Por edsel.britto

São Paulo - "Muito corrida". Foi essa a maneira que Duda Amorim encontrou para classificar ao iG Esporte como tem sido sua vida desde o início da tarde de quarta-feira, quando recebeu a notícia de que foi eleita amelhor jogadora de handebol do mundo.

"Tudo está uma loucura. A imprensa vem me procurando mais, minhas amigas querem me parabenizar, muita gente deixou mensagem no Facebook. Está tudo muito corrido. Ainda não respondi todo mundo, mas devagar eu chego lá. Tem sido um momento muito legal, bem importante para o crescimento do handebol por aqui", afirmou a atleta de 28 anos, natural de Blumenau (SC).

Duda Amorim foi eleita a melhor jogadora de handebol do mundo em 2014Divulgação

Quando fala no desenvolvimento da modalidade no país, Duda sabe que outros feitos anteriores também contribuem. Há dois anos, quem ganhou o prêmio de melhor jogadora do planeta foi a paulista Alexandra Nascimento. Neste intervalo de tempo, as duas lideraram a seleção ao título do Mundial de 2013, na Sérvia.

"Cada vez que um brasileiro se destaca, a atenção costuma ir para cima da respectiva modalidade", observou. "Espero que consigamos atrair cada vez mais admiradores, gente inspirada a continuar lutando pelo handebol, e servir de exemplo, ajudando a mostrar que não é só o futebol que dá certo por aqui. Tomara que a liga brasileira consiga ter mais atletas em ação e que vá melhorando aos poucos. De qualquer maneira, são passos lentos em direção ao crescimento."

É um processo que realmente ainda tem muitas etapas pela frente. Logo após a conquista do Mundial na Sérvia, o dinamarquês Morten Soubak, técnico da seleção brasileira feminina, cobrou um melhor planejamento por parte de quem comanda o esporte no país, para que seja possível não depender das ligas europeias para formar as jogadoras de alto nível para as gerações futuras. Foi esse o caminho que as atletas comandadas por ele se viram obrigadas a seguir. "Aprendemos muito lá, por isso acredito que estamos hoje neste patamar", opinou Duda, que defende o Gyori, da Hungria -- bicampeão da Liga dos Campeões em 2014.

Até por isso, Soubak iniciou após o Mundial uma renovação, convocando um grupo formado praticamente só de jogadoras que atuam dentro do país para amistosos. Para Duda, quanto mais cedo essas jovens forem integradas a uma equipe vencedora, melhor. "Assim elas aprendem o que precisa ser feito para se chegar ao topo e conquistar uma medalha, adquirindo a experiência necessária para continuar o nosso trabalho", observou.

Mas ela considera que o fortalecimento da Liga Nacional Feminina de Handebol deixaria essa renovação em condições muito mais favoráveis. "Não está no patamar que deveria. As jogadoras que surgem ainda precisam ir para a Europa em busca do melhor nível. Por outro lado, sei que temos trabalho de base em Blumenau, um centro de treinamento e algumas outras coisas bem pensadas. Espero que isso tudo dê um bom resultado no futuro, apesar do nível da liga."

Questionada sobre os motivos pelos quais a competição dentro do país ainda deixa a desejar, Duda foi direta. "Falta mais apoio aos clubes", respondeu. "Há pouco patrocínio à disposição deles, que ficam impossibilitados de investir nas atletas. Muitas largam o handebol antes mesmo de chegarem à categoria adulta. Um apoio maior daria mais investimento, que permitiria a construção de times melhores, que aumentariam o nível da liga. São passos pequenos que precisam ser dados. Acredito que as coisas estão no caminho certo. Mas, enquanto isso, os talentos que surgirem precisam ir para a Europa."

Duda Amorim em ação pela Seleção brasileira de HandebolDivulgação

Recuperação

Durante uma partida com a seleção brasileira em novembro, Duda rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Foi submetida a uma cirurgia e agora trabalha para resgatar a condição física ideal. A expectativa dela é estar pronta para voltar a jogar entre junho e julho.

"O Pan de Toronto é uma dúvida para mim", admitiu a melhor jogadora do planeta, referindo-se ao evento que será realizado entre os dias 10 e 26 de julho. "Preciso ver se estarei pronta até lá e se o Morten vai achar que deve me levar. Mas o foco principal é no Mundial, que acontece em dezembro e é bem mais importante."

Dá para esperar uma repetição do que aconteceu na edição de 2013? "É difícil, o nível é muito alto no handebol feminino", respondeu. "Há pelo menos quatro países que podem ganhar, mas nosso nome está lá no meio. Não estamos sozinhas entre as favoritas, mas defenderemos bem o nosso título. As pessoas podem esperar que vamos dar tudo dentro de quadra para conseguir vencer mais uma vez", finalizou.

*Reportagem de Luís Araújo

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