sempre ajudando o grupo. Daqui a uns dez anos, quando meu filho estiver mais velho, estarei sempre lembrando essa trajetória aqui. Quando cheguei aqui, o time havia se safado do rebaixamento na última rodada e logo no ano seguinte fomos vice-campeões, iniciando uma boa época aqui na França."
E como analisa todos esses anos na mesma equipe?
"Sempre falo com meus amigos que ter vindo para cá foi uma oportunidade que Deus me deu. Na época de Flamengo cheguei a ter uma proposta para ir para a Turquia, mas o Celso Roth conversou comigo dizendo que não seria uma boa vitrine para mim, então acabei decidindo permanecer, tendo logo em seguida recebido essa chance de vir para cá e não pensei duas vezes. Sempre tive boas impressões do Bordeaux e o Ricardo Gomes era o treinador, já o conhecia e sabia que seria um ótimo trabalho. As coisas foram acontecendo bem, conquistei grandes títulos e acho que já construí uma boa história aqui. Ficar nove anos num clube como o Bordeaux não é fácil, mas não é à toa que Deus abre as portas para a gente."
Qual momento é o mais marcante dessa sua trajetória na França?
"Com certeza foi o gol do título em 2007 (Copa da Liga Francesa). Nessa época eu estava até negociando para voltar ao Flamengo. Tive um bom desempenho no meu primeiro ano aqui, mas no segundo dei uma caída. Acabei relaxando e o Ricardo assim que percebeu isso acabou me tirando da equipe, admito que fiquei um pouco chateado na época, mas sei que ele queria fazer o melhor. No último momento ele me chamou na sala dele e conversou comigo, falando que eu deveria continuar, que a Europa é uma grande vitrine. Continuei e voltei a treinar com mais intensidade e então consegui fazer o gol do título contra a grande equipe do Lyon. Isso representou muito para mim, conseguimos um título sobre a equipe que era praticamente imbatível."
Como vê seu papel na equipe do Bordeaux?
"Hoje eu sou o jogador que tem mais tempo de casa, sou aquele cara que busca encorajar o elenco. Da mesma maneira que tive um grande aprendizado na época do Ricardo, hoje sempre busco passar algo de bom para a garotada. Se vejo algum atleta naquela fase de desânimo busco mudar isso. Quero estar sempre passando uma boa referência para eles, tento fazer esse papel."
Como é enfrentar o polêmico craque Ibrahimovic, do PSG?
"O jogo contra o Ibra é sempre muito pegado. Sou um defensor muito rude, não violento, mas aquele que chega fortemente nas divididas. Sabemos que o Ibra gosta de chegar com força também e quando esses jogos vão se aproximando a própria imprensa daqui sempre ressalta isso de duelo particular, mas não tem nada pessoal. As partidas que nos enfrentamos foram muito boas, sempre há aqueles empurrões, xingamentos, mas são coisas que ficam no campo. Ele é um grande jogador, um cara que faz a diferença, não há nada para falar mal sobre um cara desses."
E como está sendo esta nova temporada na França?
"O começo está sendo um pouco difícil, que é algo que já esperávamos. Perdemos jogadores muito importantes e que não foram substituídos. Tivemos também alguns jogos muito complicados, principalmente contra os favoritos do campeonato. No geral, a forma que estamos jogando nos agrada, mas temos de continuar nos dedicando para tentar subir na tabela."
Quais as lembranças dos tempos de Flamengo?
"O Flamengo foi um sonho realizado. Alguns parentes falam que eu tenho de voltar, mas digo que este sonho eu já realizei. Não sei o dia de amanhã, mas não posso cravar nada. Sempre acompanhei o time, ia para o Maracanã e ficava na geral com alguns amigos. Como eu jogava na base, sempre imaginava o dia de ter uma oportunidade na equipe principal. Tenho um carinho muito grande pelo Flamengo, foi o clube que me tirou das más companhias, é uma relação de gratidão muito grande. Quem me deu a primeira oportunidade no time foi o Nelsinho (Baptista), e fiquei muito feliz. Foi realmente a realização de um sonho. Ganhar o Campeonato Carioca em 2004, marcar um gol na semifinal contra o nosso maior rival.. lembranças incríveis e difíceis de acreditar até hoje."
Existe o pensamento de voltar para o Rubro-Negro?
"Pensar a gente sempre pensa. Às vezes estamos vendo alguns jogos aqui e sempre fica aquela sensação diferente. Tenho um tio que é flamenguista roxo, roxo mesmo, e ele sempre fala que tenho de voltar, faz aquela pressão. Mas agora fica difícil. Tenho um carinho muito grande pelo Bordeaux, renovei o contrato por mais dois anos e estou muito feliz aqui. Meu sonho de ter jogado no Flamengo eu realizei e sempre digo que o futuro a Deus pertence. Tenho uma família que está totalmente adaptada aqui. Meus filhos gostam mais daqui da França do que do Brasil, mas não posso falar como será o futuro."