Por victor.abreu
Falcão defende o Sorocaba/Brasil Kirin na Liga Nacional de FutsalReprodução Instragram

Rio - Alessandro Rosa Vieira, mais conhecido como Falcão, é sem dúvidas o Rei do Futsal. O jogador é o principal nome do esporte e um ícone nas quadras brasileira para os jovens. Dribles e gols não resumem este gênio da bola. Hoje, aos 37 anos, o camisa 12 está disputando a sua 20ª edição da Liga Nacional de Futsal. Com o Sorocaba/Brasil Kirin, ele vai em busca do 10º título da competição na carreira. Nos bastidores, o craque lidera um movimento chamado “Futsal Limpo e para Todos”, composto por atletas que estão insatisfeitos com a nova direção da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS). O grupo cobra a saída dos cartolas e uma gestão mais profissional e competente. Os problemas do salão vão além da Cidade Maravilhosa, como mostra o quarto capítulo da série O Salão do Rio.

"O resultado satisfatório para o nosso movimento seria que as pessoas que estão lá (na confederação) saíssem. Eles (dirigentes) dizem que foram em tal lugar e que a reunião foi fantástica e quando procuramos saber o que foi conversado descobrimos que não teve nada de mais, só fotos. Eles têm de entender que jogadores e comissão técnica eles não vão ter na Seleção. Ninguém da confederação está nos procurando para conversar. Estamos nas mãos de pessoas despreparadas. Os jogadores não vão jogar enquanto eles estiverem lá. Não concordamos com essas aliança que foi feita. Nosso movimento não é em benefício dos jogadores, é pelo esporte", disse Falcão, ao DIA.

A CBFS está com uma dívida de mais de R$ 6 milhões, sendo que a Seleção teve diversas premiações e patrocínios até o ano passado. O ex-presidente da Federação Mineira, Marcos Madeira, foi eleito presidente da CBFS, no dia 31 de março, em chapa única. Este desfecho só foi possível por meio de um acordo entre a diretoria da situação, que estava no poder havia 35 anos, e a oposição, liderada por Madeira. Este elo deixou irritado o movimento de jogadores de futsal, liderados por Falcão. Para os atletas, uma aproximação com a CBF é uma possível saída desta crise. Legalmente, é ela quem deve gerir a modalidade. Segundo Falcão, o Brasil é o único país no qual o futsal não é controlado pela entidade do futebol de campo. Mesmo no olho do furacão, a Seleção foi eleita a melhor do mundo em 2014 no Annual Futsal Awards.

Jogador é um dos líderes do movimento contra o atual presidente da CBFSCarlos Moraes

"O futsal é um esporte que tem chancela da CBF. A CBFS não é reconhecida pela Fifa e a gestão deles só existe por conta de um acordo de cavalheiros feito há mais de 35 anos. Nossa intenção era que a CBF puxasse o futsal para uma gestão que nós (atletas) indicássemos e aprovássemos. Essa seria uma possibilidade. Mas nós vamos esperar. Como equipe, eu fico feliz por termos sido eleitos como Melhor Seleção de 2014. Pelo que fizemos dentro da quadra foi o certo. Mas se fosse uma eleição como gestão, nós não estaríamos nem entre as 100 maiores. Quando entramos em quadra para defender o Brasil, damos o nosso melhor e fazemos tudo o que podemos", revelou Falcão.

Falcão%2C Vander Carioca e André%2C ex-jogadores do RJ/MiécimoDaniela Conti / Arquivo O Dia

Quando o assunto é o cenário do futsal carioca, Falcão lamenta o enfraquecimento da cidade e aponta para o crescimento do Futebol 7, modalidade praticada em campos de grama sintética. O atleta faz parte do time de F7 do Vasco e também já jogou pelo Madureira. No salão do Rio, o camisa 12 teve uma curta passagem e defendeu dois times: o RJ/Miécimo (equipe montada pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer na gestão do prefeito Luiz Paulo Conde) e o Iate/Kaiser (time oriundo da parceria entre o Iate Clube Jardim Guanabara e uma cervejaria), ambas equipes foram geridas pelo ex-secretário da prefeitura, José Moraes.

"É preocupante esse cenário (de enfraquecimento do futsal carioca), mas não é de agora. Isso já tem um tempo. O Rio, de vez em quando, entra com um time (na Liga Futsal), mas não mantém o projeto. Vejo no Futebol 7 vários jogadores do futsal atuando. O futsal do Rio vive uma situação caótica. No Rio, a grama sintética já tomou conta. A nível nacional, tem muita coisa para acontecer no F7 para conseguir desbancar o futsal. Na TV nós estamos com maior carga horária, perdendo só para o futebol, isso é um sinal da força que o futsal ainda tem", comentou o atleta.

Ciente da dificuldade que é colocar e manter um clube na Liga Futsal, Falcão pede cautela e planejamento aos clubes novatos que queiram ingressar na competição. Em 2015, apenas dois participantes usam o nome de clubes do futebol de campo: Corinthians e São Paulo. No passado, a nível nacional, Botafogo, Vasco, Flamengo, Atlético-MG, Internacional, Santos e Palmeiras montaram equipes para jogar a liga principal.

"O Corinthians é um exemplo de clube que tem seus patrocinadores e apoiadores, mas a direção não deixa o futsal fora do planejamento de orçamento. A gente espera que outras equipes grandes se abram e façam o mesmo pelo futsal. Hoje o patrocínio é tudo. O basquete, futsal e vôlei são totalmente dependentes dele. É o modelo que mais funciona no país. A Brasil Kirin enxergou isso e já estamos colhendo os resultados desse trabalho. O nosso vôlei bateu na trave, mas conseguimos o título da Liga Futsal do ano passado. Os esportes são totalmente dependentes deles (patrocinadores). Falando aqui do nosso caso, este processo já nasceu sendo um sucesso", disse o jogador.

Dribles e gols de Falcão fazem dele uma referência no futsalEfe

Maioria no Rio de Janeiro, os clubes de bairros vivem com dificuldades. Em meio a dívidas e problemas para gerar uma grande arrecadação de renda, o afastamento das equipes de esportes vira uma solução para reduzir os gastos anuais. Falcão está ciente das mazelas que estas agremiações enfrentam mês após mês e não consegue projetar um futuro melhor para elas.

“Se for esperar o apoio de federação e confederação, o clube está morto. O esporte depende de empresas. É complicado para esses clubes menores com associados sobreviverem. A gente sabe que hoje qualquer condomínio tem uma quadrinha, com piscina e churrasqueira, isso acaba afastando os sócios. Investir em um clube de ponta também é complicado. Só de logística são mais de R$ 700 mil na Liga Futsal, fora contrato de jogadores, hotel, comissão técnica e todos os outros gastos. Então, quem quiser se aventurar, tem que tomar cuidado porque não é fácil”, concluiu.

Quatro vezes eleito melhor jogador do mundo de futsal, Falcão já conquistou pela seleção brasileira: dois Mundiais, oito Grand Prix, cinco Copas Américas, ouro nos Jogos Pan-americanos, Sul-Americano, Mundialito, Copa das Nações, entre outros de menor expressão. Em clubes, além de 11 estaduais, são cinco Superligas, sete Taças Brasil, nove Ligas Futsal e sete Libertadores.

Reportagem de Victor Abreu

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