Por fabio.klotz
Rio - A rotina do pastor Oziel Nascimento, da Assembleia de Deus de Queimados (Adeq), na Baixada Fluminense, é a mesma há 15 anos. Aos domingos, ele sai de casa para comandar o culto perante aos seus fiéis. No sábado da semana passada, porém, teve um compromisso extra: foi até um campo de futebol para levar suas palavras de fé e abençoar o seu time - e também o adversário - na estreia no Campeonato de Futebol Evangélico de Queimados, o maior evento esportivo entre as igrejas da região.
Pastor Oziel Nascimento leva palavras de fé aos times do Campeonato de Futebol Evangélico de QueimadosDaniel Castelo Branco

“Sempre que posso venho aqui para vê-los jogar. Faço orações para que ninguém se machuque e para que vença o melhor, afinal, o intuito do campeonato é promover a união entre as igrejas. Eu só não peço para meu time ganhar, porque senão Deus vai ficar em uma situação bem complicada”, brinca o pastor.

Em sua nona edição, o campeonato tem 22 times e é disputado em turno único ao longo de cinco meses. E segue à risca uma cartilha peculiar de regras. Na disputa evangélica não são permitidos palavrões - punidos com cartão amarelo - rivalidade, reclamações, catimba e muito menos entradas mais ríspidas. A ideia é levar a campo a harmonia cristã que sempre domina os cultos.
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“São todos meninos de igreja e se dão bem. Mesmo jogando em lados opostos somos todos irmãos em Cristo”, garante o técnico da Adeq, Jessé Pompeu.
Apesar da promessa de uma atmosfera tranquila nas partidas, o capitão da equipe da Assembleia de Deus do Jardim Excelsior, Cristiano Guirá, fala em um tom mais sério.

“Futebol é um esporte de contato, todo mundo quer ganhar. Aqui é campeonato, não se pode brincar, não”, afirma.

Guirá admite que, às vezes, os ânimos se exaltam. Ele, entretanto, descarta confusões e revela como os jogadores evangélicos expressam a sua insatisfação com o árbitro ou com a falha de algum companheiro de equipe.

Cristiano Guirá revela 'tática' dos jogadores para reclamar do árbitro sem falar palavrãoDaniel Castelo Branco

“Se o seu goleiro engole um frango o jeito é botar a mão na cabeça e soltar do fundo do pulmão: ‘Que isso, abençoado?’. Quando o juiz prejudica sua equipe tem sempre um ou outro que reclama: ‘Deus tá vendo, hein’, ‘Que isso, fiel?’, ‘Só Jesus na sua causa’. É assim”, revela.

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Para tentar arrebanhar mais ovelhas, o regulamento também permite a inscrição de três atletas não-evangélicos por time. Situação que, segundo o pastor Oziel, já atraiu vários jovens para as igrejas evangélicas, mas que também já rendeu histórias engraçadas.

“Certa vez, eu vi um garoto esquentadinho e jogando com violência. Fui perguntar ao pastor da outra igreja se ele o conhecia e recebi uma resposta sincera: “Pastor Oziel, me desculpe, mas ele se converteu ontem. Ainda está em fase de adaptação”, conta.

Os pastores Matheus Pompeu%2C à esquerda%2C Claudinei Oliveira e Oziel Nascimento divulgam o futebol entre a garotadaDaniel Castelo Branco

O pastor também confessa que fica sem jeito com as gírias do futebol: “Quando gritam: Ladrão! Ladrão! Eu logo penso: ‘Meu Deus, aqui não tem isso não!’. Carniceiro e Matador, então, nem pensar. Brincadeiras à parte, são coisas que acabam saindo naturalmente no jogo, não é pecado. Pecado mesmo é perder um gol feito”, brinca o pastor.

Segundo o organizador do campeonato, Claudinei Oliveira, a final deste ano promete ser pomposa. Além da presença de autoridades locais, haverá a execução dos hinos Nacional e de Queimados, um pequeno desfile em carro aberto pelas ruas do bairro da igreja e ainda uma ajuda para financiar um churrasco. Regado a guaraná, é claro.