Rio - “Uh, uh, uh, o negão chegou! Uh, uh, uh, o negão chegou!” Com esta divertida vinheta, o radialista Luiz Fumanchu abre todas as manhãs seu programa na Rádio Cultura FM, de Castelo, na região sul do Espírito Santo. Desde que deixou o futebol, o ex-ponta-direita de Vasco e Fluminense na década de 1970 tenta matar a saudade da bola sendo o maior craque da latinha na cidade onde nasceu.
“Há dezoito anos comando o programa Cultura Esporte no qual falo sobre o mundo do futebol. Dez minutos são voltados para a parte social. Ajudamos pessoas carentes pedindo remédios, cadeiras de rodas ou chamando a atenção das autoridades para os problemas da comunidade. Somos um esteio social”, garante “o internacional sabe tudo”, como Luiz Fumanchu é conhecido na rádio. Uma referência aos tempos em que jogou fora do Brasil.
Em 1979, logo depois de deixar o Fluminense, o atacante se aventurou pelo México, onde vestiu a camisa amarela do América. E no fim da carreira, em 1985, atuou pelo desconhecido Deportivo Guabirá, da Segunda Divisão da Bolívia, onde pendurou as chuteiras. Mas, em três décadas no futebol, o nome que virou sobrenome e marca registrada é Fumanchu. Ou alguém o conhece Jorge Luiz da Silva?
“Ganhei o apelido no Vasco, depois de assistir a um filme de caratê no Largo da Cancela, em São Cristóvão. Gostei tanto que voltei a pé para São Januário dando pontapés e golpes na rua e me apelidaram. Mas zanguei e foi aí que pegou mesmo”, lembra o velho atacante: “Hoje agradeço, pois meu nome de batismo é comum. Se não fosse Fumanchu talvez não seria conhecido como sou até hoje”.
Até chegar a São Januário, onde fez boa dupla com Roberto Dinamite e foi campeão carioca em 1977, o apelido de Fumanchu era outro: “Pito". Um dos 11 filhos da dona de casa Jacira e do sapateiro Corinto, ele ganhou o apelido por ser bom vendedor de pirulito.
“Venho de família humilde. Com 10 anos, minha vida era engraxar, vender pirulito na escola e jogar pelada à tarde. Foi nessa época que ganhei o apelido de Pito, pois era bom vendedor. Ai se não fosse. Se vendesse dez reais tinha que voltar com dez reais, senão o pau comia. Mas tenho muito orgulho dos meus pais, não deve ter sido fácil criar 11 filhos”, diz.
A habilidade para lidar com o público não foi o único talento herdado da família. Assim como o pai Corinto e os irmãos Sérgio Roberto e Corinto Filho, com 13 anos Pito já era o bambambã dos campinhos de Castelo.
“Um dia, meu irmão Sergio Roberto, que jogava no Flu, perguntou se eu queria fazer um teste nas Laranjeiras. Em meia hora já estava com a tralha pronta para ir para o Rio. Tinha que cair no mundo para tentar a sorte e melhorar de vida”, afirma.
Mas nem tudo saiu como o esperado. Após ser reprovado pelo técnico Pinheiro no Flu seu destino foi São Januário.
“Meu melhor momento no Vasco foi na conquista da Taça Guanabara e no Carioca de 1977, jogando com o Dinamite, o Mazaropi. Já era um jogador moderno, corria pelas pontas e entrava pelo meio fazendo também o papel de centroavante”, diz Fumanchu, que também fez muitos gols no Santa Cruz, em 1975. Naquela época, o time pernambucano foi semifinalista do Brasileiro graças ao talento de um trio de ouro formado por Pio, Ramon e Fumanchu.
“Aquele time era muito bom. Merecíamos ter sido finalistas, mas perdemos para o Cruzeiro com um gol irregular. Foi uma pena”, lamenta.
Em 1978, ele chegou ao Fluminense com o amigo Nunes. Mesmo não sendo centroavante, marcou muitos gols: 47 em 66 jogos.
“O time era sensacional, tinha Doval, Nunes, Gil, Pintinho. Só tenho boas lembranças”.
Das Laranjeiras para o América do México foi um pulo.
“Recebia 1.200 dólares, era um bom salário. Mas não dava para comprar um carro com um mês de salário, como hoje. Tinha que juntar e pagar em até 24 vezes”, lembra o ex-jogador que só teve uma grande tristeza na carreira: “O Cláudio Coutinho (técnico) não me levou para a Copa de 1978. Não sei se houve discriminação por ser do Nordeste, mas depois ele me levou para a Gávea. Deve ter me dado uma colher de chá por não me levar para o Mundial”.