Rio - Vinte e oito anos se passaram, mas até hoje, o ex-ponta-esquerda Ado vai às lágrimas quando lembra do pênalti que perdeu contra o Coritiba, na final do Campeonato Brasileiro de 1985. Uma ferida antiga que teima em não cicatrizar em seu imenso coração vermelho e branco. Um erro do qual ele esperar se redimir um dia ajudando o Bangu a conquistar grandes títulos.
“Quando alguém perde um pênalti sempre tem um amigo que diz, tá vendo, é normal, os jogadores perdem.. mas não é a mesma coisa (choro). Eu não me perdoo até hoje”, diz com a voz embargada. “Não passa... é difícil virar essa página”, confessa o jogador, que nunca reviu a cobrança de pênalti.
Não é difícil compreender a dor que corrói o ex-jogador até hoje. Naquele Brasileiro, o Bangu sobrava em campo e era disparado o melhor time. Tanto que terminou com 17 pontos a mais que o rival. Pior ainda foi constatar com o tempo, que a perda do título impediu que clube desse o maior salto de sua história.
“A minha tristeza maior não foi nem o pênalti, foi não ter ganho nos 90 minutos com placar elástico. Nosso time era bem superior. Eles foram campeões, mas não é pecado dizer que não mereciam. Foi um dos castigos mais doídos da minha vida”, lamenta Ado, que tinha apenas 20 anos e estava no auge. Ganhou a Bola de Prata da Revista Placar, em 85, e estava cotado para a seleção.
Curiosamente, naquele dia, o ponta foi escolhido o melhor em campo, após o empate no tempo normal, 1 a 1, e não iria cobrar o pênalti. “Pedi para não bater, porque senti o tornozelo. Tirei até o material. Mas achei que se o Israel perdesse seria uma covardia minha, iam dizer que amarelei. Um pouco antes de ele bater, o Moisés (técnico) ficou me olhando, e resolvi cobrar”. Mas na hora H, Ado mudou o canto e chutou para fora. Como o zagueiro Gomes converteu a última cobrança, o Coxa garantiu o título.
Depois da decisão, Ado permaneceu por mais um ano no Bangu até se transferir para o Sporting Espinho, em Portugal. Depois jogou no Internacional, no futebol peruano e até na Indonésia, antes de encerrar a carreira no Campo Grande, aos 40 anos.
Hoje, treinador, Ado sonha em pagar sua ‘dívida’ com o clube do coração para fechar a velha ferida. “Quero trabalhar no Bangu para ser campeão carioca. Não precisava nem ser remunerado, era para dar uma alegria aos torcedores”.
Depressão e dívidas antes da virada em Portugal
Após perder o pênalti contra o Coritiba, o mundo de Ado ruiu. Desesperado, pensou até em abandonar o futebol. Para piorar, ele havia feito vários dívidas para reformar a casa humilde dos pais confiando cegamente na conquista.
“Tínhamos uma casa muito ruim e pensando no prêmio que o Castor prometeu,reformei-a. Quando chegou a conta não tinha como pagar. Mas pedi ajuda ao Castor, que foi mais que um pai e me ajudou”.
Depois do Brasileiro, o ex-atacante ainda foi campeão invicto da Taça Rio pelo Bangu antes de se transferir para o Sporting Espinho, em Portugal, onde jogou nove anos. “O Castor tentou me trazer para a final do Carioca, mas não conseguiu. Ele se arrependeu da venda. Mas para mim foi muito bom financeiramente. Minha mulher gostava e os torcedores tinha muito carinho por mim. Fui muito feliz lá”.
À procura de emprego
Após passar uma boa temporada no futebol árabe, onde dividiu com Luiz Alberto, o comando do Al Shoalah, Ado busca um novo clube para seu primeiro voo solo como treinador.
“Fui com meu sogro para o mundo árabe. Foi uma experiência boa, mas a parceria acabou. Ele cansou. Agora estou na carreira solo esperando uma oportunidade”. Enquanto não surge um convite, Ado comanda uma escolinha de futebol no Campo do Ceres, em Bangu.