Por edsel.britto

Rio - Na contramão do sonho da maioria dos jovens jogadores que almejam um futuro no futebol europeu e na seleção brasileira, Caio prefere pensar na família e seguir um caminho alternativo. Aos 24 anos e com experiência em grandes clubes do Brasil, como Botafogo e Internacional, o atacante quer seguir o exemplo de Emerson Sheik e conquistar a tão famosa independência financeira jogando pelo Al Wasl, dos Emirados Árabes Unidos.

Nos Emirados Árabes%2C Caio vive a melhor fase dentro de campo e não tem planos de sair do Oriente MédioDivulgação

Destaque da equipe árabe com 22 gols em 31 jogos nesta temporada, o jogador, natural de Volta Redonda, consegue driblar a saudade do Brasil pensando em proporcionar uma vida confortável a seus familiares. Adaptado ao Oriente Médio, ele não vê motivos para mudar o atual panorama.

“De coração, não penso e nem vejo motivo em jogar na Europa ou voltar para o Brasil, apesar de ter contrato com o Inter até 2018. Sou feliz aqui e penso muito no futuro da minha família. Eles dependem de mim. Quando tive a proposta, não pensei duas vezes antes de aceitar. Sempre quis sair do Brasil e fazer minha independência financeira. Quem sabe eu consiga imitar o Sheik e só volte aliviado e resolvido financeiramente. Quanto à Seleção, sou realista e sei que atuando aqui minha chance é quase zero”, afirma.

Caio mora há menos de um ano nos Emirados Árabes Unidos e garante não ter enfrentado muitas dificuldades para se sentir em casa. A única barreira que ele ainda não conseguiu transpor é a das altas temperaturas.

“Aqui o normal é 45 graus, é um calor infernal, não dá nem para respirar direito. Fora isso, a adaptação foi muito fácil. Todo mundo fala inglês e eu tenho fluência no idioma. Não tive nenhuma dificuldade dentro ou fora de campo”, explica.

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Adaptação ao novo país

Assim que apareceu a proposta, eu já abracei. Eu sempre quis sair do Brasil e financeiramente a proposta pesou muito. Minha família depende muito de mim. Tem gente que sofre mesmo com a adaptação. O Everton Ribeiro, que está jogando por aqui também, está tendo dificuldades. Já no meu caso, eu cheguei e logo me encaixei no time. Comecei a fazer gols, já virei artilheiro do time e estou em segundo na artilharia do Campeonato Nacional.  A única coisa que me assustou foram alguns costumes. A rapaziada come com a mão, é meio estranho pra mim, mas fora isso, nada demais. Dentro de campo tudo deu certo desde o primeiro treino. Os costumes deles eu já estou me acostumando também.

Calor e diferença física

A nossa equipe tem treinado muito mais tarde para não sentir tanto as altas temperaturas. Se fosse para treinar às 18h, 19h, seria impossível. Aqui tem que estar sempre se hidratando durante o dia, nos treinos e nos jogos. Sempre tem gente sofrendo com cãibras. Nas partidas, tem muita gente já cansando no primeiro tempo, mas é necessária a adaptação nesta situação para poder se ajudar a equipe. Aqui eles apostam e dependem muito dos estrangeiros.

Caio vive grande fase no Al Wasl com 22 gols em 31 jogos%2C além de ser o capitão da equipeDivulgação

Encaixe na equipe e se acostumar ao idioma

Conseguir me adaptar sem grandes problemas. Morei nos Estados Unidos e falo o inglês fluente. Eu sabia que um dia isso iria me ajudar em alguma coisa e tem sido fundamental para que eu me encaixe bem aqui. Todo mundo fala mais o inglês mesmo. Assim que eu cheguei, o Jorginho de cara já me colocou de capitão. Em campo, não tem como comparar o estilo de jogo e a qualidade com o Brasil ou a Europa. Mas a Liga vem crescendo, só tem seis anos de existência e já tem vários jogadores internacionais de qualidade disputando o Campeonato. A tendência é evoluir bastante nos próximos anos com certeza.

Diferença entre a torcida árabe e a brasileira

Existe aquela cobrança, mas nem se compara com a pressão que tem no Brasil. Nosso clube é o que mais tem torcida no país. O nosso estádio está sempre cheio, para os padrões daqui, com cinco, sete mil pessoa. Pela grandeza do clube e o histórico da Liga, é muita coisa. É a equipe que mais tem fãs nos Emirados, então rola mesmo a cobrança, mas não é a mesma pressão de você jogar com 20,30,40 mil pessoas, mas até que eles conseguem fazer um barulho.

Caio ao lado de Fábio Lima e Éderson são responsáveis por 45 dos 51 gols do Al Wasl na temporadaReprodução Instagram

Parceria com Éderson e Fábio Lima

Tem sido muito fácil jogar ao lado deles. O Fábio veio do Atlético-GO e o Éderson do Atlético-PR, mas nos encaixamos muito rápido. Aqui eles não tem muita paciência com os estrangeiros e trocam logo se não der certo, mas no nosso caso foi diferente. Dos 51 gols do time no campeonato, 45 foram marcados por nós três. A gente até brinca aqui que tem o Tridente do Barcelona (Messi, Neymar e Suárez) e nós somos o do Oriente Médio. Temos mais gols que dez clubes da nossa liga, sete do Campeonato do Catar. A boa convivência entre nós fora de campo influência muito também nessa ótima fase.

É a sua melhor fase na carreira?

Já são 22 gols em 31 jogos né. Com certeza é a melhor fase sim. No Botafogo eu fui, fiz gols, fui campeão. Já no Figueirense foi uma passagem rápida, mas acabei fazendo nove gols por lá. No Inter eu tive um bom início, mas acabei tendo lesões. Aqui ainda não me machuquei e isso contribui para que eu tenha uma ótima sequência. Aqui tem muita qualidade e tem jogadores que sofrem até se adaptar, mas comigo foi diferente. Cheguei muito bem e todo jogo to conseguindo fazer o meu gol ou dar uma assistência.

Decisão de mudar para os Emirados Arábes

Assim que apareceu a proposta, eu não pensei duas vezes antes de abraçar. Financeiramente é muito bom mesmo, então eu pensei na minha família. Quando veio a chance, eu falei que queria ver como realmente é, encarar esse desafio. Sempre ouvi falar sobre Dubai, que a liga daqui é boa, o país tem uma boa estrutura e é aonde dá para fazer o pé de meia. Então não hesitei em aceitar.

Identificação com o Botafogo

Com certeza acompanho. É difícil falar estando longe, mas eu torci bastante para que o time não caísse. É um clube de massa, grande e eu não admito ver o Botafogo na Segunda Divisão por tudo que ele é. Torci bastante para que isso não acontecesse, mas infelizmente não deu. Nesse ano, o time começou bem e a campanha no Carioca mostrar que o trabalho está sendo feito de maneira diferente. Já conseguiu chegar a final e fez bons jogos quando ninguém acreditava no time. É uma equipe nova, vem se juntando e tem tudo para fazer um bom trabalho. Eles sempre terão minha torcida. Foi aonde me abriram as portas para o futebol e sempre estarei acompanhando, torcendo e mostrando o carinho que eu tenho.

Projeção para o Bota na Série B

Todo mundo diz que a série B é muito difícil. Quem acompanha sabe como é. São jogos complicados fora de casa, com campos ruins em alguns lugares e isso é sempre um desafio. O Botafogo tem time para voltar, não sei se como campeão, mas pelo que eu acompanho, o time tem essa pegada para garantir uma vaga de voltar ao lugar que lhe pertence.

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