Por rodrigo.hang

Rio - Em mais de 100 anos de rivalidade, foram raros os jogadores que conseguiram o status de ídolo das torcidas de Flamengo e Fluminense, que se enfrentam neste domingo, às 16h, no Maracanã, pelo Brasileiro, com arbitragem de Dewson Freitas (PA). O argentino Narciso Horácio Doval realizou essa proeza, mesmo tendo saído da Gávea diretamente para as Laranjeiras. No ano em que completaria 70 anos, o craque vai virar filme e terá biografia pelas mãos do argentino rubro-negro Federico Bardini e do tricolor Sergio Rossini.

Sergio Rossini e Federico Bardini estão captando recursos para concluir o filme 'Doval%2C o Gringo'Carlos Moraes

Em 1969, Doval chegou ao Flamengo e logo se descobriu em casa. Amou o Rio à primeira vista. Rapidamente deixou clara a paixão pelo clube e a língua ferina daquele que seria o primeiro Rei do Rio. “O primeiro treino de Doval no Flamengo foi com Garrincha. Melhor amigo de Doval, Pepe García nos contou que ele disse: ‘Treinei com Garrincha! Mas ele não pode jogar mais nada’. Garrincha era uma lenda viva. Mas estava tentando jogar no Flamengo, estava paradão e atuou cinco ou seis vezes”, diz Bardini, 43 anos, um dos diretores de ‘Doval, o gringo mais carioca do futebol’.

Doval terá um filme em sua homenagemReprodução Internet

No Flamengo foram duas passagens. A primeira foi abreviada por causa de briga com o técnico Yustrich. “Ele não queria que Doval fosse à praia, andasse de moto e tivesse cabelo comprido. Ele acordava de manhã, dava um pulo na praia e voltava para treinar à tarde. Na marra”, explica Bardini.

Doval jogou no Huracán em 1971 e no ano seguinte voltou ao Fla para marcar de cabeça um dos gols do título carioca justamente sobre o Fluminense, time que defenderia a partir de 1976 em um troca-troca feito pelo presidente tricolor Francisco Horta. “O Flu tinha o time mais acertado. Se for por número de gols, ele marcou mais no Flamengo e ganhou dois estaduais. No Tricolor, ganhou só um, mas sua média de gols foi bem maior e ele foi artilheiro do Carioca. O Doval, como uma peça, encaixou-se perfeitamente na Máquina Tricolor”, afirma Rossini.

Os diretores já têm um ator em mente para o papel do craque, apesar de o convite não ter sido feito ainda. “O Theo Becker é uma referência. Não que vá ser ele. Eu o conheci e o achei muito parecido com Doval. Biotipo, olhos claros. O bom é que ele é problemático, malucão. Acho que ele toparia fazer o papel”, brinca Bardini.

Para chegar às telas, os diretores entraram no crowding fundings, um sistema em que as pessoas podem ajudar financeiramente o projeto. Para ajudar a produção basta acessar a página do Facebook "Filme Doval" e ver as instruções.

Doval jogou com Zico no FlamengoArquivo

Luxa: 'Maluco beleza, bom'

O técnico do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo, chegou a jogar com o atacante argentino de 1972 a 1975. Luxa era um lateral-esquerdo que começava no clube e garante que aprendeu muito com o estilo de Doval nos campos.

“Era um cara extrovertido, maluco por completo, com uma garra e uma vontade de vencer os jogos que impressionava. Jogava como atacante, pelas pontas, por dentro”, lembra Luxa, que foi campeão estadual com o argentino em 1972.

No Fluminense, o argentino foi o atacante da Máquina TricolorArquivo

O treinador, que neste domingo terá mais uma vez o Fluminense pela frente no Maracanã, também foi adversário de Doval quando ele foi para as Laranjeiras. Luxemburgo abre largo sorriso ao falar do craque.

“Um grande amigo, cara alegre, de bem com a vida. Tenho grandes recordações. Imagina ser maluco na época revolucionária, mas um maluco beleza, bom. Meio bad boy, mas do bem. Ele não se metia em confusão, só de vez em quando”, diverte-se com a lembrança.

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