Rio - Campeãs mundiais de iatismo na classe 49erFX e esperança de medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze herdaram dos pais a paixão de desbravar o mar. Amantes da natureza, a dupla já imagina em qual porto seguro poderá ancorar quando o esporte se transformar apenas em puro prazer. Não por acaso, as meninas escolheram a Engenharia Ambiental, uma carreira na qual é possível minimizar o impacto de grandes obras no meio ambiente.
“Eu me preocupo muito com o futuro do planeta e a natureza tem uma função essencial em nossa vida. Não sei ainda o que poderia fazer, mas gostaria de algo para melhorar o mundo”, conta Martine, que passou no vestibular na Universidade Federal Fluminense (UFF), mas trancou o curso por causa das competições.
A parceira Kahena Kunze foi mais longe e chegou a cursar até o 8º período de Engenharia Ambiental na PUC-RJ, mas também trancou a faculdade: “Eu me preocupo em cuidar e preservar a natureza. Não sei ainda como trabalharia com a Engenharia, mas seria algo em prol da natureza”, afirma a velejadora de 24 anos.
Se ainda é difícil decidir em que área futuramente poderão atuar, no dia a dia a preocupação com a preservação do meio ambiente está presente nas mínimas coisas. Nada mais natural para quem cresceu na proa de um veleiro e aprendeu que no mar menos é mais, sempre.
“Usamos somente o necessário. No barco você tem que aproveitar cada espaço, priorizar coisas importantes. Já estou acostumada a abrir a torneira e fechar para escovar os dentes, a desligar o tempo todo as luzes, para aproveitar ao máximo a bateria”, ensina Martine.
Apesar de ser bem jovem, a velejadora demonstra muita maturidade ao criticar a era do consumismo: “Vivemos em um grande exagero, a gente gasta muito os recursos e joga fora, não reaproveita. Às vezes, é por falta de conhecimento, hábitos. Deveríamos reconsiderar essas ações, repensar tudo o que fazemos no dia a dia”, argumenta a herdeira de Torben Grael, dono de cinco medalhas olímpicas.
Martine aprendeu a amar o esporte ainda no ventre da mãe, que velejou até os sete meses de gravidez. Com Kahena não foi diferente. Com o pai, Claudio Kunze, campeão mundial júnior da classe Pinguim em 1973, ela aprendeu a velejar ainda criança na Represa de Guarapiranga, em São Paulo. E da mãe ganhou o nome incomum de uma guerreira, que amava a natureza.
“Minha mãe teve uma gravidez complicada e queria me dar um nome forte. Na época, ela leu um livro de uma guerreira que vivia nos Montes Urais (Rússia) e que lutava para defender sua tribo. Eu me identifiquei muito. Você precisa ser guerreira para velejar. A gente passa por situações muito difíceis, tanto física quanto psicologicamente”, argumenta.
Com DNA vencedor, a dupla espera brilhar nos Jogos do Rio, em 2016, mirando-se no exemplo da dupla Isabel Swan e Fernanda Oliveira, que conquistou a primeira medalha olímpica na história da vela feminina no Brasil, um bronze em Pequim (2008), na classe 470.
“Eu lembro que fiquei arrepiada ao ver as duas no barco, na capa do jornal”, lembra Kahena. A parceira também nunca esqueceu aquele feito: “Foi uma grande conquista da vela feminina. Até hoje é difícil encontrar meninas na vela. É preciso ser um pouco fora da caixa.”
Na sexta-feira, a dupla deu mais um exemplo de que é forte candidata à medalha olímpica na Rio-2016, conquistando o evento-teste na Baía de Guanabara. Uma prova de que estão sabendo administrar a pressão de competir em casa.
“A gente não depende cem por cento de nossas qualidades, do que treinou. Às vezes, depende da natureza. Sou completamente despreocupada, pois isso não me traria nada de bom”, ressalta Martine. “Para mim, é pressão zero. Pelo contrário, só me ajuda a evoluir”, sentencia Kahena.