Por pedro.logato

Rio - Vinte e oito anos se passaram, mas até hoje, o ex-ponta-esquerda Ado vai às lágrimas quando lembra do pênalti que perdeu contra o Coritiba, na final do Campeonato Brasileiro de 1985. Uma ferida antiga que teima em não cicatrizar em seu imenso coração vermelho e branco. Um erro do qual ele esperar se redimir um dia ajudando o Bangu a conquistar grandes títulos.

“Quando alguém perde um pênalti sempre tem um amigo que diz, tá vendo, é normal, os jogadores perdem.. mas não é a mesma coisa (choro). Eu não me perdoo até hoje”, diz com a voz embargada. “Não passa... é difícil virar essa página”, confessa o jogador, que nunca reviu a cobrança de pênalti.

Ado até hoje não esquece vice-campeonato em 1985Carlos Moraes / Agência O Dia

Não é difícil compreender a dor que corrói o ex-jogador até hoje. Naquele Brasileiro, o Bangu sobrava em campo e era disparado o melhor time. Tanto que terminou com 17 pontos a mais que o rival. Pior ainda foi constatar com o tempo, que a perda do título impediu que clube desse o maior salto de sua história.

“A minha tristeza maior não foi nem o pênalti, foi não ter ganho nos 90 minutos com placar elástico. Nosso time era bem superior. Eles foram campeões, mas não é pecado dizer que não mereciam. Foi um dos castigos mais doídos da minha vida”, lamenta Ado, que tinha apenas 20 anos e estava no auge. Ganhou a Bola de Prata da Revista Placar, em 85, e estava cotado para a seleção.

Curiosamente, naquele dia, o ponta foi escolhido o melhor em campo, após o empate no tempo normal, 1 a 1, e não iria cobrar o pênalti. “Pedi para não bater, porque senti o tornozelo. Tirei até o material. Mas achei que se o Israel perdesse seria uma covardia minha, iam dizer que amarelei. Um pouco antes de ele bater, o Moisés (técnico) ficou me olhando, e resolvi cobrar”. Mas na hora H, Ado mudou o canto e chutou para fora. Como o zagueiro Gomes converteu a última cobrança, o Coxa garantiu o título.

Depois da decisão, Ado permaneceu por mais um ano no Bangu até se transferir para o Sporting Espinho, em Portugal. Depois jogou no Internacional, no futebol peruano e até na Indonésia, antes de encerrar a carreira no Campo Grande, aos 40 anos.

Hoje, treinador, Ado sonha em pagar sua ‘dívida’ com o clube do coração para fechar a velha ferida. “Quero trabalhar no Bangu para ser campeão carioca. Não precisava nem ser remunerado, era para dar uma alegria aos torcedores”.

Pelo Bangu%2C Ado quase foi campeão do BrasileiroCarlos Moraes / Agência O Dia

Depressão e dívidas antes da virada em Portugal

Após perder o pênalti contra o Coritiba, o mundo de Ado ruiu. Desesperado, pensou até em abandonar o futebol. Para piorar, ele havia feito vários dívidas para reformar a casa humilde dos pais confiando cegamente na conquista.

“Tínhamos uma casa muito ruim e pensando no prêmio que o Castor prometeu,reformei-a. Quando chegou a conta não tinha como pagar. Mas pedi ajuda ao Castor, que foi mais que um pai e me ajudou”.

Depois do Brasileiro, o ex-atacante ainda foi campeão invicto da Taça Rio pelo Bangu antes de se transferir para o Sporting Espinho, em Portugal, onde jogou nove anos. “O Castor tentou me trazer para a final do Carioca, mas não conseguiu. Ele se arrependeu da venda. Mas para mim foi muito bom financeiramente. Minha mulher gostava e os torcedores tinha muito carinho por mim. Fui muito feliz lá”.

À procura de emprego

Após passar uma boa temporada no futebol árabe, onde dividiu com Luiz Alberto, o comando do Al Shoalah, Ado busca um novo clube para seu primeiro voo solo como treinador.

“Fui com meu sogro para o mundo árabe. Foi uma experiência boa, mas a parceria acabou. Ele cansou. Agora estou na carreira solo esperando uma oportunidade”. Enquanto não surge um convite, Ado comanda uma escolinha de futebol no Campo do Ceres, em Bangu.

Você pode gostar