Por bernardo.argento

Rio - Ex volante - mediano, como se define com bom humor, Alexandre Gallo diz que trabalha para ser melhor técnico do que foi como jogador. Sem tirar o foco do inédito ouro olímpico, o coordenador da base da CBF esteve na Europa. Lá, ele se aproximou de jovens promessas para evitar casos como o do brasileiro Diego Costa, que preferiu defender a Espanha, e trouxe informações para Felipão sobre a Croácia, rival de estreia da Seleção na Copa.

Alexandre Gallo fala sobre viagem à EuropaMaíra Coelho / Agência O DIA

O DIA: Como observador técnico da Seleção, o que você destaca da Croácia?

Fizemos o levantamento dos últimos 30 gols marcados, que dão um direcionamento. Fiz um relatório para o Felipão. Deu para entender muito a Croácia. Estão sem o Mandzukic, um dos principais atacantes da Europa. Por sorte, ele não jogará (suspenso). 

Você já assistiu a jogos de Camarões e México?

Ainda não. Conversei bastante com o observador técnico do México, que estava lá (no amistoso entre Croácia e Suíça) e sentou numa cadeira ao lado da minha. Soubemos que a Croácia e o México vão fazer mais dois jogos. A gente pode fazer uma observação deles antes da Copa.

Como a Seleção principal pode inspirar a base?

Tem que ser uma referência sempre. Citamos em todas as conversas o Neymar. É uma referência, treina forte e cumpre horários. Meu trabalho só vai adiantar se conseguir servir à Seleção principal com algum atleta e essa integração existir. Unificamos uma maneira de jogar, o 4-2-3-1, praticamente um 4-3-3 atacando para que o Brasil crie um sistema específico que vá ao encontro com a nossa vontade de vencer, de ser ofensivo, comprometido com a marcação. Mas eu e os técnicos da sub-17 e da sub-15 temos um plano B para que a Seleção não fique previsível. O Felipão também.

Existe preocupação com o uso das redes sociais?

Eles têm a liberdade de fazer o que quiserem nas mídias sociais, mas mostramos exemplos de jogadores profissionais que fizeram besteira. Aí a escolha é dele, ainda mais porque na manutenção na Seleção entram comportamento e horário. Não tivemos problema. A ideia do presidente Marin é ter profissionalismo na base, honestidade nas ações e só convocar jogadores vistos. Não há indicação. 

Qual é o peso da medalha de ouro olímpica?

A responsabilidade é muito grande. É uma busca incessante do Brasil. O país tem medalhas em todas as categorias e competições. Se há uma chance é jogando em casa.

A ideia é mesmo levar só atacantes nas vagas acima de 23 anos para 2016?

Olimpíada é momento. Na minha concepção de futebol eu não entendia, numa Olimpíada, você pulverizar forças. O cara leva um goleiro, um lateral e um atacante. Você vai jogar no Brasil, com a torcida e precisa ganhar. Se montar um ataque de Seleção principal, como o adversário vem contra a gente? Se a Olimpíada fosse na Argentina e lá eles tivessem Aguero, Messi e Higuain na frente, teria que levar uma zaga profissional. Se não, estou morto. Aqui, precisamos de atacante. Se levo, por exemplo, Oscar, Bernard e Neymar, um ataque poderosíssimo, imagina como o adversário vem contra a gente? Imagina outros países vindo com zagueiros de base para enfrentar um ataque desse?

Quais atletas você tem observado para a Olimpíada?

Possuímos um grupo de 40 jogadores. Temos duas convocações no dia 8 de maio, para os torneios de Toulon e na China. Começamos a montagem no ano passado e vamos até 2016. Se surgir um bom atleta, vamos observar. Sem grupo fechado. São 40 para tirar 23. No Rio, temos o Dória, capitão da sub-20. Thalles é bom, já esteve com a gente. O Danilo, do Vasco, vem aparecendo. No Flu, tem o Michael, o Marcos, reserva do Cavalieri. O Biro Biro e o Kenedy já estiveram com a gente. Gabriel, do Botafogo, tentei chamar duas vezes, mas não deu por motivo de jogos.

Qual é o balanço da viagem à Europa?

Mapeamos jogadores que estavam em outras seleções. Tem 32 atletas em grandes clubes nascidos em 1995. O filtro são os grandes clubes. Fomos no Manchester City, que tem o Marcos Lopes, que joga no sub-21 de Portugal e é ótimo. Conversamos com o treinador, Patrick Vieira, que nos deu boas informações. Falei também com ele, o pai, e ficou envaidecido em jogar pelo Brasil. Queremos os grandes jogadores. Assistimos ao jogo e conversamos para saber se ele vem ou não, na necessidade de convocar. Não vamos cercar todos os jogadores. Não dá. Com a globalização, cedo ou tarde teremos brasileiros em todas as seleções na Copa. É inevitável. Tem o Andreas Pereira, do United, que joga pela Bélgica sub-20 e é de 1996. O Leonardo Bittencourt, que joga pela Alemanha, e é filho do Franklin, ex-Fluminense. No Vitesse, vimos o Lucas Piazon. A ida aproxima para uma próxima convocação. Estivemos com Rafinha, em Vigo, e os laterais Douglas Santos (Udinese) e Fabinho (Mônaco).

Esse trabalho pode evitar casos como o de Diego Costa?

Acho que esse trabalho vai evitar casos como aconteceu com o Diego. Principalmente por termos um entendimento melhor do momento do atleta. Pode evitar, desde que o trabalho continue. Até porque a média de jogadores que saem do Brasil é de mais de mil por ano. No futebol, o atleta demora um pouco para amadurecer. Às vezes, com 19 e 20 anos, não esteve na base, mas está no City. Eles amadurecem e vão jogar por Itália, Alemanha e talvez percam o vínculo com a gente. Vamos abrir a porta da Seleção e a decisão será dele, do pai, do agente. Na hora que você põe a camisa do Brasil e de outra seleção, o menino sente. O Brasil, com todo o respeito, é a seleção com o maior número de títulos. O atleta sente quando a gente convida ele. 

Marin disse que você pode substituir o Felipão. Está pronto?

Não posso nem falar nisso. Ele foi generoso comigo. Mas o meu foco é a Olimpíada. Não tem como ser diferente. Eu penso exclusivamente nisso. É um sonho que eu quero realizar, que é a busca dessa medalha e fazer um grande trabalho. Mas é só a Olimpíada.

Qual Gallo é melhor: o jogador ou o treinador?

Joguei em clubes grandes. Eu me entregava muito. Tinha boa capacidade de passe, marcava bastante e essa personalidade que talvez tenha me trazido para o cargo de técnico. Espero que possa ser um treinador muito melhor do que fui como jogador (risos).

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