Por bernardo.argento

Rio - Um imponente obelisco, com vista deslumbrante para o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão, na Baía de Guanabara, delimita o local onde o navegador Estácio de Sá desembarcou, há 450 anos, para fundar uma das mais belas metrópoles do planeta. O marco também separa simbolicamente Flamengo e Botafogo, dois dos mais tradicionais bairros do Rio de Janeiro.

Para celebrar o aniversário de uma cidade que respira futebol, o ‘Ataque’ reuniu uma dupla de goleiros que conhece como poucos os segredos do clássico que se repete hoje, às 16h, no Maracanã, pelo Campeonato Carioca. O rubro-negro Fernando Botelho, o Fernandinho, que vai completar amanhã 102 anos, e o alvinegro Adalberto Martins, 84 anos, são testemunhas da história viva do futebol e da cidade.

“Nasci no ano (1913) em que colocaram os cabos que levam o Bondinho ao morro do Pão de Açúcar. Vi a construção do Copacabana Palace, cansei de jogar no Cassino da Urca e ainda fui o primeiro goleiro profissional do Flamengo. Não tenho do que reclamar. O Rio de Janeiro é o melhor lugar do mundo”, diz, exultante, o centenário ex-goleiro do Flamengo.

Ex-goleiros Adalberto e Fernando%2C torcedores de Botafogo e Flamengo%2C respectivamente%2C se preparam para assistir o clássicoMárcio Mercante

Apesar da idade avançada, Fernandinho mantém vivas as lembranças de sua carreira — foram 62 jogos, dois contra o Botafogo. “Teve um 0 a 0 e um 2 a 2. O importante é que nunca perdi. Mas Flamengo e Botafogo é sempre um jogão, e vamos ganhar”, diz, em tom de provocação ao colega alvinegro.

Adalberto não se fez de rogado. “Nas vezes em que enfrentei o Flamengo, o máximo que conseguiram foi o empate. Nunca perdi. Era jogo bom de se jogar, pois se ganhava, ganhava do Flamengo e, se perdia, perdia do Flamengo”, brinca Adalberto.

APAIXONADOS PELO RIO

Um dos jogos contra o Flamengo que não saem da cabeça do ex-camisa 1 do Botafogo foi um 1 a 1, na campanha que culminou na conquista do Carioca de 1957, o primeiro título alvinegro da era Maracanã.

“Fui o melhor em campo, peguei tudo. O Dida (lendário artilheiro do Flamengo) virou para mim e reclamou: ‘Não vai entrar nada, Adalberto?’ E eu: ‘Não vai, não.’ No fim, fomos campeões”, relembra o goleiro paulistano, que chegou ao Rio com 5 anos e caiu de amores pela cidade.

“Eu já viajei o mundo e não tem lugar mais bonito que o Rio, com o clima tão bom e aconchegante, apesar dos problemas”, garante.

Paixão plenamente compartilhada com Fernandinho, que curtiu como poucos, ao longo de um século, a beleza da cidade. Ele conta ter sido um dos primeiros surfistas de Copacabana, e lembra que não saía por nada das matinês do badalado Cine Rian, ponto de encontro da juventude.

“Comecei a surfar com uns amigos em frente ao Rian (cinema). Na época, a gente usava pranchas de madeira. Era bom nadador, mas meio atrevido. Também gostava de dançar tango, foxtrot”, revela o incorrigível pé de valsa, sem esconder o saudosismo.

Já Adalberto era a discrição em pessoa. Fugia das noitadas, mas compartilhava com Fernandino a paixão pelas mulheres: “Nunca fui da noite. Não frequentava boates, não dançava, mas era namorador.”

Fim do encontro e a dupla se despede fazendo juras de amor à Cidade Maravilhosa. Afinal, como não amar o Rio de Janeiro?

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