Por jessica.rocha

Rio - Atual campeão mundial, Gabriel Medina, é considerado um dos fenômenos da nova geração do surfe. E, apesar da pouca idade, já sente a pressão de defender o título de melhor do mundo. Mesmo com as desconfianças, devido à má fase neste início de temporada, o que fez cair para a 19º posição no ranking, o surfista brasileiro sonha com vôos mais altos e faz planos.

Na coletiva em que foi eleito o embaixador do projeto Oi Galera, nesta quinta-feira, o paulista de Maresias mirou o bicampeonato e projetou a volta por cima já em Fiji, aonde ocorrerá a próxima etapa do Circuito Mundial de Surfe (WSL).

Gabriel Medina é apresentado como embaixador do projeto Oi GaleraErnesto Carriço / Agência O Dia

"Esse ano foi bem difícil, esse começo. Contaram algumas coisas que eu não esperava. Particularmente não consegui surfar desde que o ano começou. Se eu quero o bicampeonato eu tenho que ter calma, passar a me dedicar mais, treinar mais. Competição é assim, tem a vitória e a derrota, faz parte. Tenho que pensar positivo e eu quero ir bem. Fiji é um onda que gosto bastante, uma das minhas favoritas. Com certeza o bom resultado lá me favorece. Esse é o momento que não posso mais errar", afirmou o surfista. 

Apesar de ainda não ter ganho nenhuma etapa em 2015, Medina confessou que não vem repetido os feitos que o levaram ao topo. Focado em voltar a ser o número um, ele ressaltou que já está com saudade de subir ao pódio. 

"Ano passado foi bem estressante. Me dediquei, abri mão de várias coisas. Esse ano eu não relaxei totalmente, só não deixei de fazer minhas coisas. Mas, agora estou com saudade de ganhar. O meu pai é um cara que tá sempre do meu lado, que me ajuda bastante e a gente já conversou, queremos a mesma coisa. Vou me dedicar bastante agora para me dar bem em Fiji", acrescentou.

Atual campeão mundial não vive boa fase no Circuito Mundial de SurfeErnesto Carriço / Agência O Dia

Destaque no cenário atual do surfe, Medina é um dos astros do "Brazilian Storm", mais conhecido como "Tempestade Brasileira", formada por um elenco de surfistas brasileiros, que vem tirado a paz dos rivais no WSL.

"Claro que os gringos estão preocupados e sempre brincam com o Brazilian Storm. Eles sabem que estamos em uma boa fase. Isso assusta um pouco eles, porque antigamente eram os australianos e americanos que sempre eram os favoritos e estavam no topo. Mas, depois do ano passado, eles tomaram um susto. O respeito aumentou, não era como antes. Essa nova geração está impondo respeito, em todas essas baterias. Estamos ditando outro ritmo. Ritmo que antes eles que ditavam", disse

Questionado sobre a relação com os companheiros do temido elenco brasileiro, o atual campeão mundial fez questão de ressaltar a amizade entre eles, mas brincou que dentro do mar a coisa muda: "Sempre tentamos nos encontrar, a nossa relação é muita boa. Quando um sai da competição e o resto fica, tenta um ajudar o outro, com dicas. Enfim, somos amigos fora da água, dentro dela não (risos)".

Com a ascensão em Filipe Toledo, segundo colocado no ranking após a conquista na última etapa, realizada no Rio de Janeiro, e em Adriano de Souza, o Mineirinho, líder do WSL, Medina fez sua aposta e apontou os brasileiros como favoritos ao título mundial. 

"O Brasil tem muitas chances de ser campeão este ano. Filipinho está super bem, com duas vitórias. Se tudo continuar como está, com certeza será um brasileiro o campeão", finalizou o surfista.

Confira outros trechos da entrevista com Gabriel Medina:

Expectativa para o lançamento de livro e a criação do instituto

"Dentro da água a fase não está muito boa, mas depois do título, tive a chance de realizar alguns sonhos. O livro, o filme, está legal o projeto. E tem o instituto para 2016 e é o que eu mais queria. Lá onde eu moro tem muita molecada que surfa. No começo não tive oportunidade, eu não tinha prancha. Então agora que eu posso ajudar, vou retribuir o que o surfe meu deu. Enfim, tomara que dê tudo certo, que encontremos outros talentos e dar essa oportunidade que eu não tive".

Assédio feminino e vida amorosa

"Aumentou o assédio, nada mais justo. O surfe aumentou no Brasil, antes não era reconhecido como agora. Então, acaba aumentando os fãs. Namorar é complicado para mim, sempre tô viajando, por isso nem estou me arriscando".

Surfe como modalidade nas Olimpíadas

"Acho que vai ser bom para o esporte. Cada ano tá mais profissional, mais gente gostando do esporte. Com o surfe nas olimpíadas, é bom pro país. Sem contar que, o surfe iria ficar mais profissional, mais respeitado e seria uma honra. Meu sonho seria participar".

Ascensão do "Brazilian Storm"

"Acho legal ter mais brasileiros em destaque, assim a pressão não fica só em mim. Nunca imaginei que o surfe chegaria neste ponto. Minha expectativa é que, daqui para frente, metade da galera que estiver no topo seja brasileiro, e é provável que isto aconteça. O Brasil tem muitas chances de ser campeão este ano. Filipinho está super bem, com duas vitórias. Se tudo continuar como está, com certeza será um brasileiro o campeão".

Medina foi o primeiro surfista brasileiro a conquistar o título mundialASP

Kelly Slater como inspiração

"Kelly Slater você fica mais nervoso. Ele é uma lenda, nunca sabemos o que ele vai fazer na bateria. Ele dedicou a vida dele toda ao surfe. Acho que, por isso, está no mesmo nível que a gente. Ele se cuidou, mantém o mesmo nível, dá aereo, tem capacidade. É um cara que admiro bastante. Se eu quiser chegar com a idade que ele tem, com um nível assim, eu vou ter que me dedicar muito, me alimentar super bem , dormir cedo. É difícil se dedicar tanto tempo para um esporte, não sei se vou durar até os 43 anos".

Violência no Rio de Janeiro 

"Estava com muita vontade de morar no Rio, mas quando aparece essas coisas de violência (caso do médico esfaqueado na Lagoa), dá até desanimo. O instituto vai dar oportunidade para mudar a vida das crianças. Onde eu moro, tem amigos que não receberam oportunidades e acabaram indo para o mundo errado".

Planos para depois da carreira

?"Não sei como estarei ate lá, mas quero continuar com o instituto, ajudando, passando o que aprendi ao longo da minha vida com o surfe".

Reportagem de Jéssica Rocha e Ulisses Valentim.

Você pode gostar