Por rafael.arantes

Rio - Há quem critique a mania nacional da caça às bruxas e, no caso do futebol, a eterna procura de um ou mais personagens como responsáveis por um fiasco. Talvez haja um pouco de exagero na nossa rotina e os treinadores acabam sempre como a vítima preferida. Mas essa é uma reação natural do ser humano em qualquer ramo de atividade. Psicólogos dizem que o sentimento de culpa é uma das grandes questões íntimas não resolvidas, mas vamos convir que, nesse caso do fracasso da Seleção, parece óbvio que o comando técnico errou ao desconsiderar a força alemã e a não aceitar que o Brasil deveria jogar com cautela reconhecendo a superioridade do adversário.

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Não seria vergonha. Por incrível que pareça, o fantasma de 50 voltou com uma capa diferente, nos moldes do século 21, mas com idêntico oba-oba. Desde que se decidiu a escolha do Brasil para a Copa, a maior preocupação era com a organização e a competição propriamente dita ficou em plano secundário. Mais uma vez, o título da Copa das Confederações foi apenas uma ilusão.E a comissão técnica, que tinha o poder nas mãos, embarcou em uma canoa furada, fez um trabalho de segunda e foi culpada com todas as letras.

Toda a comissão técnica do Brasil esteve presente em coletiva na GranjaAndré Luiz Mello

MELHOR LONGE

Devem se passar muitas décadas, e só depois de considerável amadurecimento, para sequer se cogitar de outra Copa no Brasil. Com ela por aqui, são insuportáveis o aumento do oba-oba, do patriotismo barato e do ufanismo provinciano. Muitos comunicadores e, principalmente, publicitários, criam um circo artificial passando a impressão de que todos estão em uma cruzada, que o título é uma obrigação e ele será conquistada de uma forma ou de outra, porque com o Brasil ninguém pode.

ELEGÂNCIA

Ao contrário dos hermanos, estamos em lua de mel com os alemães. Os seus jogadores e o técnico Löw têm sido simpáticos,e ducados e elegantes, interagindo da melhor forma possível com os brasileiros. Terão o apoio de nossa torcida, é estanho apoiar os que nos encheram de gols, em histórica desmoralização, e que, com um novo título, mais irá se aproximar do Brasil. Mas a lógica é essa para não colocar azeitona na empada de Maradona,apesar das bênçãos do Papa.

INTORELÂNCIA

Há uma rivalidade natural entre Brasil e Argentina que deveria ser estimulada de uma forma positiva.Por diferentes razões, há uma antipatia maior por aqui contra os hermanos do que deles conosco. Eles são muito diferentes da gente e daí? Ninguém é melhor ou pior. Há quem prefira tango ao samba, não há problema. O cinema deles dá olé, o Brasil os ultrapassou em força econômica e continuamos atrás no IDH.Nada justifica a antipatia que pode virar ódio.

A MUDANÇA

O ideal seria uma vassourada na CBF para que o futebol brasileiro tivesse chances de partir para novas ideias e outra estrutura. Mas como não se pode tirar Marín e Del Nero de lá, o jeito será tapar o nariz e aceitar. Será impossível a permanência de Felipão e sua equipe, até pelo clima negativo na opinião pública. Entre os mais cotados, talvez — só talvez — Tite seja o mais indicado por sua sobriedade, bom senso e currículo.Mas nem ele poderá fazer uma verdadeira revolução.

NOMES ESTRANGEIROS E REFORMA NA BASE

Imaginar que, sequer a médio prazo, haverá vontade política e clima para contratar um técnico estrangeiro para comandar a seleção brasileira, é acreditar em milagre.Há um provincianismo crônico e um medo de ousar paralisante na cúpula do nosso futebol. Mas já seria uma evolução se começar um trabalho com os garotos quanto ao comportamento pessoal e profissional e também na parte técnica e tática. Menos deslealdade e maior valorização da habilidade e da criação. Seria um bom recomeço.

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