Por fabio.klotz
Rio - A bandeira de um clube representa para muitos torcedores a maior paixão de suas vidas, mas em algumas ocasiões serve para cobrir o caixão, junto com as lágrimas de familiares que sofrem com a perda de entes queridos. Muitas vezes, lideranças em rankings são motivo de orgulho, mas, neste, o Brasil tem de se envergonhar. Com 30 mortes apenas em 2013, o país lidera essa mórbida lista mundial, seguido por Argentina e Itália. Resultado de dar "inveja" ao mais violento dos hooligans.
Polícia demorou a intervir em JoinvilleCarlos Moraes / Agência O Dia

O Brasil detém um bicampeonato sinistro, já que em 2012 contabilizou 23 mortes. Os números comparados ao deste ano apontam um crescimento de 30%.

“O ano não acabou e não contabilizamos o Kevin Espada, que, apesar de ter morrido na Bolívia, tudo leva a crer que foi morto por brasileiros. São 30 mortes comprovadas”, diz Mauricio Murad, sociólogo e professor de mestrado da Universidade Salgado de Oliveira, que lançou o livro ‘Para entender a violência’.
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A maior parte das mortes acontece no Nordeste e é consequência do aumento da violência como um todo no país - o Brasil também é campeão mundial em mortes no trânsito e em homicídios. No futebol, a maioria dos assassinatos acontece fora dos estádios, já que houve uma melhora no efetivo de segurança dentro das arenas.
“No meio da multidão todo mundo se exacerba. As pessoas acham que podem tudo por estar no anonimato, entre muita gente. Soma-se isso ao despreparo dos policiais e chegamos nesse número assustador”, afirma Murad, que assistiu em casa com os filhos às tristes cenas de selvageria entre torcedores de Atlético-PR e Vasco.

“Aquilo foi um horror. Vândalos se atacando, sua casa sendo invadida por esse filme de terror. Trabalho com isso desde 1990 e já vi muita coisa, mas confesso que o que assisti me chocou. Cenas de covardia e descontrole. Onde estava a polícia? São gangues em um jogo que se mostrava problemático desde o início”, destaca.

Torcedores de Vasco e Atlético-PR brigaram na Arena Joinville Carlos Moraes / Agência O Dia

Para garantir a segurança do torcedor que vai a um jogo no país do futebol, o sociólogo defende algumas medidas a serem tomadas.

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“São três conjuntos de medidas integradas que têm de ser coordenados de Brasília: a punitiva (curto prazo), a preventiva (médio prazo) e a educativa (longo prazo). Precisamos de um plano estratégico permanente que se atualize. As redes sociais, por exemplo, não existiam há dez anos. O Brasil é um país violento”, conclui Murad.
Gepe destaca importância da prevenção
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O Rio tem o Gepe (Grupamento Especial de Policiamento nos Estádios), referência quando o assunto é o controle da violência. Comandante do Gepe, o tenente-coronel João Fiorentini cita o mando de campo em outros estados como um dos maiores problemas para o aumento da violência nos estádios, já que dificulta muito a segurança.
“Ter em Brasília um jogo que não é de Brasília, mas do Rio, dificulta. Um jogo de Santa Catarina, em que o mandante é do Paraná... Aqui no Rio, temos o hábito de cuidar de determinados jogos. Sabemos quem é quem”, exemplifica.

“Para nós, é mais fácil identificar. Temos tudo, polícia específica, estatuto, Ministério Público, Juizado. Isso não acontece em todos os estados”.

Briga generalizada manchou o duelo entre Atlético-PR e VascoCarlos Moraes / Agência O Dia

No quesito prevenção, Fiorentini revela que o planejamento é fundamental: “O mais importante não é o dia do jogo. É a semana. Fazemos reuniões na federação, procuramos representantes das torcidas, organizamos o transporte para não se encontrarem, a escolta.”

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Fiorentini destaca ainda ação com a Supervia: “Para evitar confusão, há um trem só para a torcida do Flamengo. Só passa em determinadas estações. O torcedor do outro time tem que ir para outras.”
Sobre as brigas marcadas pela Internet, ele ressalta: “A gente monitora. As brigas são marcadas por muitos que não são da torcida e querem só notoriedade.”
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Berço dos hooligans pode servir de exemplo
De um esporte manchado pela violência promovida por hooligans a uma liga sólida, forte e completamente segura para seus torcedores. Desde 1992, quando foi instituída a Premier League, a Inglaterra adotou medidas rigorosas para acabar com a violência nos estádios.
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“Rapidez na punição e rigor. Lá, quem comete algum delito no estádio é detido e tem que se apresentar duas horas antes do jogo. E só sai duas horas depois”, diz o jornalista inglês Tim Vickery, mas com ressalvas: “Nem tudo o que foi feito na Inglaterra serve para o Brasil. Os países são muito diferentes, inclusive suas Constituições.”
Quanto ao policiamento nos estádios, Tim vê mudança ao longo dos anos: “Os clubes pagam à polícia pela segurança. Foi um incentivo perigoso reduzir o policiamento e trocar por stewards (seguranças privados). Foi um processo lento, mas que deu certo”.