Por pedro.logato


Rio - A crise técnica do Campeonato Brasileiro passa necessariamente pela enorme dívida dos clubes. Só com o governo federal são mais de R$ 3 bilhões, um ranking nada honroso, que tem nas primeiras posições Flamengo, Botafogo e Vasco. Buscando uma tábua de salvação, os clubes se movimentam e, em ano de eleição, pressionam o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional a aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, um programa de parcelamento das dívidas em troca de uma nova gestão.

Segundo o projeto, os clubes pagariam os débitos ao longo de 25 anos, mas não poderiam atrasar os compromissos por mais de dois meses sob pena de serem rebaixados e de perderem a Certidão Negativa de Débito, o que os deixaria fora do refinanciamento.

Bom Senso F.C. é contra a aprovação da leiReprodução Facebook

Do outro lado aparece o Bom Senso FC, movimento de jogadores que tem como objetivo apresentar propostas para melhorar o futebol para torcedores, clubes e, claro, atletas. O grupo questiona o projeto. “Precisamos de regras para administrar o futebol. Colocar alguns parâmetros. Não pode um clube que tem dívida de R$ 700 milhões contratar um jogador pagando uma fortuna e um milhão de salários por mês. É absurdo o time contratar criando dívidas trabalhistas”, explica o goleiro do Palmeiras, Fernando Prass, um dos líderes do movimento.

“O que iria ser aprovado no Senado era um refinanciamento. É fácil conseguir isso. Por exemplo, tem times que devem isso e tem a certidão negativa e o patrocínio da Caixa. Daqui a dez anos vai ter que se fazer de novo. É melhor demorar um pouco e conversar melhor do que aprovar logo o projeto”, acrescenta Prass, ao defender um período maior de debates sobre o tema.

Neste mês, a presidenta Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, receberam representantes do Bom Senso e mostraram simpatia à causa.

Movimento luta contra os próprios problemas

Os opositores do Bom Senso argumentam que o movimento olha apenas para a elite do futebol, e não para o universo de jogadores em todo o país. Fernando Prass alega justamente o contrário.

“As mudanças no calendário mostram poucos avanços. É só uma semana a mais de pré-temporada. A desigualdade em relação aos clubes pequenos permanece. Falam que somos um movimento elitista, mas os pequenos ficaram sem voz”, afirma Prass.

Especialista em Direito Esportivo, o advogado Marcos Motta é favorável à Lei de Responsabilidade Fiscal no Esporte, mas faz uma crítica ao movimento dos jogadores.

“No Bom Senso, o jogador vai à imprensa e diz que o Brasil é o paraíso fiscal do futebol. É o mesmo atleta que pede setenta por cento de sua remuneração em direito de imagem para pagar menos impostos”, adverte Motta.

O advogado também critica os clubes e suas administrações: “Recentemente, dois clubes brasileiros ligaram para saber a situação de dois jogadores que atuam na Ucrânia. São atletas que valem 30 e 15 milhões de euros, respectivamente, e recebem dois milhões livres por ano. Não dá.”

Fernando Prass criticou calendário de 2015Divulgação

Novo calendário da CBF não agrada a ninguém

Na semana passada, a CBF divulgou o calendário 2015 do futebol brasileiro e conseguiu desagradar a todas as partes. A real mudança é que os clubes terão uma semana a mais para a pré-temporada, mas ainda longe dos 30 dias solicitados pelos jogadores.

“Na Europa, na data-Fifa, você passa uma semana com a seleção. Joga no sábado, na terça e seu time só volta a atuar no outro domingo. Aqui, a única coisa que mudou é que não se joga na data em que a Seleção estiver em campo. Mas jogam na véspera e no dia seguinte. O Brasileirão não para nem para a Copa América”, lamenta Fernando Prass.

O goleiro palmeirense sugere também mudanças nas janelas de transferência e no número de jogos. Na última temporada, o Atlético-MG, campeão da Libertadores, atuou 67 vezes, enquanto o Bayern de Munique, campeão da Liga dos Campeões da Europa, jogou 58: “Temos que nos basear pela Europa no número de jogos. A janela de transferências do exterior teria que acabar depois da nossa. Fecha e seguimos perdendo jogadores.”

Para Bruno Pessoa, diretor da W2G Sports, que vem realizando uma série de encontros sobre o futebol brasileiro, o calendário inviabiliza algumas novas receitas dos clubes. “Acredito que ajudaria se adotássemos o calendário europeu. Teríamos a oportunidade de internacionalizar as marcas. Na pré-temporada, viajar, criar receitas e, consequentemente, melhorar os times”, defende.

Você pode gostar