Rio - Ok, ok. O Luis Suárez jogou uma barbaridade, acabou com a partida, fez dois belos gols. De volta ao time depois de uma artroscopia no joelho esquerdo, foi decisivo para a vitória uruguaia sobre a Inglaterra. Mas, muitas vezes, os fatos mais importantes do futebol, em especial no caso de Copas do Mundo, ocorrem com a bola parada ou fora da área de jogo. Arrisco dizer que um gesto do lateral Álvaro Pereira foi tão importante quanto os gols de Suárez.
Para quem não viu: aos 16 minutos do segundo tempo, o uruguaio apagou ao ser atingido na cabeça pelo inglês Sterling. Ficou estirado no campo. Atendido, acordou e, meio grogue, caminhou até a lateral. Foi quando percebeu que o médico do time pedia sua substituição. Ele então gritou que não sairia — em primeiro lugar estava a Celeste, era um jogo de vida ou morte, como diria no fim da partida. A atitude foi fundamental para que a seleção do Uruguai ganhasse a partida.
Trata-se de um país de 3,5 milhões de habitantes, que vive uma crise permanente, o futebol é um dos poucos orgulhos nacionais. Ao dizer que ficava, o lateral — que chegou a atingir a velocidade de 33,08 km/h — injetou entusiasmo em seus colegas, mostrou que havia mais do que três pontos em jogo. Mais cedo, o volante Serey Die, da Costa do Marfim, caiu em prantos durante a execução do hino de seu país. Chegou a ser divulgada — e depois desmentida — a informação de que o pai dele teria morrido pouco antes da partida. Não foi nada disso, ele apenas não se conteve ao ouvir o hino nacional.
Com frequência, sentimentos patrióticos são usados de forma oportunista e calhorda. É bom desconfiar de quem enche a boca para falar de pátria, estes costumam ser os primeiros a lesá-la. Mas a Copa é uma competição entre times que representam países e seus povos, a identificação com as cores nacionais é inevitável. Num universo tão mercantilizado quanto o do futebol, não deixa de ser bonito ver a permanência de um sentimento abstrato, compromisso que não se resume à gravação do próximo comercial.